quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

ADOLESCÊNCIA NA FAZENDA SANTA FÉ


Enquanto fazia um passeio recentemente no sítio de um amigo, espetando o pé num monte de espinhos, pisando em bosta de boi, e fugindo de gansos bravios, foi que alguns fatos da adolescência vieram à tona. Uma época inesquecível na fazenda Santa Fé, onde, juntamente com um divertido amigo, vivenciei uma sequência de fatos pitorescos.

Certa vez, o referido colega veio com esta história:
- Serjão! Aprendi fazer um bronzeador pra levarmos na roça, que é TIRO E QUEDA. - continuando disse:
- É só misturar iodo com óleo pra bebê e ficar quarando no sol o dia todo.

E, realmente, foi um TIRO, pra literalmente não dizer também, quase uma QUEDA DE PELE. Deus que me livre! Fiquei escaldado e vermelho transpirando calor e ardendo como brasa por três dias seguidos. Por muito pouco, não fui parar no hospital, pois, ao invés de descascar, quase troquei de pele.

E falando em bronzeador, nosso desafio era ficar quarando debaixo do sol até que o último raio se escondesse naquelas montanhas dos núcleos. E esse era nosso principal objetivo, ou seja, ficar bronzeadaço para os flertes noturnos.  Devido ao forte calor e à tranquilidade reinante no lugar, gostávamos mesmo era de ficar bem à vontade. Foi quando, certa vez, meus tios vieram pedir que tivéssemos mais pudor, pois o caseiro, que morava com sua família numa casa ao lado, já havia reclamado. Confesso que não ligamos muito pro pedido, mas ficaríamos, daquele dia em diante, bem mais atentos a qualquer movimentação de pessoas, principalmente na possibilidade de sermos surpreendido com chegada repentina de alguém na fazenda.

E assim foi, até que, num momento de desatenção, quando estávamos relaxadamente de cuecas na varanda tentando pegar os últimos raios de sol, fomos surpreendidos com a chegada inesperada de minha saudosa tia. Mas já era tarde demais, pois, quando fomos perceber, ela simplesmente já estava a menos de dois metros de nós. No susto, consegui de maneira súbita ainda colocar em cima de mim uma pequena toalha que ficava sobre uma mesa, enquanto meu amigo, não tendo onde recorrer, agarrou- se a uma folha da parreira de uva que acabara de cair ao chão. Não sei se ria ou se chorava, pois meu colega, mais parecendo Adão no paraíso, não conseguia tapar um fio de cabelo sequer.

Sempre fomos fascinados por músicas, e como levar nossos violões seria um tanto incômodo, passávamos o dia inteiro escutando a rádio Mundial AM em um aparelho Transglobe que levamos conosco. Acho que deveria pesar uns dois quilos! Mas valia muito a pena, principalmente quando íamos traçar aquele pão com queijo acompanhado de um lambarizinho frito.

Por sinal, pescávamos alguns desses pequenos peixes com “alto grau de dificuldades”, pois a água do córrego era tão rasa, mansa e límpida, que chegávamos a colocar a isca diretamente em suas bocas.

Certa vez, tivemos que sair correndo pelos pastos descalços, e subir uma colina de cuecas pra fugir das vacas. Fomos parar numa plantação de juá pulando que nem cabrito por causa dos espinhos.  E elas, as vacas, não estavam nem aí pra gente. Logo depois, pisaríamos numa cobra “perigosíssima” (cobra d água) que estava na margem do riacho. Enquanto corríamos apavorados para um lado, a cobra, ainda mais assustada, corria pro outro.

Teve um dia que fizemos farofa com um torresmo “vencido” e comemos tudo com suco de limão. Voltamos depois pra quarar no sol e, no outro dia, apareceu em meu rosto um monte de “perebas” Até na orelha tinha. Fiquei um monstro!

Numa dessas idas à roça, chegamos a cochilar sentados dentro de um riacho que ficava à sombra de uma jabuticabeira. Por sinal, um belo riacho que descia morro abaixo pra levar água até uma horta. Naquele dia, sem que percebêssemos, muitas folhas e grande acúmulo de água começariam a ficar represados um pouco acima, exatamente onde se encontrava sentado meu amigo. Sem que notássemos, enquanto se formava atrás dele uma represa pra dar inveja a muita Itaipu, a pressão da água só ia aumentando. Eu, enquanto isso, sentado um pouco abaixo, cochilava tranquilamente escutando o barulho das águas, do vento das folhas e o cantar dos pássaros. Tudo muito prazeroso até que meu amigo, resolveu, de repente, se levantar. Quando dei por mim, já estava sendo arrastado e lançado a quase dez metros riacho abaixo pra estacionar dentro de uma plantação de arroz! Uma incrível avalanche de galhos, restos de jabuticaba desceu detonando tudo que encontrava pela frente. Acordei de pernas pro alto, com folhas e barro da cabeça aos pés. Verdadeiro monstro da folhagem. Isso pra não falar que fiquei quase pelado de tanto arrastar a cueca no leito do riacho. Foi o meu primeiro tsunami!

E assim, depois de tomar um belo banho numa bica de água gelada e cristalina, víamos mais um dia ir embora, trazendo consigo o entardecer. Enquanto as criações começavam a procurar seus abrigos e o silêncio era quebrado apenas pelo compasso ritmado do carneiro d’água, sentíamos que, dali pra frente, apesar do cansaço, a Pracinha do Botafogo seria o nosso porto seguro.

Era o momento de juntar as tralhas, colocar o pé na estrada e torcer por uma boa carona.

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : disponível em 
http://www.teatroalfa.com.br/espetaculos/CAMINHO-DA-ROCA.

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