quarta-feira, 10 de agosto de 2016

UDSON E A ALFAIATARIA ITABORAHY


Semanas atrás, ao ver na Internet essa relíquia de fotografia do Udson em seu famoso e tradicional ateliê ali no calçadão, pensei na possibilidade de fazer uma postagem sobre ele aqui no Blog.

De imediato, manifestou-se o parceiro Jorge Marin ao saber de minha ideia: “Escreve sobre o Udson sim, porque aquela alfaiataria era um capítulo à parte na história de São João. Charme, elegância, música e política”.

Infelizmente, devido à diferença de idade, não tive o privilégio de conviver com essa grande figura por muito tempo, mas o suficiente para conhecer e poder atribuir-lhe todos os bons predicados: pai exemplar, profissional dedicado, músico em excelência e grande amigo.

Mas, foi em função desse detalhe, e de sua grande amizade com muitos dos frequentadores do local, que procurei de imediato entrar em contato com meu mano. Penso que não haveria pessoa melhor para me ajudar. E desta forma, tão bem me narrou:

“Udson foi uma das pessoas mais inteligentes que conheci, além de ser um
excelente ‘papo’. Não só inteligente, como de ótima cultura, sendo capaz de abordar qualquer assunto.                                                                                                                      

Era um voraz leitor de bons livros de ótimos autores. Após a leitura, discutia o assunto, mostrando capacidade de interpretação e de crítica.

Não tinha qualquer ranço fundamentalista, convivendo bem com qualquer pessoa, independentemente de religião, opinião política, tendência sexual etc. Era um grande e fiel amigo.

Possuía uma capacidade enorme de trabalho. Não largava a agulha nem mesmo quando conversava. Entendia muito de música e foi um ótimo tocador de contrabaixo.

Era considerado também um excelente alfaiate, talvez o melhor da cidade. Gostava de jogar baralho, e seus adversários diziam que tinha uma memória fabulosa, guardando as cartas que já haviam saído e deduzindo as que faltavam sair. Raramente errava.

Dava uma atenção toda especial ao Gentil Barroso, e nosso maior prazer era quando este aparecia na alfaiataria, sempre dizendo 'muito bem', 'muito bem', 'muito bem' e depois contava suas façanhas quixotescas, além de frases ótimas como ‘inglês é alemão feito nas coxas'.      
                                                                                                                                                  Devido ao fato de sua alfaiataria estar sempre cheia de amigos, bons papos, debates e discussões sempre aconteciam e, assim como seu pai e o irmão, também era botafoguense, mas detestava discussões futebolísticas.“

Udson Tamborim (era desta forma que a turma do Pitomba o tratava) nos deixou como herança uma bela família, por sinal, grandes amigos que, com muita dedicação, continuam à frente da tradicional ALFAIATARIA ITABORAHY.

Pra terminar, fico apenas imaginando, e isso ainda merecerá uma postagem à parte, dos muitos causos pitorescos que ali na alfaiataria teriam ocorrido. Ficará aberto o espaço.

Crônica: Serjão e Antônio Dárcio Missiaggia
Foto     : Facebook

2 comentários:

  1. Obrigado pela homenagem ao meu pai!
    Na verdade eu estava desenvolvendo um texto para domingo,graças a vocês o texto ficará para o ano que vem.
    Mesmo pequeno na mais tenra infância lembro-me da Alfaiataria sempre cheia de pessoas rodeando meu pai. Dos mais simples que lhe pediam favor e nunca o vi negar a nenhum até políticos,empresários amigos enfim de todo tipo.Sempre com jazz de primeiríssima qualidade ao fundo.
    E meu pai tratava a todos da mesma forma, o considero hoje olhando o passado um ser puramente ESTOICO, que é a forma mais cristã e humana de viver.
    Viemos ao mundo para ajudar ao próximo! Assim ele o fazia.
    Finalizando não há um dia sequer em minha vida que não me lembre dele.
    Foi ali o local que forjou meu caráter e meus valores que tento passar ao meu filho e que levo na minha vida.
    Mais uma vez obrigado tanto pela homenagem!

    Gratificado imensamente,

    Edwin Itaborahy

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    1. Edwin, há um valor que prezávamos antigamente, a capacidade de ouvir os outros, hoje fora de moda, que era praticado pelo seu pai todo o tempo. Às vezes, ele fazia cortes, talvez por vício da profissão, mas, apesar de ouvir, não deixava nunca que as aparências interferissem na sua vida, no seu solo, na sua paz. Era mesmo um estoico, como você bem definiu.

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