sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

PIOR DO QUE A DENGUE E A ZIKA


Quando a gente pensa que a coisa tá feia, aparece a tal de zika pra complicar a vida do povo! Mas (ainda) há coisas piores. E é isso que vamos mostrar, seguindo o curso da zika.

Domingo passado, recebemos um telefonema da minha cunhada dizendo que estava indo para um hospital do centro de Juiz de Fora pois estava com suspeita de zika.

- Pobre é fogo – comentei com a esposa – ela tinha que adoecer justo no domingo? – e lá fomos para a emergência do tal hospital.

Chegamos às nove e meia e a paciente lá estava, entre algumas dezenas de agraciados pelo Aedes Aegypti. Embora o setor fosse contemplado pelo plano de saúde daquela própria instituição, o cenário parecia um acampamento de guerra. Não pela quantidade de gente que, aos domingos, é sempre elevada. O que nos assustou era a total descoordenação dos funcionários.

Enfermeiros e enfermeiras passavam correndo pelos corredores e, apressados, iam a lugar nenhum. Na volta, ao passar pelas pessoas desesperadas com seus acompanhantes confusos, nada faziam, nem olhavam na cara.

A porta de um consultório entreaberta revelava um médico ao celular resolvendo uma emergência: parece que sua esposa havia tido um problema com o carro, e o nosso dedicado plantonista estava tentando conseguir um mecânico para atendê-la. Quando percebeu que participávamos do seu drama pessoal (não havia como não fazê-lo), empurrou a porta com o pé para não termos que nos solidarizar com o seu sofrimento.

Quatro horas depois, era grande a comoção, pois, da multidão, apenas dois haviam sido atendidos. Ao ouvir as reclamações, uma enfermeira chamada Cybelle falou para a colega, num tom que todos puderam ouvir:
- Isso é bom para eles aprenderem como as pessoas do SUS sofrem!

Enternecidos com a lição de moral socialista que havíamos recebido, mesmo tendo pagado em dia o carnê do plano de saúde, começamos a entender porque o porte de armas de fogo é proibido no Brasil desde 2003.

Chamada a atender um idoso que já estava naquele local sem atendimento desde as 8 da manhã, a mesma enfermeira proferiu outra pérola:
- Pior sou eu que estou aqui desde ontem e tive que dobrar o plantão.

Mas, o pior MESMO de tudo isso é que somos pacíficos. Ficamos ali até a noite, uma enfermeira perdeu a veia da minha cunhada ao colher sangue para um exame que (descobrimos mais tarde) era totalmente inadequado, doloroso e desnecessário. Até que resolvemos, doze horas depois, ir embora, sem diagnóstico, sem alimentação adequada e sem dignidade.

O médico saiu no final do plantão, a esposa veio buscá-lo no carro consertado (que bom!). O outro plantonista atrasou-se uns dez minutos. Mas, tão logo entrou no local onde estávamos, mostrou que estava bem desperto e sabia o que deveria fazer:
- Vou jantar – disse.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : disponível em http://www.revistainovacaohospitalar.com.br/cfm-proibe-medicos-de-fazerem-selfies-no-trabalho/

Um comentário:

  1. Só o talento e presença de espírito do Jorge para transformar uma situação irritante numa pérola de humor literário...

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