Quando a
gente pensa que a coisa tá feia, aparece a tal de zika pra complicar a vida do povo! Mas (ainda) há coisas piores. E é isso que vamos mostrar, seguindo o
curso da zika.
Domingo
passado, recebemos um telefonema da minha cunhada dizendo que estava indo para
um hospital do centro de Juiz de Fora pois estava com suspeita de zika.
- Pobre é
fogo – comentei com a esposa – ela tinha que adoecer justo no domingo? – e lá
fomos para a emergência do tal hospital.
Chegamos
às nove e meia e a paciente lá estava, entre algumas dezenas de agraciados pelo
Aedes Aegypti. Embora o setor fosse contemplado pelo plano de saúde daquela
própria instituição, o cenário parecia um acampamento de guerra. Não pela
quantidade de gente que, aos domingos, é sempre elevada. O que nos assustou era
a total descoordenação dos funcionários.
Enfermeiros
e enfermeiras passavam correndo pelos corredores e, apressados, iam a lugar
nenhum. Na volta, ao passar pelas pessoas desesperadas com seus acompanhantes
confusos, nada faziam, nem olhavam na cara.
A porta
de um consultório entreaberta revelava um médico ao celular resolvendo uma
emergência: parece que sua esposa havia tido um problema com o carro, e o nosso
dedicado plantonista estava tentando conseguir um mecânico para atendê-la. Quando
percebeu que participávamos do seu drama pessoal (não havia como não fazê-lo),
empurrou a porta com o pé para não termos que nos solidarizar com o seu
sofrimento.
Quatro
horas depois, era grande a comoção, pois, da multidão, apenas dois haviam sido
atendidos. Ao ouvir as reclamações, uma enfermeira chamada Cybelle falou para a
colega, num tom que todos puderam ouvir:
- Isso é
bom para eles aprenderem como as pessoas do SUS sofrem!
Enternecidos
com a lição de moral socialista que havíamos recebido, mesmo tendo pagado em
dia o carnê do plano de saúde, começamos a entender porque o porte de armas de
fogo é proibido no Brasil desde 2003.
Chamada a
atender um idoso que já estava naquele local sem atendimento desde as 8 da
manhã, a mesma enfermeira proferiu outra pérola:
- Pior
sou eu que estou aqui desde ontem e tive que dobrar o plantão.
Mas, o pior MESMO de
tudo isso é que somos pacíficos. Ficamos ali até a noite, uma enfermeira perdeu
a veia da minha cunhada ao colher sangue para um exame que (descobrimos mais
tarde) era totalmente inadequado, doloroso e desnecessário. Até que resolvemos,
doze horas depois, ir embora, sem diagnóstico, sem alimentação adequada e sem
dignidade.
O médico
saiu no final do plantão, a esposa veio buscá-lo no carro consertado (que bom!). O outro
plantonista atrasou-se uns dez minutos. Mas, tão logo entrou no local onde
estávamos, mostrou que estava bem desperto e sabia o que deveria fazer:
- Vou
jantar – disse.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://www.revistainovacaohospitalar.com.br/cfm-proibe-medicos-de-fazerem-selfies-no-trabalho/
Só o talento e presença de espírito do Jorge para transformar uma situação irritante numa pérola de humor literário...
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