sexta-feira, 7 de novembro de 2014

ODIAR


Há algumas semanas, o Serjão publicou aqui no BLOG uma crônica chamada AMAR que, na época, eu chamei de hino tal a qualidade do texto e a carga emocional do conteúdo. Trocando ideias com alguns leitores, classifiquei o trabalho de altamente subversivo.

Explico: nos dias atuais, vocês imaginam um jornal ou revista de grande circulação com uma manchete do tipo “aproveite a vida e viva feliz”? Ou “amigos músicos se encontram para tocar violão e cantar”? No entanto, “amigo é baleado por outro na saída da balada” é manchete na certa! Aliás, esta foi uma manchete da semana passada do jornal O Globo.

Então, o que é isso que acontece com a gente que faz com que AMOR não seja matéria de primeira página, e sim o ÓDIO? Para entender, tentem publicar, como nós fazemos, algumas postagens no Facebook, com a foto de alguma paisagem ou alguma cena romântica. O máximo que vão conseguir de comentários é um “legal”, ou “kkkkk”, essas coisas. No entanto, se publicarem algo do tipo “sou a favor da pena de morte no Brasil” ou “pela redução da idade penal”, qualquer uma das duas postagens terá, no mínimo, uns cinquenta comentários, a maioria deles irados. E mais: culpando alguém e dando lição de moral.

Isso acontece porque é muito mais fácil unir as pessoas através do ódio do que do amor. Jesus Cristo, quando foi submetido ao julgamento popular, foi, não apenas preterido na escolha com Barrabás, como agraciado com gritos e mais gritos de uma galera ensandecida dizendo: crucifica-o, crucifica-o!

No entanto, se perguntarem a nós, sanjoanenses de primeira hora, se há muito ódio na cidade, responderão: “imagina, somos um povo humilde, ordeiro, hospitaleiro e manso”. Ou seja, o ódio está sempre nos outros, lá no Rio, ou no Afeganistão.

Talvez essa dificuldade de aceitar o ódio, o nosso próprio ódio, aquele que irrompe quando uma pessoa passa na nossa frente na fila, ou quando um maluco nos dá uma fechada no trânsito, ou mesmo quando um motoqueiro detona o nosso espelho retrovisor, aí nessa hora dizemos que, absolutamente, somos criaturas isentas de ódio.

Mas, por que adoramos sentar horas em frente à televisão para assistir UFC, baixarias no BBB, ou grosserias nos programas de pegadinhas dito humorísticos? Sobre as preferências políticas, então, não vou nem me manifestar pois, como são 50 milhões de cada lado, vou passar num corredor polonês levando pancada por todo lado.

Esta crônica é apenas para nos lembrarmos disto: cada um de nós tem em si, além da alardeada e incensada capacidade de amar, também: ódio, raiva, inveja, ciúme e grosseria. Reconhecer isso não significa que se deva exercitar todas essas emoções. Mas é um exercício de humildade, de atenção, de paciência e de sabedoria.
Crônica: Jorge Marin

Foto     : Sigrun Hectorsdottir, disponível em

5 comentários:

  1. Muito boa e verdadeira sua crônica ODIAR. E.M.M. P.

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  2. Muito boa e verdadeira sua crônica : Odiar. Abraços! EMMP

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  3. Excelente! Temos mesmo muita dificuldade de aceitar em nós os sentimentos negativos que são tão humanos quanto o amor.
    Grande abraço!
    Sônia.

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  4. Tem muita gente que ama odiar (ou talvez odeiem amar)...
    Há motivos para que a felicidade alheia incomode, quando não nos prejudica?

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  5. Obrigado, gente! Essa coisa de encarar o ódio como um sentimento FORA de nós é um obstáculo à nossa capacidade inevitável de mudar o mundo. Ou seja, estando aqui não tem jeito de não mudar o mundo; então, vamos nos conhecer melhor!

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