sexta-feira, 22 de julho de 2011

A COISA

Frame do filme Basket Case

Capítulo 2 - A revelação

Como vimos na semana passada, alguma coisa muito estranha aconteceu com meu amigo, naquele domingo ensolarado de 1968. Como dizia minha vó: “por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento”. E ele havia ido lá dentro...
Daquela manhã em diante, ele nunca mais foi o mesmo. Pesadelos, cacoetes, tiques nervosos, discreta gagueira e até mesmo uma sensação de pânico ao entrar em banheiros estranhos passaram a atormentá-lo.
Na verdade, antes mesmo deste acontecimento, este meu colega era uma pessoa meio problemática. Fomos também da mesma série no grupo e, algumas vezes, chegamos a sentar na mesma carteira. Supertímido e desconfiado quando era requisitado pela professora, abaixava a cabeça e, vermelho como um tomate, mal esboçava uma palavra. Dava pena. Jamais poderia imaginar que o destino iria lhe aprontar, no futuro, uma boa peça. E tudo por causa de um simples pedido!
Pois o dia fatídico havia chegado.
E lá se foi meu colega.
Mal havia entrado e, rapidinho, já estava ele de volta. Nem um minuto havia transcorrido. Fiquei encucado. Normalmente, não daria nem para desabotoar as calças, muito menos ter feito alguma necessidade e, menos ainda, tornar a abotoar, imaginei.
Naquele tempo, quando íamos à missa, tínhamos o costume de usar calças compridas e elas vinham pelo menos com dois ou três botões. Não daria tempo mesmo.
Retornou com uma fisionomia bem distante daquilo que enquadraríamos como normal, principalmente pra quem acabara de dar uma boa aliviada na bexiga ou no que fosse.
Não dizia nada e, com um olhar meio disperso e apavorado, parecia querer me fazer entender alguma coisa.
Estava confuso. Aquela sua aparência carregada e pálida impedia que ele sequer sussurrasse uma única palavra.
O que tanto teria transformado o humor do meu colega? Começando a visualizar mil possibilidades, pensei em dar uma chegada dentro de casa e ver o que ele havia encontrado no banheiro. Ou vice versa!
Neste instante, outros colegas chegaram e ele, irredutível, não esboçava qualquer mudança de humor.
A coisa foi mesmo braba, pensei novamente. Mas, o que teria realmente acontecido?
Até então, nada me levava a qualquer tipo de desconfiança, a não ser quando, momentos antes de sua ida ao banheiro, no instante em que estávamos do lado de fora conversando, observei, com minha visão periférica, que uma senhora havia batido à porta da tia para uma visita. Por sinal, senhora esta que havia descido o morro da igreja logo atrás da gente. Posteriormente, fiquei sabendo que se tratava de uma pessoa muito amiga de minha tia e que esta rotina se repetia sempre depois dessa missa.
Era uma senhora viúva, estatura mediana, corpo volumoso e fisionomia fechada. Seu nome, apesar de me fugir agora da memória, não era muito comum. Diziam tratar-se de uma pessoa muito brava, mas, por outro lado, extremamente religiosa. Cantava no coro da igreja e, além de Filha de Maria, era também devota de São Expedito. Fora isso, nada mais que pudesse ser relevante.
Então, não aguentando tamanha curiosidade e já preocupado e receoso, procurei questioná-lo, perguntando:
- Entupiu a privada? Fez xixi no chão? Errou de porta e entrou em algum quarto?
- Depois te conto! Você nem vai acreditar! Tô indo embora! Mais tarde eu volto e te falo, respondeu, baixinho e trêmulo.
Aí, mais curioso, e até com certo medo, comecei também a ficar apreensivo.
Teria ele quebrado alguma coisa? Ou será que torceu demais a torneira e começou a vazar água pra todo lado? Deve estar tudo inundado, pensei. E insisti:
- Desembucha logo e trata de me contar o que aconteceu! Tá me deixando nervoso, cara!
- Promete contar a ninguém? Jura?
O que ele disse, eu quase não acreditei. E tenho certeza de que vocês também não irão acreditar, na semana que vem. Até lá...

(Crônica: Serjão Missiaggia)

Um comentário:

  1. Mas, o que será?
    O pior, Serjão, é que depois de saber da existência da dita senhora, minha criatividade também começou a funcionar... e eu já começo a imaginar mil finais para a sua estória. Portanto, aguardo sua versão com curiosidade fervilhante.
    Vai ferver?
    Beijos da MIka

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