Arte digital por Forever Zero Dragon
Amy Winehouse não vai mais para a reabilitação. Não, não e não. Com certeza. A esta altura, deve estar em algum dueto com a xará de sua mãe, Janis Joplin, outra grande intérprete também morta aos 27.
O comentário geral foi “finalmente”, ou “demorou”, ou, pior ainda, “ela pediu por isso”. A própria mãe, a tal dona Janis, afirmou à imprensa que “a morte dela era apenas uma questão de tempo.”
O curioso é que, se todo mundo sabia que ela ia acabar do jeito que acabou, por que é que ninguém fez nada? Nesses assuntos, normalmente somos muito moralistas e, se não se tratar de nenhum parente nosso, dizemos: ora, ela era maior, vacinada (até demais) e sabia muito bem o que estava fazendo, isto é, ela escolheu seu destino macabro.
Mas não é bem assim: Amy era uma pessoa doente e, como tal, precisava de tratamento. Se não o recebeu, um grande motivo, e meio paradoxal, é a sua fama e fortuna. Tem uma piada contada num filme de Woody Allen, em que uma família leva um de seus membros – que pensa ser um ganso - ao psicanalista, que o cura de seu delírio. Uma semana depois, a família volta desesperada perguntando como fazer para continuar mantendo o suprimento de ovos. O fato é que, na maioria das famílias, há normalmente, uma pessoa problemática que acaba por catalisar todas as neuroses familiares: ora é um pai alcoólatra, ou uma mãe depressiva, ou um caso, como esse, de filha dependente de drogas. Se, em casos normais, já é assim, imaginem no caso de uma celebridade! E celebridades não podem se dar ao luxo de parar. Em primeiro lugar, porque não podem estar fora da mídia, ainda que em reportagens sensacionalistas. Depois, porque muitas pessoas dependem delas, seja no trabalho, ou mesmo na própria família.
A lista é muito grande. Praticamente inexiste uma banda famosa, que não teve um representante morto por problema com drogas: Brian Jones, dos Rolling Stones; Syd Barret, do Pink Floyd; Jim Morrison, do The Doors; Gary Thain, do Uriah Heep; Pigpen, do Grateful Dead; Kurt Cobain do Nirvana, todos com menos de 27 anos (além da citada Janis Joplin, e mais Jimi Hendrix).
Se somarmos os atores, há nomes de peso, como: Marilyn Monroe, John Belushi, River Phoenix, Heath Ledger, Judy Garland, Elvis Presley, Montgomery Clift. E há muitos em stand by. Charlie Sheen que se cuide, pois, no alto dos seus 46 anos, parece estar fazendo hora extra.
Há casos em que prevaleceu o bom senso, como o ator Robert Downey Jr. que também tem 46 anos e, da mesma forma que Sheen, foi afastado de uma série de sucesso (Ally McBeal). Pressionado por uma série de escândalos e prisões, resolveu que tinha que dar um tempo. Parou por uns três anos e voltou para o papel do novo Homem de Ferro, além de uma indicação ao Oscar pelo filme Trovão Tropical que, curiosamente, perdeu para Heath Ledger que havia morrido de overdose. Quando falo em overdose, não estou falando só de drogas ilegais, mas também de barbitúricos e bebidas alcoólicas.
É interessante que, atualmente, vivemos a vida com muita avidez e velocidade e, quando entendemos que devemos parar, ou redirecionar nossas prioridades, geralmente deixamos para amanhã, para depois do Natal, ou para o ano que vem. O corpo se revolta, doi, tomamos remédios para as dores. Um órgão para, e nós operamos. Cansamos, e bebemos, e tomamos energéticos. E quando uma Amy Winehouse finalmente se acaba, dizemos: bem feito!
No CD novo da cantora, que se chama O Outro Lado de Amy Winehouse, há uma música, a última do CD 2, que se chama, curiosamente, Procrastinação e tem uma frase que diz: “Eu deveria pensar de forma clara e objetiva, mas tenho muitas coisas pra fazer.” Profecia? Ou constatação da realidade?
(Crônica: Jorge Marin)
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