Cartaz do filme
Depois de dez anos e sete filmes, chega ao fim a saga do bruxo Harry Potter, num final interessante e que acaba por nos fazer pensar: assim como os personagens, que, no primeiro filme, eram crianças – Daniel Radcliffe tinha onze anos – acabamos olhando para trás e vendo como as coisas, em nós e fora de nós, mudaram nesta última década. Se prestarmos atenção, vemos que nada, mas nada mesmo, teve início sem que uma outra coisa morresse.
Falo da “morte” de Harry Potter porque, segundo a autora do livro J. K. Rowling, não haverá uma sequência, embora a cena final deste “Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2” sugira o contrário, pois dá margem a uma continuação.
Como o filme está em cartaz, não vou, naturalmente, revelar os segredos do mesmo, deixando, aos que não viram, total liberdade para imaginar qualquer tipo de final, até mesmo que o Senhor das Trevas triunfou, o que não seria difícil de imaginar nos dias de hoje.
A morte está sempre presente no filme: as horcruxes são recipientes onde Voldemort escondeu pedaços de sua alma, justamente para escapar da morte. Quem acompanhou a história sabe da profecia que diz que “um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver.”
Harry descobre esta questão e passa a encarar a morte de uma forma diferente. Ao entrar em contato com a Pedra da Ressurreição, passa a conversar com todos aqueles que morreram e descobre um fato interessante e simples: seus pais revelam que os mortos continuaram ao lado dele todo o tempo. Quando indagados se o Lorde das Trevas veria os “seus” mortos, eles são unânimes em responder que não, pois, segundo o padrinho Sirius Black, nós estamos “em você”, e aponta para o coração do afilhado. Não deixa de ser uma explicação interessante porque ninguém, com certeza, duvida de que os nossos entes queridos que já morreram continuam vivendo em nós.
Numa outra conversa, desta vez com Dumbledore, o velho mestre ensina sobre a magia. Fala que a base da magia são as palavras, capazes de machucar seriamente, mas também de curar. Que o digam os psicanalistas.
E até a impressionante Escola de Hogwarts fica em ruínas na batalha final, quando um Voldemort impressionante, e até bem humorado, conclama os estudantes a esquecer Harry Potter e passar, simplesmente, para o lado negro. Aqui Ralph Fiennes deita e rola, comprovando o velho ditado de que os bons atores preferem fazer os vilões. Este vilão está poderoso como nunca, com a sua fiel servidora Bellatrix Lestrange (Helena Bonham Carter) à sua direita. Numa sequência, ela tenta auxiliar o Lorde das Trevas, que lhe dá um bofetão, quase comprovando a frase mais engraçada do filme, dita pela Sra. Weasley (Julie Walters) quando a bruxa do mal ataca sua filha Ginny: “Not my daughter, you bitch!”
No mais, é curtir, antes que a morte venha, a bela fotografia do português Eduardo Serra (o mesmo do excelente filme Moça com Brinco de Pérola) e a música do francês Alexandre Desplat, reeditando o tema original do eterno (e ainda vivo) John Williams, que compôs outros “pequenos temas”, como Star Wars e Indiana Jones, e até (quem se lembra?) a série de TV Túnel do Tempo.
É um final sombrio, assombrado e assombroso de uma história que criou uma geração de fãs, e uma bilheteria em torno de dez bilhões de reais. Pode até não ser considerado, pelos cinéfilos ortodoxos, como cinema, mas não pode ser desconsiderado como fenômeno cultural de massa. E de boa qualidade. Esta é a grande verdade.
E a verdade, como dizia Alvo Dumbledore, “é uma coisa bela e terrível, por isso deve ser tratada com grande cautela.”
Ah, e finalmente: não assistam o filme em 3D! Não vale a pena.
(Crítica: Jorge Marin)
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