quinta-feira, 2 de setembro de 2010
INCIVILIDADE
Cada dia que passa, vou me tornando mais recluso e evitando mesmo a maioria dos contatos sociais. Não sei se é um fato relacionado ao avanço da idade, ou se é uma piora considerável que venho percebendo no convívio com as pessoas. Sei que é meio chato terminar a leitura e fazer comentários no blog, mas sobre este assunto eu gostaria, sinceramente, de saber a opinião de alguns leitores, até para analisarmos melhor este fenômeno e até, quem sabe, podermos dar alguma contribuição, no sentido de facilitar nossas vidas.
Fato é que, nos dias atuais, é muito difícil lidar com pessoas. Por exemplo: convidamos uma pessoa para almoçar em nossa casa; esta pessoa, que esperávamos que viesse só com a esposa, vem acompanhada de um outro amigo que teria chegado sem avisar. Pior: este amigo – não convidado – ainda trouxe a namorada, com dois filhos. Como preparamos almoço para quatro pessoas, estamos às voltas com um dilema parecido com o de Jesus Cristo no Sermão da Montanha. Como não conseguimos multiplicar a comida milagrosamente, acabamos ficando constrangidos porque não tem comida para todo mundo. Hoje, já sou capaz de agir como os ingleses que, num caso desses, simplesmente pedem que os não convidados aguardem na sala de espera, enquanto almoçam com os convidados. Mas este é um fato que acontece muito, a ponto de, numa festa em um bifê, os anfitriões solicitarem uma cota extra de convites, só para os “penetras”. Ou, durante um churrasco, os donos da casa terem de sair sorrateiramente de casa para, escondidos, comprarem mais carne e cerveja.
Outra coisa irritante é emprestar. Pessoas pedem emprestados livros, DVDs, CDs, até mesmo o seu pen drive, e não devolvem. Alguns pedem um terno emprestado e, passados dois meses após o evento, devolvem sua roupa, após você pedir desculpas e dizer que está precisando daquele traje que, aliás, volta todo amarrotado e até sujo. Como faço para convencer meu filho de que ele, por estar em sociedade, deve emprestar seu joguinho de videogame ao seu coleguinha?
Chegamos ao cúmulo do empréstimo do celular, que eu achava que era uma coisa pessoal. Funciona assim: a pessoa liga para você e, quando você atende, a ligação cai. A cena se repete umas cinco vezes até que você, preocupado, liga para a pessoa:
- O que está acontecendo?
- Eu estou querendo falar com você, mas estou sem crédito, responde o bicão. E, se por acaso, você desliga, ou tenta argumentar que, como é ele que quer falar com você, pode, por exemplo, comprar um cartão telefônico (ainda existem!) e ligar de um orelhão. Geralmente, a pessoa se irrita e responde:
- Poxa, mas você é “boca ruim” mesmo!
É por isso que estou trazendo este assunto. Já começo a desconfiar que eu é que estou errado. Estava outro dia na fila do cinema e, depois de uns quarenta minutos de espera, quando eu já era o terceiro da fila, chega um adolescente que, educadamente (?), me aborda:
- Ô tio, será que o senhor poderia fazer a gentileza de comprar um ingresso para mim e para a minha namorada? É que o filme já vai começar e a fila está grande.
Também educadamente, respondo:
- Meu jovem, converse, por favor, com os demais componentes da fila e, se todos concordarem em que você fure a fila, eu compro os ingressos.
O jovem fica agressivo:
- Mas eu não estou furando fila, só estou pedindo um favor!
Eu ainda consigo me manter educado e respondo: NÃO!
Parece que é uma pandemia: ninguém respeita as normas de vida comum, não observam a cortesia nas relações interpessoais, gritam, ofendem grosseiramente, não sinalizam no trânsito, jogam cigarro na rua, falam palavrão alto. Será que é o advento de um detestável mundo novo? Será que a incivilidade é o novo pacto social? Gostaria de saber a opinião dos leitores e, se for o caso, voltar ao assunto.
(Crônica: Jorge Marin)
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Jorge,acho que você convive com pessoas erradas,por isso esta indiguinação.É muita cara de pau ser convidado e levar amigos sem avisar.Ficar pedindo coisas pessoais emprestado é outra cara de pau.É só começar a dizer não.Mas quanto a conviver com outras pessoas é muito pessoal, tem pessoas que gostam outras não,desde que sejam pesssoas agradaveis que te acrescentem´.Mas estamos mesmo ficando individualistas,ou aceitamos isso ou tentamos mudar,depende se isso te incomoda.Abraço
ResponderExcluirConcordo inteiramente com o amigo.
ResponderExcluirConfesso que, encontro também, certa dificuldade, em estar diante deste mundo cada vez mais individualista onde, geralmente, se pensa exclusivamente nos direitos. A palavra deveres se tornou um mero detalhe.
Abração forte
Ao Futuro e Alem!
Sylvio disse...
ResponderExcluirSinto também uma crescente dificuldade em conviver com as pessoas e já me questionei se a origem deste fato estaria em mim ou nas pessoas que me cercam. Com meus quarenta anos, sinto-me em um ponto da jornada em que não me dou mais o direito de ficar importunando desnecessariamente as pessoas e em contrapartida me reservo também o direito de não deixar as pessoas me incomodarem por coisas que considero sem importância ou com falhas básicas de educação e respeito.
Na minha opinião há uma evidente deficiência na noção de convívio social e consideração nas condutas mais óbvias para se relacionar, tornando a vida em grupo algo mais fácil e agradável. Chamo isso de “efeito formigueiro”: um ambiente ocupado por um número cada vez maior de indivíduos com muitas vontades e poucas possibilidades, onde cada um quer realizar as tarefas que julga necessárias para suas necessidades ou desejos. Como as formigas fazendo seus caminhos, nos debatemos continuamente frente a frente com cada vez mais indivíduos caminhando em direção contrária ou indo na mesma direção de forma mais lenta do que nós e, em ambos os caos, nos sentimos bloqueados ou prejudicados de algum modo. Havendo seres humanos demais no mercado, perdemos nosso valor. Uma pessoa a menos é um concorrente ou um obstáculo a menos no caminho. As famílias estão, intencionalmente ou não, terceirizando a educação como tarefa para as escolas o que, no meu entender, é um erro de compreensão. A escola transmite instrução, educação se aprende em casa! Deveríamos encontrar valores dentro de casa e limites nas ruas e o que vem acontecendo é que está cada vez mais raro perceber ambos. Os mais jovens, deixados à sua própria sorte, utilizam a muita energia e pouco critério que possuem procurando seus interesses com a maior força e velocidade possíveis, antes que algum dos muitos concorrentes consiga primeiro; e os mais velhos, sentindo-se acuados, usam sua pouca energia e muita experiência para criar barreiras de proteção e isolarem-se em ambientes que consideram mais tranquilos e seguros.
Difícil após certo tempo de vida conciliar consciência e intransigência. Dependendo do ambiente em que se vive, quanto mais se entende ou percebe certos aspectos do convívio, maior é a tentação em se impacientar e isolar. Essa atitude não é um grande problema para os que apreciam a própria companhia a ponto de não necessitar muito dos outros, exilando-se em casa, clubes ou ambientes mais controlados. Para os que acreditam que o outro é um bom tempero para degustar os dias, mas a qualidade dos atualmente oferecidos está causando uma certa indigestão, uma boa sugestão seria mudar primeiramente o ambiente (talvez uma cidade menor ou um bairro um pouco mais afastado) e depois selecionar mais as pessoas de convívio íntimo e constante, procurando menos pessoas com mais qualidade.