sexta-feira, 3 de setembro de 2010

ALEGORIAS E ENDEREÇOS



CAPÍTULO 1 - Um cachorro na bacia

Abram alas!!!
E lá vem mais um daqueles caminhões de mudanças, desfilando discretamente pela cidade. Sem chamar a mínima atenção, vai, como num passe de mágica, com tudo aquilo e tudo mais a que tem direito, a virar em segundos, por cada esquina.
Neste momento tão solene e único, procuro, na oportunidade, achar um adjetivo, que venha caracterizar tão nobre momento. Na realidade, não sei definitivamente defini-lo. Pessoalmente, misturo uma forte tendência hilariante, com uma grande conotação de sentimento de tristeza, onde podemos sorrir, ou mesmo chorar e, se o caminhão for de carroceria aberta, o bom mesmo é ficar num canto da calçada, vendo o bonde passar.
Há uma grande diferença entre as mudanças atuais e as mudanças de uns 30 anos atrás. Naquela época, as mudanças eram sempre em caminhão aberto, às vezes até em carroças e, se vocês pensam que o Big Brother expõe a vida dos participantes, precisavam ter visto uma daquelas mudanças da década de 60: era um amontoado de badulaques e panos, pois praticamente inexistiam eletrodomésticos (quando muito uma geladeira Frigidaire). Por cima de tudo, alguns tachos e bacias e, às vezes, por cima das bacias, um vira-lata assustado. Imaginem, para um cachorro criado em quintal, o que representava uma viagem pelas ruas da cidade, equilibrado em cima de uma bacia, ao lado do penico (que ficava amarrado pela alça), ouvindo aquela barulheira do caminhão, e vendo aquela multidão ao redor.
Lembro-me, como se fosse hoje, quando solteiro, nos bate-papos das esquinas, um velho amigo me confessava que seria a maior desgraça de sua vida, se um dia tivesse que fazer uma mudança, e ter que sair à rua, na carroceria aberta de um caminhão.
- Fico apavorado só de imaginar! Prefiro a morte, que a isto me sujeitar! - dizia ele.
Era uma daquelas pessoas que ficava em pânico quando tivesse que se expor de alguma forma, principalmente em situações que, para alguns, se tornaria cômica.
Essas pessoas possuem em comum, a interessante característica de serem super-divertidas, principalmente em situações que dizem respeito ao próximo. Ele não fugia à regra!
A cada caminhão de mudança que porventura passasse, lá estava ele, com todo seu sádico humor, analisando-o minuciosamente. Estudava todos os seus detalhes e até notas, que variavam de um a dez, eram dadas criteriosamente.
Por exemplo: grau de dificuldade, simpatia e esportiva dos envolvidos, situação do transporte (quanto pior, maior a nota), distribuição visual da mudança na carroceria, grau de atenção que despertasse aos pedestres, fisionomia dos responsáveis (a simples sugestão, mesmo bem acondicionada, de um penico, era um deizão na hora!).
Foi uma época realmente muito divertida e, mesmo depois que, o tempo nos distanciou, ainda levaríamos conosco, as lembranças de um passado feliz.
Um belo dia, o impossível e inacreditável aconteceu.
Estava eu, na janela de minha casa, quando, no início da rua, um velho caminhão de mudanças, começou a passar.
Quanta emoção! Principalmente, quando, quase em frente à minha varanda, estoura um de seus pneus.
E agora? Como avaliar? Será que eu me lembro dos quesitos criados pelo meu amigo sacana? Não percam, na próxima semana, o tema palpitante: COMO TRAÇAR O PERFIL PSICOLÓGICO DE UM CIDADÃO, ATRAVÉS DA ANÁLISE DETALHADA DOS ITENS DE SEU CAMINHÃO DE MUDANÇA. Ah, e para finalizar, é bom que se esclareça que não temos nada contra os penicos.

(Crônica - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Um comentário:

  1. HILARIOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
    PENA QUE DIFICILMENTE VEMOS ESTES CAMINHOES DE MUDANÇA.
    ERA REALMENTE MUITO ENGRAÇADO

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BRIGADU, GENTE!

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