sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ALEGORIAS E ENDEREÇOS



Capítulo 2 - COMO TRAÇAR O PERFIL PSICOLÓGICO DE UM CIDADÃO, ATRAVÉS DA ANÁLISE DETALHADA DOS ITENS DE SEU CAMINHÃO DE MUDANÇA

NA SEMANA PASSADA, como bem recordam, falávamos de mudanças. Afinal, todos reconhecem que as mudanças são necessárias, que o mundo e a sociedade estão passando por mudanças profundas. Mas, esperem um pouco, será que mudar é preciso mesmo? Um amigo meu afirma categoricamente que “mudança é a pior coisa do mundo, algo que eu só faria obrigado e, entre mudar num caminhão aberto e morrer, prefiro a segunda opção.”
Mas o mundo, como dizem os Melhores do Mundo, o mundo é uma caixinha de surpresas, e, numa bela tarde de outono, enquanto descansava da sesta na varanda da minha casa, eis que surge um daqueles reveladores caminhões de mudança. Do jeito que eu e meu amigo analista gostamos: aberto, bem sambado, lento e... para completar, um pneu estoura, ali mesmo, na minha frente. Era muita emoção, algo assim como se o Loco Abreu parasse em frente à minha casa e perguntasse onde era o Mangueira.
Sei que muitos não acreditarão, mas... quem estava na carroceria? Sufocado no meio de uma parafernália de coisas? Sentado num botijão de gás, entre a geladeira e o fogão?
Ele mesmo! Simplesmente, meu velho amigo das esquinas, e gabaritado analista de mudanças.
E... lá estava ele, totalmente indefeso, fisionomia transtornada e pálida, com cara de quem iria, de uma hora para outra, desmaiar.
Estava de olhos arregalados, como quem não acredita no que estava acontecendo... E o coitado ainda nem havia me visto!
Se tal acontecesse, certamente iria se sentir num carro abre-alas, parado em frente aos jurados e o que é pior... de pneu furado!
Então... como amigo fiel que sempre fui, um tanto sensibilizado, deixei a emoção de lado e fui cumprir minhas obrigações (acho que meu amigo faria o mesmo por mim): escondendo-me parcialmente num canto da janela, imparcialmente, comecei a fazer meu julgamento, enquanto o pneu era trocado.
Infelizmente, tive que tirar-lhe um ponto no quesito ADEREÇOS, pois não havia sequer uma única gaiola a bordo e, como sabemos, isto é fundamental.
Quanto aos outros quesitos, por sinal, ele até que se saiu muito bem. Passemos à análise.
- COMISSÃO DE FRENTE: antenas de televisão bem posicionadas, com uma parabólica sufocando tudo.
- BATERIA: dois botijões de gás, servindo de banco.
- HARMONIA: colchão de casal já bem maltratado.
- ENREDO: plantas e vasos em profusão, com belas samambaias. Se fosse nos dias de hoje, provavelmente seria “Marina Selva, Orgulho e Glória da Política Ambiental do Brasil”.
- ALEGORIA: aquele espelhão, duplicando ainda mais as coisas.
- EVOLUÇÃO: crianças sentadas alegremente no sofá brincando de automóvel.
Nota máxima ficou para o quesito MESTRE-SALA, pois o meu amigo passava naquele momento, uma felicidade de dar inveja.
Irradiava, do seu rosto, uma paz interior de tal grandeza que, qualquer semelhança que lembrasse suicídio, seria mera coincidência.
Imagino os tantos e bons pensamentos que, provavelmente, passavam pela sua cabeça naquele momento:
- o que é que to fazendo aqui?
- só mudo agora se for para o cemitério (e olhe lá!)
- antes ter ficado onde estava!
- já pensou colocar tudo no lugar novamente?
- merda de caminhão, o barato sai caro!
- bem feito, língua fala, língua paga!
- só falta o Serjão chegar e me pegar no flagra...

Finalmente, já de pneu trocado, lá se foi meu velho amigo, aliviado, virando a esquina, com seu pesadelo prestes a terminar.
Afinal de contas, fica registrado aqui: mais uma família que se muda, ou mesmo, mais um casal que se separa.
São as idas e vindas da vida, nas quais, sinceramente, respeito, admiro e, pessoalmente, acho o maior barato...
Meu velho amigo, coitado, que me perdoe!
NA PRÓXIMA SEMANA: uma mudança ainda mais triste, e uma dica para se evitar burrices. Não percam, pois, com certeza, todos sairão do blog com uma nova visão sobre as mudanças. Até sexta!

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

8 comentários:

  1. É bem verdade que hoje em dia é raríssimo encontrarmos com um daqueles caminhões de mudança. Mas era muito interessante mesmo!
    Abaixo os caminhões Baús! Carroceria aberta já!
    Adorei o caso!!!

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  2. Pelo que pude aprender neste curso formador de analistas de mudança do Blog, daria apenas uma nota oito pra esta foto do caminhão. Apesar da presença de um cachorro e bicicletas, o transporte ficou muito a desejar. Caminhão novo não pode! Perde ponto!

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  3. O pior tipo de mudança é quando um sujeito compra uma casa ou apartamento novo,financiado em 30 anos e quando vai mudar para a nova residência tem que levar os móveis velhos, porque não tem grana para comprar novos.Aí tem que mudar de madrugada prá ninguém ver.Não é mole não,meu irmão!

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  4. “Como traçar o perfil psicológico de um cidadão através da analise detalhada dos itens de seu caminhão de mudança”
    Partindo então deste pressuposto e analisando criteriosamente esta foto acima do caminhão fico só imaginando então como estariam as coisas dentro da cabeça deste cidadão. Coitado!

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  5. Gente!!!! Depois que li esta cronica ,não consigo ver uma mudança sem começar a fazer meu julgamento e ficar rindo pela rua rsrsrsrs...
    Adorei!!!É tudo de bom!!!Parabéns!!!!

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  6. Como tenho um cunhado caminhoneiro sou capaz de apostar que no " para-barro" do dito cujo está escrito em baixo, à vista " TRABALHE" . Porém, a frase completa seria: " NÃO ME INVEJE, TRABALHE".
    Vamos e venhamos : para o camarada INVEJÁ-LO , terá que ser loouuuco por mudança é ou não é ?
    ..... mas o cachorrinho está tão bem na foto ,não ? rsrsrsrsr......
    Abraço do Mazola.

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  7. O Mazola é um sujeito observador.Sabe que eu não tinha reparado o que estava escrito no para-barro?O cahorrinho eu tinha visto.Ahá!...Abraço do Nilson Baptista.

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  8. E a milhar da placa? Alguém conseguira fornecer?
    Muito bommmmmmmmmmm

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