sexta-feira, 6 de julho de 2018

APRENDENDO HONRA



Ainda meio abalado pela derrota do Brasil na Copa, chego à janela e fico vendo a multidão lá embaixo na rua com suas camisas amarelas, apitos e vuvuzelas

É como se o Brasil não tivesse perdido: as pessoas continuam bebendo, urinando (moças e rapazes) no meio da rua e nas paredes dos prédios, enquanto carros de som passam estremecendo as vidraças com seus potentes graves e músicas grosseiras.

Um jornalista na TV questiona se os jogadores conseguiram defender a HONRA do Brasil e, vendo aquele povão bebendo, xingando e se agredindo com socos e garrafadas, fico me perguntando, afinal de contas, onde foi parar esse conceito de “honra”.

Lógico que, quando menino, ouvia falar em honra em casa, pois todo pai de família fazia questão de ser um homem honrado e toda mãe igualmente honrada, tanto é que, se alguma dúvida sobre a honra de nossas mães fosse levantada, era motivo para briga certa.

No entanto, o momento em que a honra deixava os cadernos de Educação Moral e Cívica e passava a se incorporar, vívida, em nós, era quando nos apresentávamos ao Tiro de Guerra para “servir à pátria”.

Sei que tudo isso pode parecer meio piegas nos dias de hoje, em que tudo parece uma questão de ter ou não grana, mas, sob a orientação do já saudoso Sargento Matildes, aprendíamos que a vida tinha um propósito, que era individual, mas que, para atingi-lo, deveríamos seguir um código de valores, e, principalmente, aprender a respeitar a hierarquia e uns aos outros.

Assim, desde a lavação das “sagradas” instalações sanitárias de nossa sede até as marchas e cerimônias cívicas, convivíamos como uma grande família, onde, independentemente de posição social, partilhávamos os mesmos direitos e deveres, do assistente de pedreiro ao filho do doutor, do bancário ao açougueiro, do operário ao bailarino, do marceneiro ao astrônomo.

A honra se tornava uma questão de cidadania, pois, dentro da nossa comunidade militar, aprendíamos com o sargento, muitas vezes “no grito”, que o contato com pessoas diferentes permitia o atingimento de um estado de excelência, que na época eu não compreendia muito bem, mas que, com o fluir dos anos, fui percebendo como a construção de uma identidade cultural.

A passagem de mais um trovão automotivo me tira do sério, e da reflexão sobre a honra, conceito meio sumido nestes tempos de narcisismo desenfreado. Pena que o nosso mestre Matildes se foi. Mas, certamente, nos ensinou muito.

Crônica: Jorge Marin

Um comentário:

  1. Nossa cidade compartilhou com os familiares o pesar do falecimento do Dr.Matildes.

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