sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

CINEMA & FILOSOFIA: MOANA E O MUNDO LÍQUIDO


Há 18 dias, morria em Leeds, no Reino Unido, o filósofo polonês Zygmunt Bauman. Criador do conceito de mundo líquido, ele dizia que não dá mais para caracterizar o mundo como faziam os nossos pais, e nem nós mesmos.

Na semana passada, fui assistir ao desenho animado Moana: Um Mar de Aventuras. Filha do líder de uma tribo que vive em uma ilha do Havaí, a menina se depara com o conceito de um mundo sólido: seu pai afirma que ela JAMAIS deveria viajar além dos recifes!

No conceito de mundo líquido, o que fica claro para todos nós é que não existem limites sólidos... como recifes. Por que dizemos mundo líquido? Porque é uma coisa constante, como a vida de cada um de nós, assumindo formas variadas, mais plásticas.

No tempo de nossos pais, as meninas sonhavam com um jovem, tipo príncipe encantado, que viesse levá-las para viver uma vida feliz e constantemente bela. Algumas moças ainda acreditam nisso até hoje.

Moana não é desse tipo de princesa. Aliás, ela nega categoricamente ser uma princesa, embora Maui, o herói do filme, afirma que, se você usa vestido e tem um animalzinho parceiro, então você é uma princesa!

Bauman diz que o casamento é a mesma coisa que dividir um barco em alto mar. Pode significar navegar juntos e dividir as alegrias e os perigos da viagem. Mas, nos dias atuais, não significa que ambos chegarão juntos à outra margem. Casamento não é ponte, diz ele. Além disso, na outra margem, a neblina encobre o que poderíamos encontrar.

Moana e Maui dividem um barco em busca do coração de Te Fiti, a mãe terra, que poderia restaurar as boas colheitas e os generosos cardumes da ilha de Motonui. Também aqui uma ameaça do outro lado da margem, o monstro vulcânico Tamatoa ameaça o sucesso da missão.

Assim como no modelo de Bauman, Moana e Maui se separam. Nem ela quer ser princesa nos modelos da Disney nem ele quer ser herói nos modelos de Hollywood (embora seja dublado por Dwayne Johnson).

O resultado do filme é maravilhoso: a princesa não precisa do herói para concluir a sua busca, mas só consegue realizar a missão com a ajuda dele. Os conceitos de Bauman são, da mesma forma, surpreendentes.

Para ele, nós vivemos num mundo de comunicação. Hoje todo mundo compartilha informação de todo mundo. No entanto, diferente do convívio em comunidade, o relacionamento com nossa “ilha” de amigos do Facebook exclui todos aqueles que pensam diferente de nós, e fica preso à ideologia, aos preconceitos e ao proselitismo da ilha.

Moana, pelo menos, com a ajuda do mundo líquido, superou essas questões.


Crônica: Jorge Marin
Foto     : Still do filme

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL