Há 18
dias, morria em Leeds, no Reino Unido, o filósofo polonês Zygmunt Bauman.
Criador do conceito de mundo líquido, ele dizia que não dá mais para
caracterizar o mundo como faziam os nossos pais, e nem nós mesmos.
Na semana
passada, fui assistir ao desenho animado Moana: Um Mar de Aventuras. Filha do
líder de uma tribo que vive em uma ilha do Havaí, a menina se depara com o
conceito de um mundo sólido: seu pai afirma que ela JAMAIS deveria viajar além dos
recifes!
No conceito
de mundo líquido, o que fica claro para todos nós é que não existem limites
sólidos... como recifes. Por que dizemos mundo líquido? Porque é uma coisa
constante, como a vida de cada um de nós, assumindo formas variadas, mais
plásticas.
No tempo
de nossos pais, as meninas sonhavam com um jovem, tipo príncipe encantado, que
viesse levá-las para viver uma vida feliz e constantemente bela. Algumas moças
ainda acreditam nisso até hoje.
Moana não
é desse tipo de princesa. Aliás, ela nega categoricamente ser uma princesa,
embora Maui, o herói do filme, afirma que, se você usa vestido e tem um
animalzinho parceiro, então você é uma princesa!
Bauman
diz que o casamento é a mesma coisa que dividir um barco em alto mar. Pode
significar navegar juntos e dividir as alegrias e os perigos da viagem. Mas,
nos dias atuais, não significa que ambos chegarão juntos à outra margem.
Casamento não é ponte, diz ele. Além disso, na outra margem, a neblina encobre
o que poderíamos encontrar.
Moana e Maui
dividem um barco em busca do coração de Te Fiti, a mãe terra, que poderia
restaurar as boas colheitas e os generosos cardumes da ilha de Motonui. Também
aqui uma ameaça do outro lado da margem, o monstro vulcânico Tamatoa ameaça o
sucesso da missão.
Assim
como no modelo de Bauman, Moana e Maui se separam. Nem ela quer ser princesa
nos modelos da Disney nem ele quer ser herói nos modelos de Hollywood (embora
seja dublado por Dwayne Johnson).
O
resultado do filme é maravilhoso: a princesa não precisa do herói para concluir
a sua busca, mas só consegue realizar a missão com a ajuda dele. Os conceitos
de Bauman são, da mesma forma, surpreendentes.
Para ele,
nós vivemos num mundo de comunicação. Hoje todo mundo compartilha informação de
todo mundo. No entanto, diferente do convívio em comunidade, o relacionamento
com nossa “ilha” de amigos do Facebook exclui todos aqueles que pensam
diferente de nós, e fica preso à ideologia, aos preconceitos e ao proselitismo
da ilha.
Moana,
pelo menos, com a ajuda do mundo líquido, superou essas questões.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Still do filme
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