quarta-feira, 20 de abril de 2016

NOSSO ETERNO CASARÃO


Por ironia, logo eu que saio semanalmente pelas ruas da terrinha à procura de casarões pra postar pra vocês no Blog, fui surpreendido ao deparar-me com essa bela imagem postada por minha querida irmã Mika em seu Facebook.

Jamais imaginaria que a foto existisse. Foi uma mistura de êxtase e emoção como se estivesse visualizando minha infância em meio a um turbilhão de lembranças. Acho até que pode estar aí meu fascínio inconsciente por casarões.

Assim descreveu minha mana Mika: “Está vendo! Ela era linda. Nesta época você era pequenino. A fábrica de macarrão estava para ser construída, veja a tabuleta na varanda. E o quartinho do presépio? Varanda linda, não é? Lembro-me de brincar muito neste corredor frontal e escorregar na descida da varanda. Era uma casa e tanto. Enorme. Pai fez uma reforma nela logo depois e ela ficou mais linda ainda. Pai comprou em 1956, pois me lembro que você nasceu no largo e que eu fiz meu aniversário de sete anos já aí nesta casa. O quintal dela era imenso, ia até a divisa com a vila Régia. Foi neste terreiro que veio a ser construída posteriormente por meu pai e o saudoso Tio Gaby uma Fábrica de Macarrão. O porão era enorme: outra casa na verdade. Era da mesma altura da parte de cima, mas era de chão batido. Alguns cômodos eram escuros, pois davam frente para a rua, portanto não tinham janelas. Tinha uma entrada para este porão debaixo da varanda, portanto, perceba que a casa apesar de ficar no nível da rua na parte da frente, a traseira era toda abaixo do nível da rua. Esta entrada era em arco, muito linda. Do lado dos fundos tinha porta e janelas. Tudo abaixo do nível da rua. Para irmos ao quintal, descíamos escada, pois era bem abaixo. Quando mudamos para ela, a sala tinha uma barra decorada com parreiras de uva na altura superior da parede, encostando-se ao teto. Esta faixa decorada devia ter uns 50 ou 60 cm. Havia também na sala uma pia de porcelana com florais azulados. Quanto aos quartos, eram oito, uma sala, uma copa e uma cozinha. Havia aí um fogão a lenha e o banheiro possuía duas portas. Este banheiro ficava abaixo do nível do quarto do pai e mãe tendo dentro do quarto deles uma porta que se abria para uma escadinha que levava a este banheiro. Aqueles balaústres, da frente da casa eram todos verdes e as janelas também. Estas janelas eram todas de madeira.”

Da mesma forma, assim tão bem, descreveu minha mana Edna:Que saudades desta querida casa, onde passei meus Anos Dourados! Assim que nela entrei, meus olhos brilharam de felicidade, nela havia tudo que eu sempre sonhara!
Por fora, pés de frutas: eugênia, abiu, manga... mais tarde nosso pai plantou um pé de maracujá que rodeava toda a varanda da frente, chamando a atenção de todos que por ali passavam tal a beleza dos frutos e o perfume das flores. Havia um porão com umas portinhas onde se via escrito no mural: TÚNEL DO AMOR e por ali brincávamos e corríamos dando gostosas gargalhadas.
Recordo de cada cômodo e de tudo que nela vivi com meus pais e irmãos. A varanda era o ponto dos meus encontros com Ângelo (se esta varanda falasse!), nossas juras de amor lá estão gravadas como estão até hoje no meu coração. Esta CASA é um pedaço de minha HISTÓRIA”.
                 
Interessante que, mesmo ainda muita criança, me recordo de tudo isso.                                                        Era um pé de maracujá gigante que meu pai havia plantado quando ganhou a semente de um amigo. Por sinal, ainda hoje consigo lembrar o forte aroma e de suas belas flores. Nele apareceu certa vez um imenso Gambá que teria ficado agarrado no arame de sustentação de suas folhagens. Foi um deus nos acuda.
Na enchente de 1960, o referido porão inundou e tivemos que sair às pressas para casa de nossa vó Pina, que residia ali na Rua Cavalheiro Verardo. O casarão começou a apresentar algumas rachaduras e nosso pai, pressentindo o perigo, após reunir repentinamente toda a família, achou por bem sairmos.  Foi quando uma grande reforma teria sido realizada sendo que um dos procedimentos teria sido o aterramento do porão.

Como bem disse a mana Mika, o casarão ficou ainda mais belo e constantemente recebíamos pessoas apenas pra visitar o assoalho. Mesmo sem o advento dos sintecos, jamais vi outro igual. Os tacos brilhavam como espelho ante os variados mosaicos nas cores preta e marron. De tão liso, fazia dele uma das minhas diversões prediletas, onde brincava de escorregar de costa fazendo tração com as pernas.

De original mesmo restou apenas um pouco da fachada, os tacos do quarto de minha filha, a guarnição de um dos portais no lado do mano Kico, e o corrimão em que gostávamos de escorregar na varanda. Além, é claro, daquelas boas e positivas energias que permaneceram impregnadas em seu interior.

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : Facebook da Mika Missiaggia

2 comentários:

  1. Parece que voltei ao passado e ao ler a crônica entrei em cada pedacinho da casa , fui ao terreiro,passei pelo " túnel do amor" subi numa árvore acho ser o pé de abiu para apreciar o pessoal nadar no Clube do Mangueira...e levei a maior bronca de meu pai. Fui até meu quarto , onde dormia com minha irmã Mika.Quantas lembranças!Tudo passa , fica apenas gravado recordações para sempre. Edna

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  2. Lembro-me bem de tudo.
    O mano ficava me esperando para que eu o levantasse nos braços para ligar ou desligar a lâmpada do meu quarto.
    Recordo-me muito bem da grande enchente. Inclusive, nos visitavam os filhos de tio Chiquinho.
    Lembro-me até do período anterior à compra. Ali morou o delegado da época.
    Recordo-me de muitas outras passagens,embora, lamentavelmente tenha partido no fim de 60.
    Não posso deixar de falar nas homéricas partidas de truco com tio Zeca, Pai e Kico, que varavam as madrugadas.
    Bons tempos, mano, bons tempos!!!!!!
    Darcio

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