Como já vinha dizendo, tudo teria sido muito envolvente. A participação
das pessoas foi algo fantástico.
O calor da população irradiava de tal maneira, que a cidade parecia estar se
preparando para sediar os jogos olímpicos.
Não havia um lugar, esquinas, colégios, clubes, fábricas, em que o assunto não
fosse o mesmo, ou seja, a chegada do grande momento.
Nas semanas que antecediam às primeiras exposições, o local já havia se tornado
um imenso canteiro de obras e um verdadeiro ponto de encontros. Pessoas
curiosas e felizes acompanhavam cada martelada. Era como se tudo estivesse
sendo montado no terreiro da casa de cada um de nós.
Saíamos muitas vezes do colégio e corríamos para lá. Durante o dia, ou mesmo
durante a noite, velhos, jovens, crianças, alunos, professores, moradores
vizinhos faziam do local uma praça de confraternização. Nada poderia sair errado. Parecia que, inconscientemente, estávamos ali
assegurando que tudo aconteceria da melhor forma.
Enquanto isso, aquelas inesquecíveis barracas de sapé começavam a
decorar o ambiente que, apesar da insegurança, não deixavam de ser superchiques
e aconchegantes. Ali, uma imensa galeria estava sendo construída e diversos
estandes seriam usados pelos expositores.
Também desta edição da Voz de São João, transcrevo trechos do seguinte artigo:
“Os stands ‘boxes’ da Exposição, em estilo tosco, estão instalados no antigo
campo do Mangueira com cerca de quinze pavilhões, entre eles um especialmente
adaptado para o serviço de bar e baile.
A indústria e comércio ocuparão 48 stands, sendo que muitos interessados, por
falta de maior número de vagas, deixaram de se inscrever. Pássaros de várias
procedências estarão com seus cantos e gorjeios dando um ambiente alegre ao
recinto da Exposição”.
Muitas firmas se fizeram presentes na primeira Exposição, sendo que
ainda me recordo bem de algumas: Fábrica de Vassouras Soares, Tipografia e
Papelaria Moderna de Rocha & Cia, Cerâmica São Joanense, Confecções
Cláudia, Calçados Sylder, Fábrica de Ferraduras Manzo, Marcenaria Brasil,
Confecções Marlu, Fábrica de Calçados Dragão, Casa Leite, Serralheria Bertolini,
Supergasbrás (Paulo Gomes da Fonseca), Entalhes em Madeira (Paulo Manzo),
Máquinas Guarnieri, CCPL e outros. Esta última nos brindava sempre com seus
deliciosos leitinhos. Uma fila imensa se formava ao longo do parque para que se
conseguisse saborear um desses.
Os estandes eram muito bem organizados, e decorados com bom gosto e
entusiasmo. É de fazer inveja a alma deste povo! Todos se uniram para a beleza
e o sucesso da primeira Exposição.
Também alguns estandes nos marcariam mais, como foi o caso de Rocha & Cia.
Neste, eram mostradas as cores da vida, no belíssimo televisor Philco instalado
no local, enquanto um delicioso café (Santa Cecília) era distribuído a todos
aqueles que marcavam presença. Além disso, a Voz de São João se fez presente
com sua impressora, onde tivemos o mini-Voz de São João, jornalzinho este que,
aos comandos de nossa amiga Luciana Pulier, era distribuído gratuitamente.
A barraquinha do Lions Clube também fez muito sucesso.
Quanta novidade boa envolvida em diversão e alegria! E ainda
havia muitos outros expositores: Fábrica de Saltos de Calçados (Glória),
Confecção Tapuia, Confecção Dalcymar, Serralheria São José, Fábrica de
Ladrilhos Knop, Confecções Ubatã Ltda., Metalúrgica Mont Serrat, Fábrica de
Artefatos de Metal, Confecções Silmara, Confecções Singular, Madalena Bastos
Ladeira (Flores), Confecções Paraíso do Bebê, Cia. Fábio Bastos.
Quem não se lembra das Maçãs do Amor, Selma - a
Mulher Mostro, o touro Piloto do Sr. Ubi e muito mais?
Tudo era muito simples e rústico, mas de
incrível bom gosto e criatividade. A matéria-prima empregada, principalmente
nos acabamentos, quase sempre era em bambu.
E, por falar em Sr. Ubi, nossa famosa fanfarra,
após uma belíssima apresentação pelas ruas da cidade, aonde veio estrear seu
lindo macacão azul e branco, subiu desfilando no morro da Matriz, fazendo
caracol em fila indiana até a Exposição. E por lá ficávamos. Raro alguém perder
um minuto que fosse da festa. Ainda vestidos com o macacão, quase sempre
ficávamos até o outro dia.
Já no ano seguinte, o ginásio, sob a batuta de
nosso eterno comandante Beto Vampiro, organizou seu próprio estande. Montamos
uma verdadeira sala de aula (carteiras, quadro-negro e tudo mais). Até nosso
inesquecível esqueleto Juquinha fez parte da festa. Fizemos tudo com tanto carinho,
que até algumas disputas chegaram a acontecer, para que pudéssemos decidir quem
iria pernoitar e ter o prazer de ficar de madrugada tomando conta do lugar.
Naquela
primeira expô foram construídos dois recintos para baile, sendo que um desses
era o galpão maior onde, aos cuidados de nosso saudoso Deck Henriques,
funcionava um grande restaurante. O conjunto Som Livre ali se apresentava sendo
que, naquele ano, estaria estreando sua nova aparelhagem.
Na época,
Dalminho, Márcio Velasco, Sílvio Heleno e eu fazíamos parte também do conjunto
Pop Som (antigo Cobrinhas) que, juntamente com nossa patroa Nely, o guitarrista
Antônio, os saudosos Zé e Oberon,
e nosso auxiliar Macú, tocávamos em outro
recinto. Mesmo sendo um espaço mais simples, ficava superlotado e
divertidíssimo. Por sinal, o tal local, de tão apertado, foi apelidado por
nossa madrinha Nely Gonçalves de “ENGOMA CUECA”.
Assim também descreveu Bambino, em sua coluna
na Voz de São João:
“O que impressiona e exalta o
nosso contentamento é de como o São-Joanense participa e demonstra sua valiosa
boa vontade. Quando convocado para as árduas tarefas de interesse coletivo,
como foi na 1ª Exposição; tudo se processou com a infalível prata da casa e o
habitual desprendimento, colocando a cidade à disposição do hóspede, que se
torna sensível aos interesses da Garbosa, numa manifestação simpática pela causa.
”
Enfim, termino aqui um pequeno histórico
daquela que foi nossa primeira Exposição. Torço sinceramente, para que as
dificuldades de hoje possam se resolver, permitindo que, no futuro, seja
novamente viável essa bela FESTA DO POVO.
Crônica: Serjão Missiaggia
Foto
: acervo do autor