NA SEMANA PASSADA, falamos dos diferentes
discursos sobre um mesmo assunto (o incêndio da boate em Santa Maria), mas uma
característica mostrou-se comum a TODOS os discursos: cada um que endereça a
palavra ao outro quer ter algum tipo de ganho, seja para vender um produto,
provar uma tese ou, simplesmente, aparecer.
Isso nos remete a mais um capítulo sobre o
assunto, que, tenho certeza, tem potencial para gerar muitas polêmicas, que é o
discurso dos PASTORES.
Inicialmente, é bom que se diga que, ao
acatar o discurso de um pastor, você se coloca na posição de ovelha. Isto não é uma crítica: o próprio Jesus, no
início do evangelho de João, é nomeado como “o cordeiro de Deus”. No entanto, o que se espera de um
pastor? Que conheça as suas ovelhas e as
apascente, ou seja, leve-as para pastar em verdes pastagens, aumente o seu
rebanho, embora saibamos que o destino das ovelhas é, SEMPRE, serem tosquiadas,
pois é pela lã que o pastor tem todo esse trabalho.
Ora, voltando à metáfora, notamos uma grande
quantidade de discursos em todas as mídias, criticando o enriquecimento dos
pastores que, no dizer moralista da imprensa, seriam “falsos profetas” ou “lobos
em pele de cordeiro” de que falava Mateus, o outro evangelista. Pode-se notar aqui um sofisma, pois nos
conduz à crença de que, se o pastor é rico, é falso profeta. Seria, então, pobreza, sinônimo de
integridade e sinceridade?
Outros, dentro da mesma linha de raciocínio,
defendem que a Igreja Católica venda todas as suas propriedades e riquezas e dê
o dinheiro para os pobres. Lembro-me
que, quando menino, éramos obrigados a rezar, todas as noites, a oração contra
o comunismo. Diziam que os comunistas
comiam criancinhas. O futuro se
encarregou de revelar quem, de fato, comia as criancinhas.
Todas essas observações conduzem ao outro
lado do discurso, os outros, os ouvintes.
O poder do pastor, do padre, da igreja, será tão grande na medida em que
os fiéis, os crentes, os seguidores acatarem a fala do seu líder
espiritual. E tais líderes serão cada
vez mais ricos na medida em que os ouvintes se dispuserem a ACATAR, de forma
mansa e pacífica, as exortações à generosidade com a igreja. Embora, é bom que se diga, sem a contribuição
dos seus participantes, nenhuma organização sobreviveria.
Assim, se no caso da boate incendiada, houve
um clamor de diferentes discursos, tentando exercer algum tipo de poder, e,
portanto, de ganho em relação ao público conectado com a tragédia, percebe-se,
no caso das organizações religiosas, uma multidão crescente de fiéis,
organizando-se na forma de rebanho, em torno de um discurso consolador, ou
libertador, ou salvador, do seu pastor.
Ou seja, este outro que se oferece TAMBÉM tem algum tipo de ganho, algum
tipo de prosperidade, ainda que sintomática.
Na semana que vem, vamos tentar escutar o
discurso do casal.
Crônica: Jorge Marin
Foto: Justitia Vihartancos, disponível em: http://browse.deviantart.com/art/The-Lamb-is-with-Us-327771902
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