quarta-feira, 10 de março de 2010

A FACE OCULTA DA FELICIDADE



Crônica: Serjão Missiaggia (março/2004)

Vez ou outra, duvido que qualquer ser mortal, por mais equilibrado seja, não tenha se questionado, em algum momento de sua vida.
São aqueles questionamentos latentes que, aprisionados em nossa memória, ficam a vagar pelo tempo, para, de vez em quanto, aflorarem em nossos pensamentos. Acontece, principalmente no que tange às lembranças de oportunidades perdidas, ou em fatos que, com certeza, teriam, e muito, mudado a trajetória de nossas vidas, para melhor... é claro.
É muito comum entrarmos neste triste devaneio, principalmente quando nos encontramos naqueles dias de baixa estima, ou quando as coisas não vão indo como gostaríamos que fossem. São nas ondulações negativas do cotidiano que nos envolvemos mais facilmente, com estes pensamentos tão nefastos.
Porque isto?... Porque aquilo?... Porque aquilo outro...? Enfim... São tantos e tantos porquês!
Imaginei, ao longo de minha vida, que as respostas, para esses enigmáticos questionamentos, poderiam estar, quem sabe, em algumas seções de terapia (umas mil e quinhentas... talvez!), ou mesmo no brilho de uma estrela que, possivelmente, estaria, desde meu nascimento, constantemente com as pilhas fracas.
Preguiça?... Bem pouco possível!
Incompatibilidade com os livros?... Não seria uma hipótese de toda descartável, ou melhor... Inteiramente provável!
Falta de Fé?... Nunca! Sem chance para esta possibilidade!
Há... Já ia me esquecendo do tal de destino. Para ser sincero, nunca fui muito de acreditar nestas coisas e muito menos em: carma, mau olhado, olho gordo e outras besteiras mais...
Então, onde estariam as respostas para tantas e tantas dúvidas e tantos porquês?
Por acaso, comecei a encontrá-las, quando menos esperava. Foi numa bela tarde, em que estava sentado no terreiro de minha casa, sob a sombra de meu pé de caqui.
Enquanto comia um pedaço de pão e observava entre a folhagem dois passarinhos, um sentimento, de certa forma banal e, ao mesmo tempo, de uma singela inocência, inundou, de repente, meu coração.
Neste sentimento, não sei por quê, interagi sensivelmente com a paisagem, fazendo com que, naquele mesmo instante, pudesse entender quão bela é a Magia Infinita da Perfeição Divina. Uma magia que, sorrateiramente, fica a reger tempo e espaço, sem que mesmo percebamos.
Confesso que achei também, ter sido um pensamento um tanto esquisito, mas, na hora, preferi mesmo acreditar que minha cabeça seria simplesmente mais uma entre tantas outras milhões que ficam, vez ou outra, a vagar pelo espaço.
Voltando ao pensamento, e procurando assim interpretá-lo com um pouco mais de sensibilidade, surpreso fiquei, ao ver que tudo estava ali, sutilmente, bem ao meu lado, ou seja: “NAQUELE MOMENTO PRESENTE”... Isso mesmo!
Já imaginou o que significou um milionésimo de segundo ao longo de nossas vidas?
Partindo deste pressuposto, perguntei-me:
- Hoje, sou feliz?
- Tenho um lar que, mesmo longe da perfeição, é abençoado por Deus?
- E que este mesmo Deus, a mim, veio confiar o cuidar de uma esposa e dois filhos maravilhosos?
- Tenho uma profissão que, por mais simples que seja, dela faço prover o pão de cada dia?
- Tenho amigos fiéis e uma saúde que, apesar de alguns tropeços, muitos não as têm?...
Milésimos de segundos... ”Fronteira entre o ser e não ser.”
Qualquer outro caminho que, no passado, tivesse sido alterado, ou mesmo uma simples decisão que não fosse as mesmas, que houvesse sido tomada... Hoje, nada, ou quase nada, seria assim.
Milésimos de segundos. “Tudo seria diferente”
De minha concepção à concepção de meus filhos.
Do exato momento: daquele namoro... daquele noivado... daquele casamento... daquele ato de amor....daquele espermatozóide que, entre tantos milhões, foi o único que: naquele ano, naquele dia, naquela hora, naquele segundo, naquele milésimo de segundo, teria sobrevivido pra fazer germinar e fazer a vontade de nosso criador.
Milésimos de segundos... ”Senhor do ser ou do que poderia ser”. É exatamente aí que, sutilmente, sempre esteve e sempre estará a mão de Deus.
Nosso passado foi regido e construído por infinitos milésimos de segundos que, divinamente, foram se combinando para, ao longo de nossas vidas, intencionalmente, sem que percebêssemos, fossem, sob a batuta de nosso ser supremo, verdadeiros tijolinhos na edificação do momento presente.
Milésimos de segundos... Um elo entre o tempo e o espaço que, se alterado no mais intimo de suas conexões, teria mudado todo um momento futuro.
Em nossas vidas, cada um de nós, por mais simples que seja, tem sua missão a cumprir e, por ignorarmos esta essência, é que nos deixamos, muitas vezes, sufocar pelo inconformismo e pela incompreensão.

Enfim... Antes de tantos arrependimentos e porquês, procuremos abrir os olhos e sentir, com toda plenitude, o que de bom conseguimos construir em nossa volta. Perceberemos, em milésimos de segundos, que sempre esteva ali, bem ao nosso lado, tão pertinho da gente: “nossas respostas, nossas dúvidas e nossos porquês.”

“Aceita as surpresas que transformam teus planos, derrubam teus sonhos, dão rumo totalmente diverso ao teu dia e à tua vida. Não há acaso. Dá liberdade ao Pai, para que ele mesmo conduz a trama dos teus dias...”
(Dom Hélder Câmara)

3 comentários:

  1. Completando 12.000 visitas, fico cada vez mais intrigado com os fatos que acontecem nesta parceria com o Serjão. Sabe aquela coisa de "o universo conspira a seu favor?" Pois é, venho fazendo incursões na Psicanálise e no Zen Budismo para falar de um assunto que o Serjão descobriu à sombra do seu pé de caqui há seis anos. Que bom que o tempo e o espaço não contam, e que tudo vale a pena, quando a alma não é pequena!

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  2. Você me emocionou muito.
    Às vezes também faço meus questionamentos mas diferente de você, eu tive sim a ajuda da Psicanálise e foi muito bom.
    " A verdadeira sabedoria consiste em escutar a própria alma.
    Abraço.
    Sônia.

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  3. Concordo com você, Serjão , quando diz que não há como não questionar, porém, não sei se a palavra certa seria questionar.
    Talvez... refletir o passado.
    Quanto às oportunidades perdidas, pergunto:
    - será, que de fato, foram perdidas? Seriam elas gratificantes? Cada decisão tomada na vida pode, realmente, mudar uma trajetória na nossa vida,mas quem nos garante que seria para melhor?
    A vida, eu sei, é feita de consequências . Mas o resultado futuro ser avaliado como sendo melhor ou não , não há como. Por isto disse em outro momento que devemos refletir, sim, o presente, procurar acertar, procurar o que para nós , pelo menos naquele momento achamos ser o melhor, mas avaliar os resultados futuros, é impossível. Prudência faz parte destas decisões...mas quando jovens, nem sempre o somos.
    Todos nós temos nossas limitações , nossos medos, portanto, mesmo com nossas melhores inteções podemos estar fazendo escolhas acredidanto ser o melhor e na verdade, pode não ser. Afinal, o que é o melhor? O melhor para mim, pode não ser o melhor para o outro e vice versa.
    Acredito que foi esta a sua conclusão. Vejo que você descobriu o "ser feliz" e isto é o que importa.Descobriu sua missão e que nela, a todo instante, a mão de Deus esteve presente; e isto desde o seu nascimento até o momento atual.
    Que bom!
    Você escreveu: -"Dá liberdade ao Pai para que Ele mesmo conduza a trama dos seus dias..."
    Esposo e pai dedicado, irmão maravilhoso, amigo sem igual, homem honesto, de rara percepção e inteligência, bom contador de "causos", alegria e modelo para os filhos e esposa, amado pela família, trabalhador,, membro do grupo Pytomba, amante do futebol , dos de penas, da boa música e agora... até escritor! Louvado seja Deus!
    Nosso primo Cavalheirinho, quando esteve em São João a última vez que aí fui, comentou comigo:
    "-Feliz o homem que consegue constituir família e sobreviver no mesmo local em que nasceu. São tão poucas as pessoas que conseguem isto!"
    E fez menção a você dizendo: "- olhe o Serjão, feliz é ele. São poucos, hoje em dia , que conseguem o que ele conseguiu."
    Para nós que tivemos que sair de São João
    ( alguns saem porque querem sair mesmo)o que você conseguiu é considerdo uma graça de Deus.
    Fico pensando no nosso pai Tuninho.Nunca vou me esquecer das inúmeras vezes em que o ouvi dizer:"- Eu sou muito feliz, tenho tudo , graças a Deus, que eu quero. Minha casa, meus filhos maravilhosos, uma esposa que eu amo, genros, noras e netos,saúde e alimento. O que preciso mais? Posso me considerar um homem feliz.E repetiu isto até o final de sua vida. Lembremos que ele não pode estudar, viajou pouco,saía de casa quase somente para um futebol , trabalho , Igreja, casa de parentes ou ajudar alguém. Conclusão: era um homem simples. Mas na sua simplicidade soube ser feliz...Descobriu a arte de ser feliz.
    É isto aí meu irmão. O essencial é ser feliz!
    Amo você.
    Mika

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