sexta-feira, 26 de março de 2010

ORIGENS



O BARRACÃO DO SR. ANGINHO - Capítulo 2

(Artigo - Serjão Missiaggia)

Muitas foram as guerras que fazíamos com a turma da Santa Rita. Separados apenas pelo córrego, travávamos memoráveis batalhas de arco e flecha. Enquanto nossos adversários faziam suas armas em bambu, as nossas eram forjadas em ferro.
Numa dessas batalhas nosso amigo Eduardo resolveu passar, sem mais nem menos, para o lado do inimigo. Infelizmente, antes mesmo que alcançasse o portão de saída, foi atacado pela cachorra da casa, de nome Chep. Coitado! Melhor ter ficado onde estava. Chegou do outro lado bastante assustado e com alguns rasgos no traseiro. Como se não bastasse, ainda descarregamos todo nossa munição em cima dele.

Fantásticas eram também as montagens dos carros alegóricos do Clube Democráticos que, no carnaval, eram sempre feitas no Barracão. Jamais me esquecerei da presença de nosso inesquecível professor Biel, que ficava a comandar todo o trabalho de montagem. O galpão era todo cercado por lonas, e pouquíssimas pessoas, entre as quais nos incluíamos, tinham acesso ao local. Bons tempos de rivalidade entre Democráticos e Trombeteiros. Ficávamos ajudando pra depois faturar aquele lanche.

Quase que diariamente fazíamos também deste espaço nosso campo de futebol onde nossas possantes “bombadas” saiam pra tudo o quanto é lado. O frentista do posto de gasolina, muitas vezes, nos servia de gandula. E não foram poucos os “torpedos’ que passavam voando sobre sua cabeça enquanto abastecia um carro.
Interessante que aquele mesmo portão, que na época nos servia de gol, ainda continua inteirão, no mesmo lugar. Hoje vejo que não se fazem portões como antigamente.
Ao contrário, naquela época, não se faziam bolas como hoje, e quando a danada molhava, aí meu amigo, ficava mais encharcada que bola de meia. Parecia que estávamos chutando um tijolo. Muitas vezes, na tentativa de amenizar o problema, íamos ao açougue para pedir sebo de boi, e assim darmos uma boa ensebada na bicha. Até que servia para impermeabilizar um pouco mas, ao misturar com aquela água do córrego, a coisa fedia ainda mais. Era aquele cheiro de “inheca” que somente saía depois de um bom banho.
Tínhamos até uma já bem combinada escala para buscarmos a bola dentro do córrego. Quantas e quantas vezes, ao acabarmos de tirá-la de dentro d’água e darmos um forte chute, espirrava em nosso rosto aquela água imunda e fedorenta. E as amebas, com certeza, morriam de rir.

Depois diziam que dona Mariana era brava! Hoje, fico a imaginar como uma pessoa poderia passar o dia inteiro escutando a barulhada daqueles petardos explodindo no portão. E bem ao lado da cozinha. Se pensarmos bem, foi uma verdadeira heroína.
Dona Nicoleta, sim, era de poucas brincadeiras.
Certa vez, combinamos com Silvio Heleno o seguinte: quando fosse chamado para almoçar, educadamente, como sempre fazia, nos convidaria também. Só que o faria, desta vez, em voz alta. Neste dia, éramos mais ou menos uns cinco ou seis colegas. E assim foi. Quando Dona Nicoleta o chamou para almoçar, ele, em voz alta, também nos convidou: - Aceitam almoçar pessoal? Nós, com a voz ainda mais alta, respondemos juntos e mais que depressa: - Aceitamos sim!
Eis que, lá de dentro da cozinha, ela grita ainda mais alto: -Cada um vai caçando seu rumo! Tão achando que aqui é hotel? Vem, Silvio Heleno! Ou na casa desse pessoal não tem comida?!
E assim fomos todos nos retirando, dando boas risadas.

Fizemos deste Barracão até local para treinarmos tiro ao alvo. Isto sempre acontecia quando Fernando, primo do Silvio Heleno, aparecia por lá, trazendo consigo seu arsenal de armas de fogo (bereta, pistola, espingardas, revólver 22, 38, 39, 40, 41 e por aí a fora). Era tiro pra todo lado. Pobre daquele urubu que fizesse rota sobre o terreiro.
E, por falar em Fernando, imaginem vocês como ficávamos, quando ele aparecia no barracão pilotando seu famoso Kart. Ficávamos fascinados com a possibilidade de poder guiá-lo. Ainda hoje não vi outro igual em São João.

Como resistir a não brincar também num lugar onde existia um Fordinho 29 em que ficávamos dirigindo o dia inteiro? Era super-raro e emocionante podermos ligar e guiar um carro de verdade, principalmente naquela época. Interessante que, até hoje, não dirijo. Quem sabe não seria por causa daquele domingo em que matei missa só pra poder ficar fazendo umas manobrinhas? Só sei que Dona Venina ficou uma fera. Trauma de infância?

Na próxima semana, não percam: a super-buzina, o trote em cores e o Cine Teatro SERSIL!

4 comentários:

  1. Bons tempos aqueles de rivalidade entre Democráticos e Trombeteiros.
    Alem da beleza dos carros havia as famosas gozações. Era tudo muito alegre, salutar e cômico. Enfim...

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  2. Era realmente um sufoco chutar uma bola daquelas. Se o caboclo estivesse descalço e se a bola fosse à famosa numero cinco aí que o bicho pegava.
    Aja dedão!

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  3. Silveleno, naquele tempo, já com uma bela consciência ecológica, (coisa rara pra época) deixava algumas vezes, o Fernando, a ver navios. Ou melhor, a ver alvos fugindo.
    Isso sempre acontecia quando, ao tentar acertar um algum animal (quase sempre pássaros) ele chegava sorrateiramente escondido por traz do Fernando e ficava a balançar os braços e a jogar pedras despistadamente no meio do mato. Tudo para que, os possíveis e inocentes abates, pudessem fugir momentos antes do tiro fatal.
    Sem nada entender da constante falta de sorte, só restava mesmo ao Fernando, ficar olhando os pobres bichinhos baterem asas e voarem pra bem longe dali.

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  4. Como foram bons estes tempos, em que brincavamos como crianças. Tudo era motivo para alegria e com entusiasmo empreendiamos as mais diversas aventuras, desde guerras até jogos de futebol onde nos gabavamos de termos uma grande "bombada", que aterrorizava os goleiros....A infancia é linda.

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