sexta-feira, 5 de março de 2010

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CRÔNICAS GALINÁCEAS - DE DONALD A MARGARIDA
EPISÓDIO 4 - BUSCA PATÉTICA
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Na semana passada, num bairro afastado, num quintal sombrio de uma casa escura, eu me encolhia ao lado de uma cerca de bambu, e juro ter visto brilhar na escuridão uma lâmina, acho que era um canivete. A imagem de homem foi se aproximando lentamente até que, pela luz da varanda, pude vê-lo.
Assustado, de olhar arregalado, custou se aproximar. Provavelmente, estaria imaginando que eu pudesse ser um ladrão. Vindo lentamente para meu lado, um tanto desconfiado, aproximou-se de mim trazendo consigo um suave bafo de álcool. Se havia algo na mão, porque ele a enfiou no bolso da calça.
Antes que me interrogasse, procurei, de imediato, num ato inconsciente, de coragem e desespero, ir tomando pulso da iniciativa. Simulando segurança, fui logo perguntando:
- Nem brinca que já comeu meu pato!
Ele, por sua vez, até então sem nada entender, sentou-se na escada e, aliviado, me disse:
- Ô meu! Assim, cê me mata de susto! Achei mesmo que poderia ser um ladrão! Quanto a este pato, se for o que estou pensando, confesso, a você que, pela primeira vez, fiquei com pena de um bichinho. Resolvi então, presenteá-lo a um velho amigo.
A seguir, dizendo-se feliz, com minha presença, ofereceu-me um pedaço de “torremo”. Aliás, gordura purinha, acompanhada de fragmentos de torresmo!!!
- Numa outra oportunidade! Quem sabe!
Agradecendo, então, pela bela acolhida, pedi que não reparasse, pois, naquele momento, estava empenhado somente em achar aquele bendito pato. Custe o que custasse. E fui logo me mandando dali.
Felizmente, para minha sorte, este seu amigo era também um conhecido meu.
Sendo assim, no outro dia, bem cedinho, antes mesmo de abrir a oficina, lá fui eu procurá-lo.
Por sorte, logo o encontrei, pois seu escritório era bem aqui ao lado, isto é: na antiga casa do Bolote. Chegando lá, após pedir licença, procurei ir entrando. Fui caminhando até sua mesa e sentei-me.
Ele, extremamente ocupado, com centenas de papéis sobre a mesa e com dezenas de pessoas a sua espera, perguntou-me qual a razão de minha visita:
- E aí Geraldo?! Como tem passado?! – disse-lhe, meio sem jeito, para, em seguida, começar a contar meu drama.
Ele, por sua vez, um tanto abobado e incrédulo, esperou-me acabar e disse:
- Ô Serginho! Eu também sou pai e já passei por uma situação muito parecida. Realmente, eu ganhei o pato. Só que, para achá-lo novamente, será muito difícil!
- Por que, Geraldo? - questionei um tanto apreensivo!
- No meu sitio, existem mais de trezentos patos! E todos soltos na
natureza! Se você quiser, poderemos, pelo menos, tentar encontrá-lo! É só descer o rio! Terá que ser à noite e de canoa! Se possível, ainda hoje, pois viajarei amanhã! - concluiu.
Comecei, então, nesta hora, a imaginar como seria Geraldo e eu, descendo o rio, de canoa, numa noite chuvosa e sem lua, à procura de um pato. Isto sem contar que ele já havia me confessado que nem sabia nadar!
Um tanto receoso, pedi que me desse mais um dia, para que, assim, pudesse sentir, com mais firmeza, como a coisa iria caminhar. Ao sair de seu escritório e já passando pelo corredor, ainda tive que encarar várias pessoas. Divertiam-se e riam bastante, pois haviam escutado nossa conversa, do lado de fora.
Procurando por patos, na Internet, fiquei sabendo que, no dia 29 de janeiro de 1992, um navio cargueiro deixou cair parte de sua carga no Oceano Pacífico, liberando, adivinhem o quê? Milhares de patinhos de borracha amarelos. Surpreendentemente, muitos deles ainda continuavam boiando até os dias atuais, inteiros, e avançando constantemente. Eles percorreram o oceano até a costa leste dos Estados Unidos, até as margens da Groenlândia e, através do gelo, no Oceano Ártico.
Não devia ter lido isto, pois comecei a me sentir mal. Deitei no sofá e me via numa canoa, cercado de milhares de patos rodopiando sem parar. Comecei a ficar enjoado com aquele quá-quá-quá, quando o telefone tocou. Era o Geraldo, dizendo que estava no sítio e que iria, com alguns amigos, descer o rio.
Perguntou-me se, por acaso, não me lembrava de alguma referência que pudesse identificar o pato. A única coisa de que me recordei era que, além de uma pequenina mecha preta na cabeça, existia um furo bem na pata esquerda... Ou direita?!
Mais tarde, fiquei sabendo que quase todos os patos têm um furo desses na pata.
Desliguei o telefone e me deu um aperto no coração. Os meninos brincavam e não quis dizer nada para a Dorinha. Tinha certeza de que aquela seria a noite mais longa da minha vida.
Não percam, na próxima semana, o emocionante capítulo final desta saga. Saibam como aprendi novas lições com os meus filhos e, principalmente, em que enrascadas pode se meter um caçador de patos (o pai sempre acaba pagando o pato!).

3 comentários:

  1. Como todo bom Botafoguense, que outro motivo poderia ter para estar gostando tanto desse causo do “Pato”?
    Quá- Quá Tô adorando!

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  2. Eu também, amigão anônimo. E olhe que, também, sou botafoguense. Mas creio que não é só por este motivo que estamos gostando. É porque o "causo" é bom de fato. A expectativa é uma boa arma utilizada pela Serjão que nos deixa doidos para saber o que vem pela frente. Aguardemos o desenrolar dos acontecimentos.
    Mika

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  3. E é a mais pura verdade: Os pais sempre acabam pagando o pato. Ainda mais se o pato for pata com um furo na pata. Do contrario seria pato!
    Muito divertido o causo mas é ruim ser Botafoguense

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BRIGADU, GENTE!

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