quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

QUEM SE LEMBRA DO PAI?




Crônica - Jorge Marin

No final do último Causo Verídico, postado na última sexta-feira, Serjão, ainda emocionado com a realização do filho, lembrou-se do seu pai, o sr. Tuninho Missiaggia. Segundo ele, em texto não publicado, conversando com pessoas da época da juventude do seu pai na década de 30 (como Neca Beraldo, Pedro Caxambu e outros), teve o orgulho de saber que Tuninho Missiaggia teria sido o maior meia esquerda de São João de todos os tempos. A vida esportiva desse craque, que também era um gentleman, tenho certeza que vai ser assunto de uma futura crônica aqui no blog.
A saudade do pai, num momento de realização do filho, traz à tona a questão desta instituição, hoje tão fora de moda, tão pouco valorizada, que é o pai. Pai, na década de 30, era uma verdadeira força da natureza. Pablo Neruda descreve seu pai, dizendo: “numa rajada o vento entrava com meu pai, e entre os dois passos e pressões, a casa estremecia.”
Quando éramos crianças, as referências ao pai eram sempre respeitosas, como Papai Sabe Tudo, Pai Herói, Pai Nosso. Tínhamos o orgulho de mostrar aos nossos amigos (“aquele é meu pai!”) e, de certa forma, nunca nos sentíamos desamparados, pois, voltando para casa, sempre havia aquela presença maciça, imponente, definitiva. Crescíamos e era o pai que nos barbeava pela primeira vez.
Para as meninas não era diferente: a figura paterna era um ideal de homem. Falavam baixo na sua presença e, quando em bando com suas colegas, planejavam alguma aventura mais ousada, era comum se ouvir: “não posso, meu pai não deixa.”
E, realmente, a palavra paterna era uma palavra de ordem. “Não” era “não” mesmo, e não tinha choro nem vela que mudasse seu veredicto.
O mais estranho é que, apesar disto, era bom! O pai era absoluto, mas não absolutista, sabia dar ordens, impor limites, mas, ao mesmo tempo, era uma pessoa do bem. Trabalhador, honesto, bom marido, dedicado. Estes eram os adjetivos que se aplicava à maioria dos pais. Não havia muita preocupação sobre a situação financeira, formação acadêmica ou mesmo sucesso profissional.
Um pai era... um pai. Isso bastava. Havia, dentro das casas, um código não escrito que deixava claro que aquele homem (na época os pais eram apenas homens) era o provedor, o responsável pelo sustento da família, e também a pessoa a qual devíamos obediência e respeito. Um norte, um porto seguro e um exemplo de vida.
Lógico que nem todos os pais eram tudo isso, e também não há nestas afirmações nenhum saudosismo. Eram outros tempos. Tempos difíceis, mas, estranhamente, mais fáceis de serem vividos. Obedecíamos às ordens sem questionar, mas sabíamos o que nossos pais esperavam de nós. Quase ia dizendo que não éramos livres, mas brincávamos na rua o dia inteiro, passeávamos na casa dos parentes e amigos, namorávamos à noite nos jardins e fazíamos serenatas nas madrugadas. A única obrigação era avisar: sua benção, pai! Vai com Deus, meu filho!
Hoje colocamos a culpa na política, na mídia, na emancipação feminina, mas a verdade é que cada um de nós, pais atuais, nos encarregamos de esculhambar um pouco a figura paterna: seja por simples omissão, ou por querer concorrer com nossos filhos, ou por pura preguiça. O fato é que uma grande quantidade de famílias em nosso país é chefiada pelos avôs, que são aqueles pais “antigos”. Uma outra parte é chefiada pelas mães que, aliás, cumprem por vezes muito bem a função paterna.
Mas o pai não precisa ser assim este zero à esquerda, ou este estepe de mãe. Voltando à crônica do Serjão, notamos que, para ser pai, mas um pai “daqueles”, digno de respeito, obediência (não precisa ser tão cega) e imitação, basta acompanhar o filho, não por culpa ou por obrigação, mas por respeito mútuo, admiração mútua e confiança. Precisamos resgatar esta função pai, ainda que seja apenas aqui na terra! E lembrar, sempre que possível, daqueles belos exemplos que estão no Céu...

6 comentários:

  1. Jorge, você falou tudo.Fiquei emocionada e assino em baixo.
    Que muitos leiam o seu texto é o que desejo neste momento.
    Quanto ao sr Tuninho, aquele cumpriu de fato sua missão de pai.Como me orgulho dele!... E que saudade! " Eu era feliz e JÁ SABIA"
    Mika

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  2. Jorge,
    Faço das palavras da estimada irmã as minhas.
    Obrigado pela surpresa e parabéns pelo belo Artigo

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  3. Eu posso afirmar que este Serjão é um Paizão...
    Um Paizinho...Um Papis...Um Pai tudo de bom!!!
    Tenho muito orgulho dele!!!!!!!!!!

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  4. parabéns pela sua sensibilidade, Jorge ! Tenha certeza de que as pessoas que viveram esta época em SJoão, tinham Pais com 'P' maiúsculo. Sr. Gabi, Sr. Dante, Sr. Tuninho, Sr. Anginho e tantos outros inclusive o meu. Eles puxavam nossas orelhas quando preciso, vibravam com nossas conquistas e se divertiam muito com estes 'causos' que voces estão registrando. Me lembro uma vez que pegaram carro dele e foram fazer serenata em Descoberto para a nova namorada de um de vcs (se não me engano, do Dantinho). Só que alguém cochilou, capotaram a caminhonete mas, graças a Deus, ninguém se machucou!. Meu pai ficou muito bravo mas, o que mais o intrigou era como teriam tirado o carro da garagem e, ele não ouviu nenhum barulho.
    Tive a felicidade de estar morando em SJoão nesta época e, saber de muitas destas histórias.

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  5. Jorge,Aprecio muito suas crônicas e só agora aprendi como comentar,este o motivo de parabenizá-lo tão tarde.Sou sua admiradora e amei seu Relatório sobre os pais. Tive um pai maravilhoso,sinto saudades e muitas saudades e ele é sempre comentado com meus filhos e netos, falamos dele como ainda estivesse entre nós.Rimos de seus casos, suas brincadeiras, suas piadas inventadas,seu grande amor por nós. Avante nas crônicas bem boladas e no entusiasmo com que as apresenta.Edna Maria Missiaggia Picorone

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    1. Ô Edna, você me deixa sem graça: costumo dizer que, na casa dos Missiaggias, eu já abro a geladeira sem pedir. É que o Serjão já fala comigo tão de irmão pra irmão, que acabo me achando "de casa" e fico até com raiva quando alguém abusa da bondade de algum de vocês. Assim como os seus pais, os meus ensinaram o caminho da paz, da paciência e da compreensão. Só que, como eu sou mais teimoso, aprendo na prática, com o Serjão, o que fico anos e anos, tentando entender nos livros budistas que eu leio. Brigadu!...

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