sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O CIRCO DO RISADINHA


Menino em São João, a arte nos vinha no campo do Mangueira. Pelos circos! Eram muitos e todos imponentes e barulhentos. Às vezes, distraídos em nosso jogo de crica (bolinhas de gude), tínhamos que parar para dar passagem a algum elefante. Boquiabertos, escondíamos atrás das saias de nossas mães e avós.

Apesar daquelas maravilhas, o circo que mais deixou saudade, ou pelo menos mais histórias foi, com certeza, o Circo do Risadinha. E não é pelo fato de levar no título, o nome do palhaço, que, aliás, era o dono do circo. O que marcou a passagem do Circo do Risadinha em São João foi o fato de a companhia ter ido à falência em nossa terrinha.

A estreia do circo foi um sucesso, como geralmente acontecia com os circos montados no campo do Mangueira. O povo se encantava com as piruetas dos trapezistas; com as intervenções atrapalhadas do Risadinha e os outros palhaços; com os músculos de Paulo, o homem forte; com o boneco do ventríloquo Vanderlei e, finalmente, com o grande teatro, onde todos os participantes do circo representavam peças tradicionais como “A Vida de Cristo”, “Coração Materno” e até mesmo uma versão brasileira de “A Quadrilha da Fronteira” cujo título não me recordo.

Mas, como eu disse, o circo quebrou e, para garantir a subsistência da trupe, foram obrigados a prolongar indefinidamente as suas apresentações. Para não apresentar sempre o mesmo espetáculo, criaram novas peças, inverteram a ordem dos números. O homem forte passou a aceitar desafios de quem pudesse rivalizar com ele. O boneco do ventríloquo passou a contracenar com os palhaços e algumas pessoas da cidade começaram a aparecer como figurantes nas peças. Muita gente aproveitou as roupas que usava na celebração da Sexta-Feira Santa na Matriz para “trabalhar” no circo.

O dinheiro foi raleando. A mulher do Risadinha começou a ensinar receitas para as donas de casa locais. Algumas pessoas traziam mantimentos e doavam para o pessoal do circo. Paulo, o homem forte, se apaixonou por uma moça lá do Santa Rita. Vanderlei passou a frequentar o Botequim do Vilela. E teve um menino lá do São José que começou a aprender trapézio.

O campo do Mangueira parecia um centro de visitação. Nós, meninos, fomos autorizados a assistir o ensaio da menina que andava no arame. Na verdade, éramos todos apaixonados por ela. A moça do Santa Rita ficou noiva do Paulo. Algumas artistas atravessavam a ponte pra pedir açúcar e gelo na casa do Arlindo. Moleques do circo catavam manga no terreiro do sr. João Monteiro.

Até que um dia o Risadinha vendeu a lona e a caravana partiu. A moça do Santa Rita foi junto.

Será que, nos dias de hoje, o Risadinha faria sucesso? Quem sabe, como deputado federal? Mas, o mais provável é que fosse apenas mais um eleitor. Como nós.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : disponível em http://cncariri.com.br/o-circo-chegou/

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