Tenho
corrido de política como o diabo da cruz. Não que eu seja apolítico, ou
daqueles que dizem “eu não vou votar em ninguém porque ninguém presta”. Quanto
a isso me considero até otimista. Se é mesmo verdade que ninguém presta, esta é
a hora de mudarmos totalmente a cara dos nossos representantes. E, se não
mudarmos, então a responsabilidade será inteiramente nossa.
Mas a
minha evitação da política tem sido quanto ao debate. Agora idoso, faltam-me estupidez
e falta de educação que têm sido uma tônica nas discussões. Ainda assim, gosto
de acompanhar as falas dos candidatos e até aceitado a oportunista amizade de
alguns no meu Facebook, só pra ver o nível da campanha, mas confesso que me
falta também a paciência para ler aqueles textões de promessas.
No entanto,
a declaração de um candidato a vice-presidente, na última segunda-feira, me
tirou um pouco do sério. Disse ele que as famílias POBRES “sem pai e avô, mas
com mãe e avó” são “fábricas de desajustados” a fornecer mão de obra ao
narcotráfico.
Ora,
minha gente, como sou de família pobre, isso quer dizer que só não sou
traficante por sorte: meu pai e meu avô morreram depois que eu já era adulto.
No entanto,
tenho muitos parentes e amigos, igualmente pobres, que estão naquela situação
de terem sido criados pelas suas mães e avós, seja porque os pais e avôs
faleceram, seja porque se separaram de suas mulheres. Dessa turma, que eu
saiba, nenhum está no narcotráfico.
Mas o que
me indignou nessa fala é porque conheço essas mulheres que foram obrigadas a
tomar para si a responsabilidade de criar seus filhos e netos sem seus companheiros,
e sabem o que eu acho da maioria delas? Elas foram admiráveis!
Nós,
homens, temos a mania de querer enquadrar tudo, explicar tudo, projetar um
ideal e querer que os filhos sigam. As mulheres, ao contrário, têm essa
capacidade extraordinária de saber exatamente o que é possível e o que não é.
Até falam de feitos impossíveis umas com as outras, mas sempre fazem o que é
possível. E olha que o fazem com extrema competência!
Dirão que
há de se impor limites aos filhos. Essa é a chamada função paterna, e, neste
ponto, eu concordo com aquele político: o pai é o responsável por educar, moldar,
controlar e limitar. Porém, e isso é muito IMPORTANTE: não é necessariamente o
pai-pessoa que tem que fazer isso, nem que seja um homem. A função paterna pode ser exercida por
qualquer pessoa na qual o filho reconheça uma figura de autoridade.
Então,
minha gente, muita calma nessa hora. Da mesma forma que exijo respeito à minha
mãe e às minhas avozinhas, vamos respeitar as genitoras. Até mesmo
daquelas pessoas que acham um ato supremo de macheza desrespeitar a mãe dos outros.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em https://www.flash.pt/lifestyle/detalhe/filhos-quase-indesejados-saiba-quem-sao-os-famosos-que-estiveram-para-nao-nascer
Nenhum comentário:
Postar um comentário