quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O PAPAI NOEL DA TIPOGRAFIA


Passeando com a patroa (lembram do termo?) no dia 23 pelas ruas de Juiz de Fora só para curtir...  Presentes já comprados, filho na casa da madrinha, vamos nos conceder o direito de sentar na praça, comer um cachorro-quente, conversar com os vizinhos e poder criticar a decoração das lojas.
Ledo engano.  (Aqui, vamos abrir um parêntese: esta palavra “ledo”, embora denunciadora de idade, também é bem legal!).  Como dizia, ledo engano, pois, na praça, nas lojas, em frente às casas e no bairro todo, reina o caos: carros de som executando o último funk.  Não é que eu não goste de funk; na verdade, eu odeio funk! Além da “música” alta, motoristas e motoqueiros discutem e chamam para a briga: “desce aqui, se você for mulher!”.  Sim, amigos, na verdade são duas moças ameaçando fazer aquilo que, antigamente, nós, moços, chamávamos de “cair na porrada”.  Nas lojas, filas e reclamações, assim como nos restaurantes e nas lanchonetes.  Pedimos ao Tio para embalar nossos hot-dogs e vamos pra casa.  Lá, pelo menos, podemos lanchar ao som do Credence...
Fico pensando: faço “de um tudo”, como diziam nossos pais, para não ser saudosista.  Acho que a memória é uma das piores fontes de infelicidade.  E explico: ou nos lembramos de coisas muito boas que já acabaram, ou nos lembramos de coisas que deixamos de fazer, e que, às vezes, ainda pensamos que são boas, mas não há como fazê-las porque não somos mais quem éramos, e nem as coisas são como eram.
Mas, nestes dias de Natal, uma daquelas coisas não me sai da cabeça: o PAPAI NOEL DA TIPOGRAFIA!  Minha primeira vez com o Papai Noel foi na Tipografia e acho que, admirando aquela figura meio mágica meio santa, atrás do vidro e sempre se movimentando em algum brinquedo, foi que aprendi a ARTE DE FANTASIAR.  Coincidentemente, minha mulher vem correndo me mostrar uma frase do Niemeyer: “a gente precisa sentir que a vida é importante, que é preciso haver fantasia para poder viver um pouco melhor”.
Será que minha vida tem sido  melhor por causa do Papai Noel da Tipografia? – penso.  Sem cair no sofisma saudosista, o que posso afirmar, com certeza, é que tínhamos uns natais fantásticos: simples, até pobres.  Mas o nível de fantasia era imenso! Descíamos e subíamos a Rua do Sarmento, dávamos uma olhada naquele forte apache exposto na Casa Leite, víamos as pessoas passarem tranquilas, meninos vendiam picolé Sibéria, mas o melhor estava por vir: como estaria o Papai Noel da Tipografia?  Às vezes, pedalando uma bicicleta, outras balançando numa cadeira, com um olhar distante...
Será que ele leu minha carta? – perguntávamos.  E, na manhã do dia 25 de dezembro, procurávamos, entre os presentes, que não eram muitos, um vestígio daquela figura que só conhecíamos de nome, e da vitrine da Tipografia.  E, naquela paz, éramos felizes, muito felizes...

Crônica: Jorge Marin
Foto: Facebook do amigo Everson Rezende

4 comentários:

  1. Amigo Jorge,imagine as minhas lembranças do Papai Noel da tipografia da firma Rocha&Cia.,eu que passei a maior parte da infância morando ali em frente e vendo o bom velhinho ano após ano em situações diferentes : todos os presentes que eu ganhava tinha certeza de que ele entregava pessoalmente em minha casa e,depois,ia lá agradecer,pois só o retiravam da vitrine dias depois.

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  2. Nilson, a gente sempre diz, na Psicanálise, que os traços estruturais da pessoa vêm de muito tempo. E é verdade: a atitude de atravessar a rua e ir agradecer ao Papai Noel é a sua cara! Abração.

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  3. Mas o bom velhinho sempre existirá,
    Semeando o faz de conta e a esperança,
    É só acreditar e deixar pulsar seu lado de criança.

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  4. Muito bom.. quanto mais leio as cronicas... mais saudades sinto...

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