quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O PIPITA ERA UM MENINO



Como vai? - perguntam. Uns dizem “vou levando”, “bem, obrigado”, “vou indo”, ou até mesmo aqueles chatos que, ouvindo esta pergunta retórica, fazem questão de contar todos os fatos para quem perguntou.
Somos pytombenses e, dessa forma, bebemos a vida como quem toma água de mina depois de uma caminhada. Sabemos que a vida, mais do que vivida, mais do que sonhada, tem de ser saboreada. E aos pouquinhos, de preferência. Com a família em volta, alguma música no fundo e muito humor, mas muito humor mesmo.
Assim, vamos construindo nossas existências, e todo este passado que volta aqui nas páginas do blog, não é, com certeza, um lamento, ou um arrependimento, ou mesmo uma apologia aos “velhos bons tempos”. Que nada! O tempo bom é agora, pois, se eu tenho vontade de comer amora, vou ali fora, na feira, e pronto! Na verdade, eu não acho. Mas, a própria lembrança da amora já adoça a boca, já sossega a vontade.
Cinqüentões, os filhos vêm e vão, os netos quebram a louça e, se ouvimos alguma música do álbum PULSE, falamos “ah, é do disco novo do Pink Floyd!”. Véi! (e aí não é só a interjeição usada pelos garotos), véi, não tem nada de novo, véi! Isto tudo é do século passado. E, no entanto, vivenciamos, graças a Deus, todas estas emoções, como se tivéssemos acabado de voltar de um baile do Pytomba.
Até que, de repente, acontece uma coisa chata! E, neste caso, não há nada mais chato do que a morte. A morte é pior do que aqueles telemarketings que ligam pra sua casa no domingo de manhã. Ela entra sem ser chamada e te leva sem chance de defesa.
Você está jogando uma peladinha com a galera, vem a morte, fura a bola e... fim. Ou você acabou de pagar as prestações para aquele cruzeiro pela Europa e a “mala”, a morte, vem e faz o seu checkout do planeta.
Outro dia, eu estava remixando uns tapes de futebol do Pytomba e lembrando da turma, da animação, quando recebo um e-mail do Serjão, comunicando a morte do Paulinho Pipita. Mais do que triste, fiquei tão assustado, corri para a cozinha e falei para minha mulher:
- Mas o Pipita era um menino! Isto não era para acontecer...
Ponderada e sábia, como são as mulheres nestes momentos, ela respondeu:
- Ele era um menino, assim como você é um menino.
E, de fato, somos todos meninos. Na medida em que acreditamos na beleza imensa da vida, na vitória da bondade humana, e no aprendizado constante.
Pipita era um menino tranquilo no Ginásio do Sô Bi: lembro-me das bagunças, das correrias, do futebol e, dentro daquela algazarra toda, lá estava ele: calmo, elegante e bem penteado. A matilha de anjinhos gargalhava e urrava, mas não o Paulo César. Ele ficava ali, tranquilo e absolutamente silencioso. Não era, definitivamente, uma pessoa estridente.
Nos jogos do Pytomba com o Pingão, aconteciam aquelas baixarias; até o Quirino, que estava apitando o jogo, foi expulso de campo. Brigávamos, nos descabelávamos (como era bom ter cabelo!), e mesmo nesta hora mais caótica, o Pipita perguntava, com aquela voz educada:
- Gente, posso bater a falta?
Se, pelo menos, ele tivesse uns noventa e nove anos, eu não diria nada. Afinal, esta é uma boa idade para pendurar as chuteiras, e o próprio corpo já está um tanto amarrotado. Mas, com a idade que o nosso amigo tinha, é um desperdício, é uma sacanagem. E é menos um do bem, nesta nossa luta diária contra a desconstrução.
Mas, como dizia o Fernando Pessoa: morrer é só não ser mais visto, morrer é a curva da estrada.
Então, segura aí, Paulo, pois, daqui a uns tempos, estaremos todos, pytombenses e não-pytombenses chegando por aí. E de Kombi.

(Crônica - Jorge Marin)

3 comentários:

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL