sábado, 9 de maio de 2009

AS MANGAS ROLAM EM SÃO JOÃO


Criar um conjunto de rock não é tarefa assim tão fácil. A começar pelo nome: uns queriam Derruba Clube, mas, para a época, o nome parecia subversivo demais. Até que se criou um consenso de que o nome ideal seria Pitomba na Oreia. Como não se sabia no dia em que o nome foi escolhido, a pitomba é a fruta da pitombeira, mas o significado que se queria era mesmo o de um “tapa na orelha”. Alguém foi buscar um dicionário (geralmente um chato), descobriu que os dois significados estavam corretos, mas sugeriu:
-Por que não colocamos Talisia Esculenta? Levou imediatamente diversas pitombas.
Os primeiros ensaios foram realizados no barracão do Sr. Anjinho Picorone, que resolveu transformar este “cavern club” do Pytomba em um depósito de mangas. Esta situação inusitada, de dividir os ensaios com aqueles frutos em fase de amadurecimento, em nada perturbava os ensaios da garotada. Afinal, o conjunto também ainda estava verde.
É importante ressaltar aqui que o citado barracão ainda existe, está aberto á visitação pública de segunda a domingo e, a exemplo da ex-casa de Elvis Presley, chamada de Graceland, este importante local também deverá ser tombado como patrimônio cultural da municipalidade, sob o nome de Mangoland, ou Pytombaland.
Num dos ensaios, um grande temporal assolou a cidade, destelhando quase completamente o galpão. A luz acabou, e ali, no escuro, molhados junto com as mangas empapadas de barro, só uma certeza manteve o grupo unido. Não, não era aquela fé de que um dia seremos famosos, mas sim: “Salvem a aparelhagem!” (que, como era de se esperar, era toda emprestada).
Foi uma grande decepção, não pela aparelhagem – afinal eram apenas bens materiais – mas sim com a interrupção de um ensaio tão fantástico, apesar do temporal, apesar da falta de luz, apesar do teto sem telhas e apesar de estarem todos atolados no barro até as canelas. Num mar de mangas!
Em um outro ensaio, Guilherme Beline (tem sempre um figura!) passou de carro pelo local e ouvindo a barulhada e vendo o piscar das luzes, saiu pela rua convidando a todos que via para um “baile na casa do Sílvio Heleno”. A mãe deste, dona Mariana não conseguia entender a multidão de jovens passando pela sua cozinha e preferiu fechar a porta e esperar aquilo tudo acabar. Enquanto isto, o som rolava solto até a noite, e a galera dançou até que não restou manga sobre manga. Depois, tranquilos e calmos, todos saíram como se nada houvesse acontecido, enquanto dona Mariana ainda avaliava se poderia abrir sua porta com segurança.
O repertório oficial incluía músicas como My Pledge of Love, Isn’t It a Pity, What’s Life, It Don’t Come Easy. Como se vê, a influência dos Beatles era clara.
Mas quem eram os componentes fundadores do Pytomba?
- guitarra solo, SÍLVIO HELENO;
- guitarra base e voz, DALMINHO;
- bateria, SERJÃO;
- baixo MÁRCIO VELASCO;
- chifre e vocal: RENEZINHO LADEIRA
- iluminação: RENATINHO ESPÍNDOLA.
Os primeiros aparelhos e instrumentos eram exclusivos e feitos especialmente para a banda: enquanto os outros utilizavam a bateria Pinguim, a do Pytomba – de origem desconhecida - era a Urso Polar, na verdade um surdo com esteirinha, um bumbo com pedal e um prato com arrebites. Os conjuntos comuns usavam um amplificador de voz Plantronics A100, mas o do Pytomba era o A(sem)nada e seus alto falantes pulavam alegremente pelo chão. Os violões possuíam cristais, o chifre era de boa qualidade, mas os dois microfones eram aqueles de gravador, apoiados num sofisticado pedestal Zebra, nada a ver com os genéricos da marca Girafa. As luzes, ou ambas as luzes, eram lâmpadas de Natal, giradas vigorosamente pelo iluminador. Os leigos, que não entendiam aquela revolução musical, indagavam por que não uma bateria Super Pinguim, aparelhos de guitarra e baixo Plus ou Super Tremendão, aparelhos de voz A100 ou A200, microfones Surian ou AKG, pedestais Girafa, baixo e guitarras Fender, câmara de eco, gelo seco e um órgão Caribbean?
A resposta era simples:
- Porque não!
(Texto - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

9 comentários:

  1. eheheh, boas lembranças, muito boas, parabéns!

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  2. Naquele tempo,as coisas eram muito dificeis a nível de grana, tocava-se sem recursos instrumentais e econômicos, apenas por amor a arte, a moçada do PITOMBA ralou legal... Parabens amigos, vocês merecem um busto na praça, se possível em frente a casa do Serjão... Parabens pelo blog...Abraço..

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  3. Bons tempos, nada de drogas, só biritas; beijo na boca, só depois de muita conversa; sexo então, só casado; som era tirado na marra...Como era bom, se dava muito mais valor a tudo... Parabens Pitomba. Vai aí uma idéia; já que os grupos antigos tem voltado a tocar, porque naum o PITOMBA??? Abraço...

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  4. Parabéns aos integrantes e amigos do Pitomba. Muito divertido e emocionante acompanhar as dificuldades e alegrias de pessoas que buscam e encontram diversão e companheirismo através da música. Espero os próximos capítulos dessa aventura. Sylvio.

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  5. Foi através de amigos que, dias atrás, ficaria também sabendo das quantas e quantas noites insones a que teríamos submetido ao frentista de plantão do Posto de Gasolina e a muitos moradores das casas que ficavam próximas ao Barracão.
    Como imaginar que, com aquela “pareaje” o som ainda chegaria próximo ao Esplendor? Pior é que chegava!!!

    Então, meio que atrasado... Em nome do grupo, vão aí nossas sinceras desculpas...

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  6. Acreditariam se dissesse que, até em cima de uma Maquina de Arroz muitas vezes a turma ensaiava?
    Pura verdade! Tudo teria acontecido, certa vez quando, o local de ensaio, segundo o Serjão, teria sido ocupado com uma dessa.

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  7. As lembranças são boas mas, está faltando áudios do Pitomba e também fotos do jogo PITOMBA X PINGÃO no campo do Operário.
    Quem não se lembra do primor de reclame da Eletrônica Transtec:
    Se o seu rádio estragou, procure a Eletrônica Transtec, se o seu toca-discos estragou, procure a Eletrônica Transtec,se o seu gravador estragou, procure a Eletrônica Transtec, porém se o seu rádio, o seu toca-discos e o seu gravador estragaram, procure um pai de santo, milagres nós não fazemos.
    O BLOG TÁ MUITO BÃO. . .

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  8. Glorioso Talisia Esculenta

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  9. É isto mesmo naquela época era muito dificil adquirir bons equipamentos, não conheci o Pitomba, mas conheci alguns componentes, eu era o baixista dos cobrinhas(Daniel)
    Lembro que o Silvio Heleno é que consertava os nossos aparelhos, era muito interessante.
    Abraços a todos.

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