Tentamos
imprimir uma grandiosidade nas coisas que sabemos e falamos (falamos pra
caramba!), mas, na realidade, as coisas que importam na vida são reveladas em
momentos simples, em conversas infantis e na hora em que o nosso pensamento
está distante.
A passagem
bíblica do pré-adolescente Jesus ensinando aos doutores no templo é um instante
iluminador, não pelas palavras que aquele menino disse, mas, principalmente,
pela disposição daqueles homens, tidos como “sábios, em ouvi-lo.
Quem sabe
ouvir, pode aprender. E quem aprende, dizia Paulo Freire, ensina a aprender.
Caminhando com o meu filho para a escola, somos abordados pela exibição de
alguns panfletos e revistas de determinada religião, onde o destaque é a
palavra ESPERANÇA.
- Que
será que estão dizendo sobre a palavra “esperança” – pergunta ele.
-
Provavelmente, que a esperança é a última que morre – brinco.
- A
esperança nunca morre, pai.
- Por
que, meu filho?
- Não
morre porque a esperança não é uma coisa sólida! Só coisas sólidas morrem.
Escutando
aquela declaração assim tão erudita, fiquei pensando se talvez não fosse melhor
deixá-lo em casa filosofando (e, naturalmente, jogando videogames) do que levá-lo
à escola.
Sei que,
numa situação parecida, o evangelista Lucas teria muito a escrever. Eu, no
entanto, do alto dos meus quase sessenta anos de pura e renovada ignorância,
fico pensando assim: se a esperança não é uma coisa sólida, e não é mesmo, por
que é que passamos os minutos, as horas, a vida inteira achando que as pessoas,
e o mundo, vão mudar para melhor?
E o que
seria esse “melhor” senão um comportamento ideal que está apenas na minha
cabeça? Se, para mim, um mundo melhor seria um lugar onde as pessoas não se
metessem na vida alheia, para minha vizinha de porta um mundo ideal seria um
lugar onde as pessoas fossem mais fraternas. Mas, com certeza, há aqueles que
pensam que o melhor lugar para viver é aquele onde as pessoas são bocós,
reclamam o tempo todo, mas continuam os elegendo para governá-los.
Já estou
muito velho para me iludir de cara limpa. Sei que a tendência do ser humano não
é jamais ser bonzinho e corromper-se com a sociedade. Não, cada ser humano é
tanto mais maldoso quanto o seu desejo se diferencia do meu desejo. Ceder ao
desejo do próximo é sinal de fraqueza (alguns dizem que é amor); impor o meu
desejo ao outro é prepotência, ou, numa versão mais aceitável, marketing.
Pelo
menos, perder a esperança já não me pesa tanto, agora que sei que ela não é uma
coisa sólida, como aprendi com meu filho.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : AnilTamer Yilmazz, disponível em http://www.deviantart.com/art/Hope-Leaves-185453043
Sabedoria: “dom que nos permite discernir qual o melhor caminho a seguir, a melhor atitude a adotar nos diferentes contextos que a vida nos apresenta”
ResponderExcluirDicionário Informal ( http://www.dicionarioinformal.com.br/sabedoria )
Dois sábios meninos separados por dezenas de primaveras!
Realmente não existe idade para ensinar ou aprender...
Só que é difícil passar esses conteúdos para o filho, sem que ele perca a esperança. Mas, como ele próprio já disse que a esperança não é uma coisa sólida, já é um bom começo.
Excluir