sexta-feira, 22 de maio de 2015

A ESPERANÇA NÃO É UMA COISA SÓLIDA


Tentamos imprimir uma grandiosidade nas coisas que sabemos e falamos (falamos pra caramba!), mas, na realidade, as coisas que importam na vida são reveladas em momentos simples, em conversas infantis e na hora em que o nosso pensamento está distante.

A passagem bíblica do pré-adolescente Jesus ensinando aos doutores no templo é um instante iluminador, não pelas palavras que aquele menino disse, mas, principalmente, pela disposição daqueles homens, tidos como “sábios, em ouvi-lo.

Quem sabe ouvir, pode aprender. E quem aprende, dizia Paulo Freire, ensina a aprender. Caminhando com o meu filho para a escola, somos abordados pela exibição de alguns panfletos e revistas de determinada religião, onde o destaque é a palavra ESPERANÇA.

- Que será que estão dizendo sobre a palavra “esperança” – pergunta ele.
- Provavelmente, que a esperança é a última que morre – brinco.
- A esperança nunca morre, pai.
- Por que, meu filho?
- Não morre porque a esperança não é uma coisa sólida! Só coisas sólidas morrem.

Escutando aquela declaração assim tão erudita, fiquei pensando se talvez não fosse melhor deixá-lo em casa filosofando (e, naturalmente, jogando videogames) do que levá-lo à escola.

Sei que, numa situação parecida, o evangelista Lucas teria muito a escrever. Eu, no entanto, do alto dos meus quase sessenta anos de pura e renovada ignorância, fico pensando assim: se a esperança não é uma coisa sólida, e não é mesmo, por que é que passamos os minutos, as horas, a vida inteira achando que as pessoas, e o mundo, vão mudar para melhor?

E o que seria esse “melhor” senão um comportamento ideal que está apenas na minha cabeça? Se, para mim, um mundo melhor seria um lugar onde as pessoas não se metessem na vida alheia, para minha vizinha de porta um mundo ideal seria um lugar onde as pessoas fossem mais fraternas. Mas, com certeza, há aqueles que pensam que o melhor lugar para viver é aquele onde as pessoas são bocós, reclamam o tempo todo, mas continuam os elegendo para governá-los.

Já estou muito velho para me iludir de cara limpa. Sei que a tendência do ser humano não é jamais ser bonzinho e corromper-se com a sociedade. Não, cada ser humano é tanto mais maldoso quanto o seu desejo se diferencia do meu desejo. Ceder ao desejo do próximo é sinal de fraqueza (alguns dizem que é amor); impor o meu desejo ao outro é prepotência, ou, numa versão mais aceitável, marketing.

Pelo menos, perder a esperança já não me pesa tanto, agora que sei que ela não é uma coisa sólida, como aprendi com meu filho.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : AnilTamer Yilmazz, disponível em http://www.deviantart.com/art/Hope-Leaves-185453043

2 comentários:

  1. Sabedoria: “dom que nos permite discernir qual o melhor caminho a seguir, a melhor atitude a adotar nos diferentes contextos que a vida nos apresenta”
    Dicionário Informal ( http://www.dicionarioinformal.com.br/sabedoria )

    Dois sábios meninos separados por dezenas de primaveras!
    Realmente não existe idade para ensinar ou aprender...

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    Respostas
    1. Só que é difícil passar esses conteúdos para o filho, sem que ele perca a esperança. Mas, como ele próprio já disse que a esperança não é uma coisa sólida, já é um bom começo.

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BRIGADU, GENTE!

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