sexta-feira, 27 de agosto de 2010

PERERECA EM PEQUERI



Capítulo Final - Cara a cara com a perereca

Por que será que os rapazes têm essa fixação por orifícios? Esta pergunta, mais do que uma questão filosófica, é como terminamos nosso episódio da semana passada: um bando de marmanjos, se acotovelando no fundo de um palco, para uma possível olhadela num banheiro feminino. Como diz o provérbio, a realidade nunca dá tanto quanto a imaginação promete. Mas, neste caso, a imaginação era muito fértil. Para evitar um conflito sangrento, que levantaria suspeitas ao público do baile (é gente, o baile não parou), foi feito um sorteio.
Fui o segundo no par ou impar, mas, para minha felicidade, aquele que seria o primeiro teve, naquele justo momento, que voltar para o palco. Então, muito a contra gosto assumi a primeira colocação. Mas teria, a pedido dos demais, a incumbência de ir narrando, passo a passo, tudo que via. Dessa forma, após subir num pequeno banquinho, lá fui eu, já com as pernas meio bambas, dar minha modesta espiadinha. E o baile, enquanto isso, corria solto! Haja coração!
De imediato, reparei que o local deveria ser uma sala anexa aos banheiros, pois o que mais se via era mulher retocando maquiagem, cabelo, abotoando calça e ajeitando sutiã.
Pelos meus cálculos, o buraco, coincidentemente, teria varado próximo à pia e um pouco abaixo do espelho. Até o momento, eu ia narrando, somente nariz, e muito nariz era minha principal visão.
Um tanto decepcionado, e já pensando em passar a vez ao próximo, eis que, repentinamente, me entra no recinto uma linda morena de olhos verdes. Aparentava pouco mais de vinte e cinco anos. Desta forma, sentindo nas entrelinhas que finalmente era chegado o meu grande momento, pedi que aguardassem um pouco mais! Foi difícil convencê-los, mas consegui!
E lá veio ela se aproximando. A expectativa foi geral e um imenso silêncio tomou conta de todos nós.
Ficando frente ao espelho, e já quase cara a cara comigo, após dar uma bela ajeitada no sutiã, ameaçou tirar a blusa. Nesta hora, não se ouvia um único gemido do nosso lado. Pensando bem... até que se ouvia!!!
Enquanto minhas pernas ainda mais tremiam, procurava, na medida do possível, ir narrando aos distintos parceiros, detalhe por detalhe, tudo aquilo que estava vendo.
Era um empurra empurra danado, pois todos queriam acompanhar, em tempo real, e da melhor maneira possível, minha narrativa. O negócio era ver, ou simplesmente imaginar, o que realmente estaria acontecendo do outro lado daquela porta.
Já no ápice daquele que seria o grande momento, quando a cena parecia que finalmente iria ser bondosa comigo, o inusitado mais uma vez acontece.
A linda morena, ao se aproximar perigosamente do buraco, simplesmente, num ato de extrema falta de educação com minha escondida pessoa, após sacar da boca uma bela dentadura, se é que podemos dizer que exista algum grau de beleza naquilo, ainda começaria, a menos de meio palmo do meu nariz, escová-la com os dedos.
- E lá se foi minha musa! - pensei! Por sinal, sem um dente sequer na boca. Isso pra não falar que um pequeno rastro de mau hálito ainda conseguiria ultrapassar aquele pequeno orifício.
Eu, enquanto isso, para não perder a pose, e muito menos sem deixar que a peteca caísse, continuei simplesmente a narrar pra galera, aquilo que na verdade não estava vendo. Ou seja, um strip completo. Foi torturante, mas acredito que fui capaz de enganá-los. A eles e a mim!!!
Neste meio tempo, o baile já estava quase terminando. Seria bem melhor que estivesse tocando! E como! Pelo menos não teria sido tão broxante!
Indispensável introduzir aqui algumas considerações odontológicas sobre a perereca. Um dentista, que nos prestou assessoria para esta história, informa que este é o nome popular da P.P.R. (Prótese Parcial Removível), colocada provisoriamente na boca da paciente que aguarda a oportunidade de fazer um implante. Ou seja, o caminho natural, segundo nosso profissional, é que a moça tire a perereca para que o dentista possa implantar o fixo, ou fazer o enxerto, segundo ele. Lembrou que é altamente recomendável que não se durma com a perereca na boca pois, ainda segundo o odontólogo, há um risco, pequeno, de engoli-la. Se bem que, conclui, os riscos são menores nos dias de hoje, pois as pererecas possuem um tamanho mais avantajado. Eu, hein?
Já na volta, e pra finalizar, devido a uma certa intolerância que alguém tinha a temperos e condimentos, tivemos que, por duas ou três vezes, parar na beira da estrada para que assim, pudéssemos abrir a Kombi. O negócio era evacuá-la o mais rápido possível (aliás, a sensação é de que ela já estava toda evacuada). Coitado do Zé. Só ele levava a culpa. Com o tarol no colo, vinha sempre cochilando sossegadamente, no banco da frente. Sempre entre a Nely e o motorista. Mas era constantemente acordado por ela. Furiosa, acusava o pobre irmão de estar fingindo dormir, no intuito de poder ficar praticando o tal indecoro flatulamentar.
Mas eu tenho absoluta certeza de que não era ele!!!

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

NO CASAMENTO, QUEM É QUE PAGA O PATO?



Quarta é dia de futebol e, navegando em busca dos lances da partida, encontro um confronto que não é da área dos esportes: é o confronto, ferrenho, entre o jogador Alexandre Pato e Stephany Britto. Casados por alguns meses, o que está em disputa, neste momento, é o valor da pensão teoricamente “devida” pelo jogador à sua jovem ex-esposa. Uma juíza determinou o pagamento, em sentença já suspensa, do valor de 20% dos rendimentos do atleta, algo em torno de R$130 mil/mês. Respeitando naturalmente a decisão da justiça, e também as particularidades do casal, eu fico me perguntando o que, exatamente, Pato fez à sua ex-mulher, nos poucos meses em que estiveram casados, para ser obrigado a pagar uma soma tão elevada?
Alguns irão argumentar que o valor não é tão alto para quem ganha o tanto que o jogador arrecada nos seus múltiplos contratos dentro e fora de seu clube, o Milan. Outros dirão do direito romano, da defesa do matrimônio, usando para isto, uma parte do patrimônio. Ora, ora: o jogador realmente ganha muito dinheiro, mas conquistou esta renda exclusivamente com seu talento, sua competência e seu trabalho. E, quanto ao direito romano, alguns séculos nos separam da Lex Aquilia.
À esposa, segundo nos informa a imprensa, foi pedido o afastamento do trabalho de atriz que exercia, pelo marido, que preferia que a mesma permanece ao lado dele, na residência do casal, em Milão. Ao que parece, nenhuma objeção foi feita, tendo sido a solicitação acatada com muito gosto. Portanto, havia um acordo entre o casal, para que a esposa assumisse a tarefa tão (injustamente) criticada de dona de casa. Em caso do fim do laço conjugal, que ninguém esperava durar tão pouco, o que entendo ser justo é que o marido solicitante do “sacrifício”, passasse a pagar, temporariamente e até que a jovem se reintegrasse à profissão, o valor do salário suspenso. Mas, vejam: o valor do salário dela, e não o dele!
Será que o alto valor estipulado é algum tipo de punição por um suposto “mal comportamento”? É certo que houve um comportamento, por parte dele, não compatível com a expectativa dela. Isto sempre acontece nos casamentos. E há ainda a questão sexual, mas parece que esta, nos dias atuais, é considerada apenas pela Igreja Católica que, agora recentemente, pela mão do seu pastor máximo, Bento XVI, admitiu a presença dos recasados na igreja, desde que se abstenham de manter relações sexuais entre si.
Estes casos que se tornam públicos trazem alguma reflexão para nós, casados pobres, do interior: será que é possível, ou mesmo, será que algum dia vai ser possível, acontecer, dentro de nossos lares, a tão decantada “harmonia conjugal”? Antes que alguém saia dizendo: o meu é assim, o da minha avó era assim, etc., lembro que, para que haja uma perfeita harmonia, seria necessário que o marido agisse exatamente como a mulher espera que ele se comporte, e vice-versa. Será possível?
Em assuntos conjugais, todos se julgam experts: se a mulher não permite que o marido vá jogar futebol na quinta-feira com os amigos, todo mundo comenta: que absurdo, como pode ser assim tão incompreensiva, como ele suporta isso e outras críticas. Se o marido “censura” um decote da esposa, é a vez dos comentaristas de plantão se manifestarem: machista, é assim que começa a violência doméstica, você é boba em se submeter e aplausos de alguns.
O fato é que chegamos a duas conclusões: a primeira é que, em briga de marido e mulher, todo mundo quer meter a colher; é igual lata de leite condensado. E, em segundo lugar, não existe possibilidade de harmonia conjugal. Como é que funciona, se for para escrever um manual, a gente não sabe. Um escritor americano, Peter de Vries, afirmava que "o valor do casamento não está no fato de adultos produzirem crianças, mas de crianças produzirem adultos." Talvez seja por aí.
E, quanto ao papa, é o colunista José Simão, da Folha de São Paulo, que o justifica, dizendo: “o papa é contra o segundo casamento porque é solteiro. Se fosse casado, condenava também o primeiro.”

(Crônica: Jorge Marin)

sábado, 21 de agosto de 2010

PERERECA EM PEQUERI



Capítulo 1 – O orifício no escuro

Ô trem bão era tocar em Pequerí! Meu local predileto.
Certa vez, pra variar, alguns fatos, a meu ver, dignos de registro vieram a acontecer. Se bem que, remexendo um pouco mais a memória, eu não tenho tanta certeza de que os fatos a seguir aconteceram lá mesmo. Será que aconteceram em outro lugar? Ou será que, pela gravidade dos mesmos, eu acabei esquecendo algum detalhe comprometedor, ou recalcando, como diz o Jorge?
O que me lembro, com certeza, é que era uma cidadezinha muito simpática e agradável. Mas, êta lugarzinho para fazer frio!
Não! Na oportunidade não teria sido o Pytomba. Vejam a memória censurando! Se bem que, nesta época, integravam o conjunto da Nely (Popsom): o Sílvio Heleno, o Dalminho, o Márcio e eu. Ah! Já ia me esquecendo. Também o Macu.
Logo que começamos a descarregar nossa mega-aparelhagem, mais uma vez uma certa apreensão tomaria conta de todos nós, pois, estando o local totalmente vazio, éramos recebidos apenas pelo seu administrador. Nenhuma santa alma pra contar história. Parecia que estávamos numa cidade fantasma. Um cenário digno de Hotel Califórnia.
Coisa mais interessante acontecia lá: bastava apenas um pequeno toque na guitarra para que, em milésimos de segundos, o local fosse literalmente invadido por centenas de pessoas. Como se quase toda a população da cidade surgisse do nada, como verdadeiros ninjas.
Oberon, nesta noite, levou um baita choque no beiço, ao colocar a boca no microfone. Sem que conseguíssemos descobrir o defeito, tivemos, como única opção, de ir, a pleno baile, numa construção próxima ao clube, para pegar algumas tábuas de andaime emprestadas. O negócio era colocá-las no piso do palco, para que assim ficássemos imunes aos choques. Imaginem vocês quando, de repente, surge, no meio da pista de dança, o Oberon, com uma tábua de quase cinco metros na cabeça. E não é que o pessoal achou que poderia ser coreografia do conjunto? Muitas palmas e um monte de gente dançando alegremente, fazendo trenzinho atrás do nosso saudoso guitarrista.
O baile ia, até então, transcorrendo dentro da normalidade, e eu, neste momento, na tumbadora, esperava apenas que nosso inesquecível Zé desse o sinal, e assim, numa já combinada troca de instrumentos, revezássemos uma sequência de músicas.
Antes mesmo que isso acontecesse, e ainda na tumbadora, dei uma breve olhada para o fundo do palco, e senti que uma movimentação estranha acontecia. Um zunzum sinistro começava a deixar-me com a pulga atrás da “oreia”. No momento, pude observar que alguns componentes, antes descansando nas coxias, começaram repentinamente a se agitar sem parar. Desta forma, mais que depressa, larguei o instrumento e, num belo ato de solidariedade, fui para trás do palco, para saber o que tanto estariam articulando meus nobres amigos.
Alguém, que agora me foge à memória, teria simplesmente descoberto que o palco fazia parede de meia com o banheiro feminino. Até aí, nada demais, se não fosse pelo simples fato de, também, ser separado por uma velha porta, porta esta que, para nossa felicidade, já estava bem maltratada.
Então, numa breve reunião, resolvemos fazer, escondidos da Nely, o que todos já devem estar imaginando: “um buraco na porta”. Se bem que, acaso ela soubesse, seria bem capaz de ajudar-nos também a fazê-lo, moleca que sempre foi.
Assim, despistadamente, enquanto acontecia o intervalo, começamos então a preparar o ambiente para o grande “furo” de reportagem. Nosso objetivo era ficarmos o máximo possível ocultos, enquanto o orifício era feito. E quanta emoção naquela sedutora aventura recheada de hormônios!
Primeiramente, procuramos empurrar, para bem próximo do local, alguns vasos, que se encontravam nas laterais do palco. Fizemos o mesmo com aquelas imensas caixas de som do aparelho de voz.
O ambiente ficou perfeito. Ninguém, na pista de dança, seria capaz de nos ver.
Sendo assim, ao recomeçar o baile, enquanto alguns (poucos) optaram em ficar tocando, a maioria quis mesmo é ficar no furo do buraco.
Enfim, com a ajuda de uma chave de fenda, a velha porta, finalmente, seria vazada. Quanta emoção! Enquanto o baile, transcorria naturalmente, amontoávamos uns sobre os outros, querendo, a todo custo e ao mesmo tempo, poder encostar o nariz na porta e tacar logo o olho no bendito orifício.
O que acontecerá? Retornará o tão disputado buraco, o prazer procurado pelos nossos bravos artistas? Não percam, na próxima semana, a parte final, nua, crua e explícita, desta luxuriante aventura.

(Crônica – Serjão Missiaggia / Adaptação – Jorge Marin)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

PAIXÃO OU AMOR?



Com frequência, desfilam, aqui no blog, causos e histórias, engraçadas ou não, sobre o que era ser um jovem nos anos 70. Porém, um assunto tem passado batido, e é um assunto muito importante, que é o do apaixonamento. Uma pessoa mais desavisada, com seus vinte anos que lesse o blog hoje, poderia pensar que éramos todos assexuados quando, na verdade, este era um tema que consumia uma boa parte das nossas vidas na época, uns 90% mais ou menos, aí incluídas as horas de sono.
Aprendemos, naquela época uma coisa muito curiosa e que, nos dias de hoje, já não é usada mais: é que existia a paixão e o amor. A paixão não era muito aceita e, apesar dos nossos hormônios dizerem o contrário, era tido como uma mera ilusão, como uma coisa passageira, ao passo que o amor, um amor calmo e equilibrado, este sim, devia ser encorajado como uma forma de manter a moralidade e, por que não dizer, para perpetuar o romantismo.
Ou seja, éramos romanticamente treinados para não nos entregarmos à volúpia dos nossos desejos indecentes. E mesmo nós, rapazes, acreditávamos piamente que as meninas não tinham este tipo de pensamentos indecorosos. Mas os cantinhos escuros, a esquina do Correio e as ruas que dão acesso à Igreja do Rosário (vejam só o sacrilégio) sabem muito bem da luta hercúlea que travávamos para ter de optar entre o desejo de experiências intensas e descompromissadas (o atual “ficar”) e o estabelecimento de um amor terno, e eterno.
Como vimos, e sentimos na pele, até hoje não foram encontradas soluções, nem culturais, nem psicológicas para o busílis (adoro esta palavra, que significa o xis do problema, e era usada numa revista antiga, que não me lembro qual é). Certamente, a maioria de nós passou pelas duas experiências, e sabe que não se pode ter ambas ao mesmo tempo. E também que, na maioria das vezes, a perda de qualquer um dos tipos de experiência, acaba levando a um sentimento de vida contrariada, do tipo castração da felicidade.
Às vezes, meus filhos me provocam, perguntando se eu vivi todo aquele barato dos hippies, com toda a liberdade sexual do chamado flower power. E eu sempre lembro a estes “filhotes de Madonna” que a revolução hippie aconteceu nos Estados Unidos, entre estudantes ricos e loucos para não ir para o Vietnam. Aqui no Brasil, tirando um pouco o rock, qualquer manifestação de sexo e drogas era tratada na porrada. Além disso, a liberalização dos costumes fazia parte de um projeto de socialismo e comunitarismo que, de forma alguma, seria tolerado no Brasil, como também não foi tolerado lá.
Fomos sutilmente levados, desta forma, a optar pelo amor romântico, igual ao que víamos nos filmes de Hollywood, mas, na vida real, o que tínhamos, muitas vezes, era um mundo conflituoso, triste, decepcionante, baseado em expectativas irreais e contraditórias, o que resultava em ciúmes paranóicos, terrorismo contra ex-parceiros, depressão, disputas econômico-financeiras, estilhaços nos filhos e outras tantas barbaridades.
Exilados da ressaca romântica dos anos 80, fomos jogados no vale tudo dos anos 90, com toda a promessa de liberdade, inclusive sexual, e possibilidade de, aos trinta e poucos anos, podermos vivenciar todas as nossas fantasias individuais. Era tempo de privatização, e acabamos privatizando, em nome do narcisismo, a própria moralidade, aqui no termo geral, incluindo também o político e o social.
Resultado: vividos estes dez anos do século XXI, passeamos pelas ruas e, vez ou outra, topamos com alguns daqueles ideais de beleza que faziam nossos corações dispararem na porta do Rubro Bar, ou da Lanchonete Joia (que agora nem acento tem mais). Aquela gatinha de tirar o fôlego, dentro daquele shortinho da Fanfarra do Ginásio, hoje passeia pela Pracinha do Coronel, um pouco mais “cheinha”, às vezes até com um netinho no colo. O garotão, de cabelos compridos, calça de cintura baixa e botina e óculos “john lennon” também anda pela praça, de bermudão, chinelo de aposentado, careca, barrigudo e com a camisa de algum time do Rio.
Tivemos que nos reinventar para sobreviver. Eventualmente eles se encontram, trocam olhares, cumprimentam-se: “como vai a senhora?”, “beleza?”, continuam a caminhada, ela se lembra do cabelão, ele se lembra do shortinho. E, ali do antigo murinho do Adil, escutamos dois suspiros. Ai, ai!

(Crônica – Jorge Marin)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

NELY GONÇALVES: LENDA VIVA DA CULTURA SANJOANENSE



Capítulo 5 – Rock in Hospital (Capítulo Final)

E quando a Nely ficou internada vários dias no Hospital devido a uma cirurgia? Foi um Deus nos acuda. Na época, as irmãs (as freiras que atendiam como enfermeiras) só faltaram colocar cadeado na portaria para que não conseguíssemos visitá-la. Esta história já foi mencionada aqui no blog.

Visitávamos a Nely no hospital, não só para cumprir o nosso papel fraternal de amigos e afilhados, mas também, entre umas e outras coisas, pedir a ela a bateria emprestada.
Este fato veio acontecer numa das vezes em que o Pytomba se preparava para fazer um baile no terraço da casa do primo Dantinho e, pra variar, estávamos sem o referido instrumento. Coincidentemente, neste mesmo final de semana, todas as baterias que poderiam ser nossas possíveis vitimas, estavam sendo usadas por seus respectivos donos.
Nesta época, nossa amizade com a Nely estava ainda no comecinho, e sua bateria era a única que poderia estar disponível na cidade. Para piorar ainda mais a situação, nossa futura madrinha havia submetido recentemente a uma cirurgia e estava internada.
Então, após uma breve reunião, resolvemos que, como única opção, teríamos que fazer uma visita a ela no hospital. E assim foi.
Quando lá chegamos foi um Deus nos acuda. Éramos umas sete ou oito pessoas querendo entrar de uma só vez. Um pequeno tumulto se formou na portaria, mas, no final, todos acabariam entrando.
Já dentro do quarto, era gente sentada até debaixo da cama. O lanche da tarde desapareceu com tal rapidez, que não sobrou um único biscoito para a paciente. Isso para não falar que, por muito pouco, não teríamos conseguido passar um violão pela janela.
A visita, digo, a festa, foi geral, só que, já quase terminando o tempo, ninguém ainda havia encontrado coragem de fazer o pedido. Era um tal de: pede você... pede você... Só que ninguém pedia nada. Já conformados com aquela que seria uma investida mal sucedida, cabisbaixos e numa tristeza sem fim, já íamos saindo, quando eis que ela nos chama novamente pra dentro do quarto e, com muita sensibilidade, mesmo desconfiada de nossas segundas intenções, foi logo dizendo: “A bateria tá lá no Operário! É só pedir a chave e apanhá-la!” E foi aquela vibração, quebrando de vez, o até então silencioso e ordeiro ambiente hospitalar. Quanta alegria! Seria a primeira vez que iríamos tocar em uma bateria profissional.
Despedimo-nos mais que depressa, saindo em disparada pelos antigos corredores do hospital.
Depois deste dia, nossas visitas se tornariam uma constante, vindo até a causar novos contratempos na portaria do hospital. Mas tudo isso fazia parte do show e estes fatos estão também devidamente catalogados no inicio do Blog.

Nely foi, e continua sendo, tudo isso e muito mais: além de grande compositora, sambista, onde por diversas vezes elevou o nome da cidade em grandes festivais, continua uma pessoa humana sem igual.

Como diz o Márcio: “foi um tempo muito bom mesmo, que, infelizmente, essa galera de hoje nunca vai viver. A gente era meio ingênuo , meio inocente , sinceros, taxados de malucos e até mesmo "caçados" por "forças secretas" (o DROPS) mas éramos felizes. E hoje realmente somos de novo abençoados por Deus, por termos nossas famílias, termos mantido nossa amizade e as boas e hilárias lembranças daqueles tempos!”

Para finalizar, diria que, juntamente com o Pytomba, esta nossa passagem pelo conjunto Pop Som foi fantástica. Foram muitas as histórias incríveis e divertidas, que sempre aconteciam em cada porto que atracávamos. Também, foi nesta época que ganhei, pelas mãos da Nely, meu primeiro dinheiro como músico. Foi um momento supergratificante e inesquecível, pois, naquele momento, estava recebendo dividendos daquilo que mais gostava de fazer.
Dentre muitas outras passagens hilárias que aconteceram, deixarei pra contar apenas mais essa, pois, mesmo que quisesse, não haveria espaço suficiente para tantos casos.

Brigadão por tudo, Nely!

(Crônica – Serjão Missiaggia)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O PIPITA ERA UM MENINO



Como vai? - perguntam. Uns dizem “vou levando”, “bem, obrigado”, “vou indo”, ou até mesmo aqueles chatos que, ouvindo esta pergunta retórica, fazem questão de contar todos os fatos para quem perguntou.
Somos pytombenses e, dessa forma, bebemos a vida como quem toma água de mina depois de uma caminhada. Sabemos que a vida, mais do que vivida, mais do que sonhada, tem de ser saboreada. E aos pouquinhos, de preferência. Com a família em volta, alguma música no fundo e muito humor, mas muito humor mesmo.
Assim, vamos construindo nossas existências, e todo este passado que volta aqui nas páginas do blog, não é, com certeza, um lamento, ou um arrependimento, ou mesmo uma apologia aos “velhos bons tempos”. Que nada! O tempo bom é agora, pois, se eu tenho vontade de comer amora, vou ali fora, na feira, e pronto! Na verdade, eu não acho. Mas, a própria lembrança da amora já adoça a boca, já sossega a vontade.
Cinqüentões, os filhos vêm e vão, os netos quebram a louça e, se ouvimos alguma música do álbum PULSE, falamos “ah, é do disco novo do Pink Floyd!”. Véi! (e aí não é só a interjeição usada pelos garotos), véi, não tem nada de novo, véi! Isto tudo é do século passado. E, no entanto, vivenciamos, graças a Deus, todas estas emoções, como se tivéssemos acabado de voltar de um baile do Pytomba.
Até que, de repente, acontece uma coisa chata! E, neste caso, não há nada mais chato do que a morte. A morte é pior do que aqueles telemarketings que ligam pra sua casa no domingo de manhã. Ela entra sem ser chamada e te leva sem chance de defesa.
Você está jogando uma peladinha com a galera, vem a morte, fura a bola e... fim. Ou você acabou de pagar as prestações para aquele cruzeiro pela Europa e a “mala”, a morte, vem e faz o seu checkout do planeta.
Outro dia, eu estava remixando uns tapes de futebol do Pytomba e lembrando da turma, da animação, quando recebo um e-mail do Serjão, comunicando a morte do Paulinho Pipita. Mais do que triste, fiquei tão assustado, corri para a cozinha e falei para minha mulher:
- Mas o Pipita era um menino! Isto não era para acontecer...
Ponderada e sábia, como são as mulheres nestes momentos, ela respondeu:
- Ele era um menino, assim como você é um menino.
E, de fato, somos todos meninos. Na medida em que acreditamos na beleza imensa da vida, na vitória da bondade humana, e no aprendizado constante.
Pipita era um menino tranquilo no Ginásio do Sô Bi: lembro-me das bagunças, das correrias, do futebol e, dentro daquela algazarra toda, lá estava ele: calmo, elegante e bem penteado. A matilha de anjinhos gargalhava e urrava, mas não o Paulo César. Ele ficava ali, tranquilo e absolutamente silencioso. Não era, definitivamente, uma pessoa estridente.
Nos jogos do Pytomba com o Pingão, aconteciam aquelas baixarias; até o Quirino, que estava apitando o jogo, foi expulso de campo. Brigávamos, nos descabelávamos (como era bom ter cabelo!), e mesmo nesta hora mais caótica, o Pipita perguntava, com aquela voz educada:
- Gente, posso bater a falta?
Se, pelo menos, ele tivesse uns noventa e nove anos, eu não diria nada. Afinal, esta é uma boa idade para pendurar as chuteiras, e o próprio corpo já está um tanto amarrotado. Mas, com a idade que o nosso amigo tinha, é um desperdício, é uma sacanagem. E é menos um do bem, nesta nossa luta diária contra a desconstrução.
Mas, como dizia o Fernando Pessoa: morrer é só não ser mais visto, morrer é a curva da estrada.
Então, segura aí, Paulo, pois, daqui a uns tempos, estaremos todos, pytombenses e não-pytombenses chegando por aí. E de Kombi.

(Crônica - Jorge Marin)

sábado, 7 de agosto de 2010

NELY GONÇALVES: LENDA VIVA DA CULTURA SANJOANENSE



Capítulo 4 - Mar de Espanh, o remake

Certa vez, fomos convidados para tocar em Mar de Espanha. Eu, nesta época, estava apaixonado e no auge de uma paquera. Coincidentemente, nesta mesma noite, haveria um superbaile com o conjunto Solfas no Operário, e eu tinha informações precisas de que minha musa estaria lá.
Por outro lado, minha curiosidade em conhecer Mar de Espanha era imensa. Enquanto meu coração falava de um lado, pedindo pra não ir, a turma insistia do outro dizendo que eu não poderia faltar. Finalmente, após ouvir a voz da paixão musical, decidi partir para “Além Mar”.
Enquanto descíamos a escadaria do Operário, com nossos instrumentos, que mais pareciam uma mala de viagem, o conjunto Solfas subia com seus enormes duplex.
Certo ar de arrependimento começava a bater mais forte, e um pouco mais eu teria desistido. Mas a Kombi já estava ligada e só faltava minha presença para fechar a porta e por as rodas na estrada.
E desta forma aconteceu, e lá fomos nós.
Depois de quase duas horas de viagem, e chegando num ponto onde já começávamos a visualizar a cidade, ao darmos uma parada num entroncamento, perguntamos a um transeunte como chegaríamos ao nosso destino. Foi aí que comecei a deduzir que no centro da cidade é que não seria. Neste exato momento, acabava de se instalar meu primeiro arrependimento.
E quando o cidadão nos ensinou como faríamos pra chegar ao local?
- Vocês quebram a direita, depois quebram a esquerda, quebram de novo à direita e quebram no poste pra esquerda. Estava instalado meu segundo arrependimento. Uma quebrada a mais e teríamos chegado de volta a São João!
E assim, quebrando de direita em direita, fomos seguindo em frente, tipo assim, meio pra trás... visualizando a cidade se distanciar cada vez mais da gente, ou seja: ela para um lado e nós pro outro. Foi quando o Dalminho, nesta hora, se manifestou assustado:
- Gente! A cidade tá ficando pra lá! Entre risos e desconfiança, pintou meu terceiro arrependimento.
Nesta noite, havia chovido bastante e começamos a descer por uma rua escura e sem calçamento. A Kombi deslizava tanto que chegamos até a passar do lugar. Com muito custo, demos um retorno e conseguimos estacionar em frente ao suposto local. Digo ao suposto local, pois somente depois ao olhar o número da placa do imóvel, é que tivemos certeza que estávamos no lugar certo. Fomos descarregar:
Ao descer da Kombi, atolei de imediato meu sapato recém-engraxado no barro. E pra sair dali? Foi preciso improvisar uma tábua entre a Kombi e a entrada pois, do contrário, ninguém entrava, ninguém saía. E eu muito menos desatolava. Pensei em pegar uma carona e, imediatamente, voltar, mas, naquela altura do campeonato, o custo benefício seria bem maior se ficasse. Pintou aí meu quarto, quinto e sexto arrependimentos.
Ao adentrarmos no recinto, a visão foi catastrófica. Poucos acreditariam. Não tinha uma santa alma, a não ser o dono do estabelecimento que, com um rodo na mão, puxava água e barro de dentro do local. Meu Deus! Que que eu vim fazer aqui? Já angustiado, não parava de pensar um só minuto no baile com o Solfas, aqui em São João. E a ficha cairia de vez!
Final da história: fiquei tão decepcionado que, antes mesmo de ter chegado à metade do baile, desmontei a tumbadora, coloquei atrás da bateria, deitei em cima dela e dormi até o baile acabar.
Ao chegarmos de volta, e já no Operário, enquanto subíamos as escadas descarregando nossa aparelhagem, simultaneamente a nós, vinha também a equipe do Solfas, descendo com as suas.
Num ato de extremo masoquismo, ainda tive a infeliz iniciativa de perguntar como teria sido o baile. Responderam-me que teria sido um dos melhores que haviam feito por estas bandas. Bem feito pra mim!!!
NA PRÓXIMA SEMANA: Nely doente e o fim do sossego no Hospital São João.

(Crônica – Serjão Missiaggia)

No sábado passado, quando estávamos discutindo sobre a postagem desta semana, fomos surpreendidos, por um anúncio na TV, sobre a participação, no quadro Lata Velha do programa Caldeirão do Huck, de, nada mais, nada menos, do que o proprietário do local onde o causo de hoje aconteceu. Sim, aquele mesmo de rodo na mão. Aí, pintou aquela dúvida: contamos? Não contamos? Mas resolvi, por conta própria, relatar este fato para vocês, não apenas por se tratar de uma incrível coincidência, mas também para as pessoas que queiram conhecer a figuraça que é este cidadão de Mar de Espanha, hoje famoso e que, num momento iluminado, chamou o Pytomba para abrilhantar a noite mardeespanhense. É assim mesmo?

(Comentário – Jorge Marin)

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL