sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

CAUSOS INACREDITÁVEIS



UM POSTE EM MEU CAMINHO - CAPÍTULO FINAL
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Na semana passada, como diria Drummond:
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha um poste
tinha um poste no meio do caminho
no meio do caminho tinha um poste... e o dedo doía...
E o suor começou a escorrer!
Imaginem só: uma pessoa sentada num banquinho amarelo ouro, no meio da calçada, com uma mão na cintura, a outra mão a meia altura, fazendo sei lá o quê, num poste qualquer, em plena Rua Nova!.. Ou é maluco ou é promessa!
O suor aumentava... Vontade de fazer xixi... Aí também não!...
Chega o Zé da Carroça! Olha daqui, olha dali e meio desconfiado, tira o cigarro de palha da boca e vai logo dizendo besteira:
- Procupa não, moço!!! Se ocê não saí por bem, nóis ranca com o poste e tudo!!!
Naquele momento, as gotas de suor já escorriam pelo rosto e as mãos começavam a ficar frias. Ouço então, do meio da multidão, a palavra “cavadeira”. Aí também não!... Ficar aqui agarrado, ainda passa! Mas, sair daqui levando comigo um poste, nem pensar!...Está fora de qualquer cogitação!!! E depois... levar para onde? Hospital?.. Prefeitura?..Ferreiro de plantão?.. Jamais.!!!! E a minha reputação?
Imaginem vocês o que significa uma notícia dessas no rádio ou jornal de uma pequena cidade do interior como a nossa. -"Genro do Barroso dá entrada no Hospital S. João acompanhado de um poste". Seria cômico se não fosse triste.
A esta altura, o suor já pingava no chão. Então, entre licenças e “abre caminho”, chega Dona Zélia, também moradora da rua, trazendo-me gentilmente, água com açúcar, bolachas e algumas palavras de consolo. Vendo-me comprimido por tantas pessoas, anunciou-me que estava quase na hora de começar um dos últimos capítulos da novela das oito e que a coisa ali ia serenar um pouco, pelo menos, durante a novela. Nessa hora, já sem esportiva, perguntei:
- Dona Zélia, a senhora tá achando que vou ficar aqui até que horas?!
Entre risos, um senhor que não conheço, começou a pedir que as pessoas se afastassem um pouco por causa do calor, mas ninguém queria de forma alguma arredar o pé, e olhem que a novela já havia até começado.
O engraçadinho da cavadeira, que estava há algum tempo quieto até demais para o meu gosto, manifesta-se novamente do meio da multidão e, com uma pequena torcida organizada, erguia as mãos para o alto e, em coro gritava freneticamente:
- Cavadeira!...Cavadeira!...Cavadeira!
Em meio ao alvoroço, os ânimos começaram a se exaltar e, “num ranca, num ranca, ranca, num rança”, comecei a me desesperar.
Para piorar ainda mais a situação, o Mota Soares, meu amigo das peladas de fim de semana e fanático botafoguense, passa pelo local e, mesmo vendo-me naquela situação, ainda teve a petulância de perguntar se por acaso eu não havia ficado sabendo o resultado de Botafogo e União de Araras. O pior de tudo é que o Mota é meio gago. Aí vocês imaginam o-o-o-o-o de-e-e-e-sespero...
Eu já estava prestes a entrar em pânico. Um calafrio percorreu todo meu corpo. Falaram em serrar o poste, cortar meu dedo e, quando o caso parecia mesmo sem solução, eis que surge, inesperadamente, um enviado das alturas, carregando em suas mãos, a poção mágica e grandiosa, conhecida por nós, simples mortais, pelo nome de sabão. O velho e eficiente sabão que, misturado com um pouco de água, foi aos poucos e lentamente retirando o quase desfalecido e inchado dedão.
Então, sob uma calorosa salva de palmas, fui rapidinho procurando meu rumo, não sem antes ver, ou melhor, cruzar com um carrinho de pipocas e um menino vendedor de picolés que, apressadamente, dirigiam-se ao local, na expectativa de faturarem às minhas custas. Haviam sido informados que ali o movimento prometia muito. Desta pelo menos eu escapei!!!
Mais noticias de meu drama, convido você, leitor, a procurar na voz de São João da época.
Este é um dos muitos causos do século passado e que hoje, de verdade mesmo, só restou o traiçoeiro e imponente poste. Lá está ele no mesmo lugar, frio e impassível, como a esperar por um novo e distraído DEDÃO.
Por isso, quando passarem por aquele local, cuidado: eu sempre fecho as duas mãos, ou as coloco no bolso, pois ainda ouço aquela voz sibilante:
- Dessa vez eu te pego, dessa vez eu pego...

12 comentários:

  1. Depois desta hilariante aventura, gostaria de fazer um apelo a todos nós privilegiados Ecologistas do Riso: “Plantemos um Poste”!!!

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  2. Ah! Já ia me esquecendo:
    Se dirigir não beba! Se beber não dirija!
    E se acaso, fizer os dois, muito cuidado com nossos Postes.

    É bom lembrar também que: Atrás de uma bola e de uma criança poderá existir um inocente Poste. Rsrsrsrsrsrs

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  3. Chegar num hospital já é triste, imagina então com um o poste agarrado no dedo (risos)
    Zéleno

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  4. Já vi dedo agarrado em tudo enquanto é lugar, mas num poste, foi à primeira vez.
    Por sinal acredito ser também a ultima!!!
    Foi realmente muito divertido!

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  5. De hoje em diante, Poste, também é cultura! Salvem nosso poste
    Super divertido o causo

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  6. Terra de Heleno, Emerson, Castelos Medievais, Bloco do Barril, Belas Mulheres, Disco Voador e... Um Posteeeeeeeee! Kkkkkkkkkkkkk
    E o danado tem poder! Abaixo sua permanência!
    Adorei o causo

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  7. Alguém sabe o dia internacional do Poste?

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  8. Coincidentemente, andando esta semana pela cidade, comecei a observar os postes.
    E por incrível que pareça não achei nenhum poste igual o do causo....
    Merece e é digno de estar num “Museu” rsrsrsr

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  9. Coisa de louco! Louco no bom sentido, pois o texto é excelente! De melhor qualidade. O estilo do Serjão é inigualável; faz a gente rir e tem a capacidade de nos transportar ao lugar dos fatos.
    Eu me senti lá. Á medida que lia,a aflição crescia.Quis ajudar, dar alguma sugestão.Comecei até a imaginar alguém chamando a mãe e o pai e os dois correndo apavorados.Que loucura seria!
    Comecei a pensar, também, que Serjão poderia desmaiar, ou mesmo - já pensaram- sentisse uma vontade repentina de ir ao banheiro? Daquelas vontades que não se pode segurar? E seria um Deus nos acuda. Alguém sugerindo:
    - "Tragam um penico, rápido"!
    Outro ainda:
    - "E lençois pra gente fazer uma cabaninha ao redor dele, assim não haverá constrangimento e ele ficará á vontade". Será que ficaria?
    Que sufoco!
    Este poste estava descontando alguma coisa! O que você fez com ele pra tanta vingança? Porque só pode ser vingança. Passe sempre longe dele.

    Serjão , confie no que lhe digo: comece logo a escrever um livro de crônicas. Você é ótimo! Ler seus textos nos faz muito bem.
    Beijos da irmã que o ama .
    Mika

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  10. AO POSTE,COM CARINHO - Não é raro observarmos quando: carros, motos, bicicletas ou mesmo pessoas distraídas se chocam com um Poste. Da mesma forma quando, vemos algum bêbado que, mal conseguindo caminhar, acaba pernoitando encostado em um grandalhão desses. É muito comum também, vermos nossos fiéis caninos abusarem do passivo amigo, fazendo do pobre coitado seu vaso sanitário de cada dia. Se repararmos bem, nossos já tão maltratados postes ainda são vitimas das inúmeras faixas que lhe são amarradas, das placas que lhe são parafusadas, dos orelhões que lhe são colocados, dos cartazes que lhe são afixados e muito mais...

    Enfim, nossos heróis, indiferentes a tudo: iluminam, sinalizam, servem de referência para todos e, de sobra, ainda encontram um tempinho para, vez ou outra, por incrível que pareça, agarrar um Dedão! “E o meu foi um deles”!

    Agora mais do que nunca, cuidemos bem de nossos Postes! E, se possível, adote aquele mais próximo de sua casa!

    E por falar em Poste, muita Luz para vocês em 2010.

    Ah, e a estrela deste filme não é o Sidney Poste ê!!!!!!

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  11. MAZOLA, disse...

    Serjão, se eu fosse você pediria para quem fez sua inclusão nessa foto aí em cima mudasse voce de poste porque não só REcolocaram seu dedo no poste mas também você ficou atrapalhando o Gene Kelly a dar aquueeellla rodada em volta do dito cujo.
    Pode ser que ele se irrite com isto e ainda lhe dê uma GUARDACHUVADA aí você vai ter que passar o ano novo com o dedo e a testa inchados.
    Que os postes não mais atrapalhem seus caminhos em 2010. Um bom ano novo a todos.

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  12. Para a tristeza de todos tivemos nosso heróico poste arrancado deixando nossa Rua Nova de luto!!!
    Hilariante este causo!

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BRIGADU, GENTE!

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VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL