sexta-feira, 28 de maio de 2010

ENFIM, NA EXPÒ 72, O ENGOMA-CUECA!



O engoma-cueca não é uma atividade que possa ser introduzida assim, a seco, sem nenhuma preparação. Afinal, trata-se de uma instituição, um costume presente na vida das pessoas, mesmo as que não gostam de dançar, há milhões de anos.
Como não podia deixar de ser, o starch underwear, como o chamavam os ingleses, remonta à invenção da cueca, ocorrida presumivelmente na pré-história, e de forma específica durante a Era Mesozóica, no período chamado Coxásseo, que vai de 144 a 65 milhões de anos atrás. O fenômeno engomista é atribuído à utilização de um longo pedaço de linho, moldado como um triângulo com tiras nas pontas, para proteger a virilha contra os atritos desagradáveis (lembrem-se que estamos na era da pedra lascada!). No entanto, com o surgimento da dança, e a passagem à era da pedra polida, o atrito já passou a ser agradável, acabando por gerar uma evolução na própria espécie humana: o Pithecanthropus Erectus, hominídeo surgido na ilha de Java, personagem principal do ritual, que foi posteriormente definido por Charles Darwin, como bate-coxa.
Esta dança-luta, precursora do moderno engoma-cueca, veio da África e foi introduzida no Brasil pelos negros, acontecendo pela primeira vez na cidade alagoana de Piaçabuçu, região do baixo São Francisco. Reza a história que, nesta peleja, a dança era praticada por homens (como também é comum nos dias atuais): ambos, sem camisas, só de calção, amarravam os testículos para trás, aproximavam-se. Colocavam peito com peito, apoiando-se mais nos ombros, direito com direito, e depois esquerdo com esquerdo. Uma vez apoiados os ombros, iniciava-se a música, quando ambos afastavam a coxa o mais que pudessem e chocavam-se num golpe rápido.
Desnecessário dizer que os portugueses, ao adotar o costume milenar, acabaram sendo vítimas de sérios acidentes desagradáveis. Foi quando um brasileiro, cujo nome infelizmente não ficou registrado na História, adaptou a peleja para ser praticada por casais, eliminando, com a exímia decisão, os riscos, as amarrações, além da suavização das pancadas, aproveitando-se ecologicamente da anatomia e dos encaixes, sabiamente proporcionados pela mãe Natureza. A este inventor, nosso reconhecimento!
Feita esta digressão, pelo bem da ciência, e para restabelecer o rigor histórico, voltamos à saudosa Expô 72 de São João Nepomuceno.
Naquele ano, existiam dois recintos para baile na Exposição.
Um desses recintos era o galpão maior onde, aos cuidados de nosso saudoso Deck Henriques, funcionava um grande restaurante. O conjunto Som Livre ali se apresentava sendo que, neste ano, estaria estreando sua nova aparelhagem. Na época, alguns componentes do Pytomba (Márcio, Dalminho) integravam o conjunto Cobrinhas, que juntamente, com nossa madrinha Nely, Antônio, e os saudosos Zé (com quem, mais tarde, eu revezaria na bateria) e Oberon, tocavam, então, no outro recinto, com a direção técnica do Sílvio Heleno, que viria a ser tecladista depois. Era um local bem mais simples e popular, porém incrivelmente divertido, e onde o povão levantava poeira de tanto dançar.
O referido cafofo, devido ao seu tamanho, era meio apertado e, com a presença maciça do grande público, aí é que a coisa complicava. Entrar ou sair era praticamente impossível. Isso para não falar que somente uma luz negra servia-nos de referência para quem precisasse se deslocar, ou melhor, tentar se mexer. Era um breu total. Coisa de doido! Eu mesmo, quando retornava após uma breve saidinha, somente alcançava o palco após passar por um atalho secreto, que havíamos improvisado pelos fundos.
Era um rala-rala de fazer gosto! Passar no meio do pessoal que estava dançando era complicadíssimo, um quase suicídio ou, no mínimo, muito perigoso. Várias pessoas chegaram a ficar agarradas no meio da pista de dança. Para passar ali era que nem carro na lama: o negócio era engatar uma primeira e torcer pra que não se atolasse. E, se tal acontecesse, meu amigo... bye bye!...
Creio que já deverão ter deduzido o porquê de Engoma-Cueca.

Apenas como registro, gostaria de dizer que, já no ano seguinte, “subiríamos de posto”, e nossos shows passariam a ser feitos no recinto maior. Modéstia à parte, ali aconteceram memoráveis bailes.
Numa dessas noites, após um violento curto circuito que veio a apagar todo o recinto da expô, continuamos, apenas com o auxílio de um lampião, a fazer durante uns quarenta minutos, um incrível som, usando somente os nossos instrumentos de percussão. Quando a energia retornou, o pessoal nos aplaudiu de pé.

Enfim, acho que já me alonguei demais.
Como havia dito, mesmo que quisesse, não haveria papel suficiente para registrar tantos fatos que aconteceram nesta primeira EXPÔ, principalmente ao longo de seus 37 anos, razão pela qual escolhi focar em apenas alguns poucos detalhes daquele ano de 1972, a primeirona.
Na verdade, meu objetivo principal foi de tentar passar um pouco daquela energia tão positiva que nos envolveu. Foi realmente um momento mágico e único para todos nós, sanjoanenses, quando centenas de pessoas, muitas delas anônimas, derramaram seu suor pra que tanta coisa boa viesse posteriormente acontecer.

(Crônica - Serjão Missiaggia
Pesquisa histórico-arqueoilógica - Jorge Marin)

7 comentários:

  1. Êta engoma cueca famoso! O trem ali só faltava sair fumaça.
    Como não recordar dele.
    Abraços aos Pitombenses e a Nely Gonçalves.

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  2. Naquela época o ZÉ da Nely desfilava com o seu BLACK POWER que se fosse hoje e o BAJARA o visse iria ficar até sem jeito de dar aquele sssooorrriiiso que só ele tem.
    Agora uma coisa é certa: e x p o s i ç ã o mesmo só quem viu, ouviu e se divertiu com PITOMBA´S E NELY´S, porque agora sobrou só comes, bebes e gastas e como gastas, diversão que é bom mesmo nada.
    Um abraço do Mazola.

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  3. Se era difícil sair do Engoma também difícil era entrar. Algumas vezes dei uma chegadinha la perto , mas sempre acabava era ficando curtindo a animação do lado de fora.
    Bravos heróis!!! Rssssss

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  4. Num desses bailes de encerramento começou meu namoro.E quantos anos!!!
    Época inesquecível.
    Valeu Jorge e Serjão! Realmente esta postagem da Expô 72 nos trouxe muitas recordações!

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  5. Foi andando pela rua, em contato direto com alguns amigos, que pude realmente perceber o quanto, são apreciadas certas postagens principalmente, aquelas que nos transporta a um passado feliz.
    Da mesma forma, pude perceber também, que o tempo e a distancia não foi capaz de impedir, que cada um de nós, carregasse mundo a fora, um pedacinho daquela São João, com suas historias, seus causos e seus fatos marcantes.
    Que bom que esta viagem até Expo 72 tenha sido agradável.

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  6. Certa vez uma nuvem de poeira pegou todos de surpresa na exposição, pois nesta época ainda não havia asfalto. Muitos expositores ficaram P da vida com suas barracas empoeiradas.
    Depois o caminhão pipa foi solicitado pra ficar molhando local pra evitar novamente o contratempo.
    Lembro bem que o stand de arranjos da dona menininha foi um dos que mais sujou mas o Engoma Cueca tava nem aí.

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  7. EH Serjão ein....É o maior.

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