quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

SABEDORIAS DA ÍNDIA



Crônica: Jorge Marin

O texto do Serjão da última quarta-feira, trouxe à tona a força da mensagem defendida por John Lennon na sua cruzada pacifista nos terríveis anos da Guerra Fria. O “All we need is love”, mais do que um hino do filme Yellow Submarine, trouxe, para as mídias ocidentais, os ensinamentos do guru indiano Maharishi Mahseh Yogi, visitado pelos Beatles nos Himalaias, em 1968.
O curioso é que a filosofia oriental era apresentada como um grande barato, como uma curtição, ou como uma simples curiosidade. O fato é que estamos falando de uma sabedoria altamente desenvolvida que, cerca de sete séculos antes de Cristo, foi obrigada a elaborar um conjunto de conceitos e imagens demandadas pela sociedade existente, para atender às necessidades de experiência religiosa.
Sempre que pensamos em experiência religiosa, fica parecendo que estamos buscando alguma solução fantástica para minimizar o impacto da realidade da morte e da impermanência. Mas a verdade é que precisamos de símbolos, haja vista a volúpia com a qual nos entregamos às informações no mundo atual.
Pois bem, conceitos e palavras são símbolos, assim como as visões, os rituais e as imagens. Da mesma forma, os usos e costumes da vida cotidiana. Todos estes símbolos conduzem nossas mentes à verdade, mas, logicamente, não são a verdade em si. Portanto, aceitar estes símbolos como leis e adotá-los, é uma coisa estúpida, que vem sendo praticada mais e mais.
Assim, ao invés de adotar os mais variados modismos, temos que seguir o difícil caminho de nossas próprias experiências, vivenciar nossas próprias reações, sofrer (uma coisa que parece proibida nos dias atuais), assimilar este sofrimento e ter coragem de fazer coisas novas, coisas diferentes, caso contrário o resultado vai ser sempre o mesmo.
A verdade não vem “de fora”, mas é um processo gerado em nosso interior, da mesma forma que uma mãe gera seu filho, que surge de um estado de não-manifestação e, por que não dizer, de inexistência, para a luz. Há uma máxima hindu que diz que “não podemos pedir Deus emprestado.” O divino é gestado em nosso interior, com dor e dificuldade, mas esta verdade única é algo que pode ser chamado de real.
Voltando às mitologias da Índia, este milagre é demonstrado na figura do deus Visnu, criador e sustentador do mundo. Quando os pais necessitam de uma nova encarnação, as forças suplicantes são tão intensas que o deus aprova. No entanto, no momento em que a futura criança se manifesta no ventre materno, forças demoníacas, contrárias àquele criador, colocam-se contra ele. Fazem tudo que podem para dificultar sua tarefa. Mas, a violência dessas forças não é tão definitiva, pois este tipo de resistência está sempre presente quando uma manifestação divina, qualquer uma, toma corpo no cenário humano.
Descobrimos então que o pensamento indiano não é tão fantástico, como muitos acham, mas uma verdadeira filosofia que busca trazer, para nossa consciência, aqueles conteúdos que as forças da vida recusaram e ocultaram. É quase o mesmo processo da nossa velha Psicanálise. O objetivo não é explorar e descrever o mundo visível, mas aquilo que se encontra inconsciente.
A principal descoberta desta filosofia é o Eu, não da forma como o conhecemos no Ocidente, mas sim como entidade permanente, consciente e base da estrutura corporal. E tudo o que normalmente pensamos, conhecemos e expressamos de nós mesmos, pertence à esfera da impermanência, à esfera do tempo e do espaço, ao mundo das formas vazias.
Finalizando, mas o que é que a Índia tem a ver conosco? Nada a ver, se pensarmos em termos de teorias metafísicas, psicológicas, éticas e físicas. Mas, TUDO A VER, se nos lembrarmos que a grande preocupação hindu é, menos do que a informação (da qual já estamos com indigestão), a Transformação, ou seja, uma mudança radical na natureza humana, que possa levar a uma nova visão do mundo, tanto o externo (tão judiado) como o interno (tão negligenciado). O resultado pode ser chamado de renascimento. Ou conversão, quem sabe?

2 comentários:

  1. E "BOTA" CURIOSIDADE NISSO!
    ESTÁ MUITO LEGAL O CAUSO E CHEIO DE SUSPENSE!

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  2. De fato, Jorge,as informações são tantos, na época atual, que o ser humano corre sérios riscos de indigestão. " - O sol nas bancas de revistas... quem lê tanta notícia?..."
    Necessitamos dela , é verdade, mas como necessitamos de palavas amenas...suaves... Palavras que têm a capacidade de chegar ao interior de cada um de nós e pescar ,lá no fundo, o peixe "... um peixe bom eu vou trazer..." que já estava lá há muito à espera de ser encontrado. Palavras, que como gotas de orvalho ( com o calor de hoje eu diria que como goles de água mineral bem gelada ) caem em nossas almas ressequidas e ardentes pelo calor das ilusões e enganos a que somos a cada instante submetidos.
    Todos buscam a Sabedoria... todos caminham para ela, quer pela sua própria conta , quer, como geralmente acontece,impulsionados pela dor.
    O blog de vocês é um convite amavel e sereno a esta busca, na tão agitada vida de cada um. Cada texto tem a capacidadae de acalmar e fazer rir.
    Mas,rir de uma forma gostosa,infantil, benéfica.
    E isto é maravilhoso, pois nos faz renascer. Ele nos mostra ou nos relembra o outro lado da vida ou um outro modo de vida tão diferente do que temos visto na tão idolatrada mídia. Mostra-nos um lado pacificador, humilde, verdadeiro, puro e original, extremamente original, sem modismos e paradigmas.
    Sábado é dia de ler o blog de vocês. Que bom.
    Sua leitura oferece-me momentos de alegria, tranquilidade e me faz muito bem! Obrigada.

    Mika

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