quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O PENSAMENTO



Crônica: Jorge Marin

Pensando sobre o que postar, acabo me deparando com este construtor de dúvidas e sofrimentos: ele mesmo, o pensamento. Tentamos ficar em silêncio e, no entanto, lá está ele, dentro da nossa cabeça, falando em voz baixa, sussurrando preocupações ou lembrando-nos de coisas que, com certeza, gostaríamos de esquecer.
Pensamos que somos indestrutíveis (os adolescentes), ou que somos belos, ou feios, pensamos que somos mesmo aqueles cargos que ocupamos transitoriamente. Ou pensamos que algum dia, no futuro, seremos felizes. Pensamos até em ir pro Céu, vejam só!
No entanto, há um tempo em que não pensamos, ou, pelo menos, não se trata mais desse pensamento verbal a que acabamos nos acostumamos de tão insistente que ele é. Quando somos crianças, bem pequenos, não há pensamentos, não há julgamentos: vivemos o momento presente por inteiro. Se temos fome, choramos. Se temos sono, dormimos. Tudo muito simples, tudo muito reativo. Alguns anos mais tarde, embora já tendo absorvido algumas palavras, a coisa não muda muito: pensamos, se tanto, em nosso videogame, ou naquele desenho animado da TV.
Isto é o que costuma ser chamado de alma de criança, ou seja, antes do pensamento tomar forma e, ao que parece, tomar posse de nossas ações, há um instante em que refletimos apenas aquela essência inicial, ou aquela alma mesmo, se preferirem. Sartre dizia: “eu era uma criança, esse monstro que os adultos fabricam com as suas mágoas.” Mas, podemos, com certeza, refrasear o mestre francês e dizer “esse monstro que os pensamentos fabricaram.”
Em algum momento de nossas existências, abdicamos desta força que nos deu vida, e criamos um mundo virtual, repito: virtual, onde pensamos que somos o importante político, o religioso mais sábio, a mulher mais bela e até o homem mais miserável. E acreditamos nisto!
Mas isto não é real, é apenas a projeção de pensamentos numa tela interna que reconhecemos como sendo o próprio “Eu”. Mas, na verdade, Renato Russo sabia muito bem o que estava cantando quando afirmava que, enquanto queria provar pra todo mundo que não precisava provar nada pra ninguém, “quantas chances desperdicei.”
Ao conduzir o blog, que é uma construção coletiva, visto que os comentários nos remetem a situações novas, percebemos como a representação, ou a re-apresentação de cenas antigas, talvez de um tempo mais próximo da chamada “inocência”, mexem com o imaginário das pessoas e fazem eclodir, às vezes de maneira comovente, aquela força inicial, aquela centelha divina, que nos levava a pular cercas para roubar jabuticaba, ou ir numa Kombi tocar guitarra em Argirita, ou cantar, a plenos pulmões, o hino do Trombeteiros, ou do Democráticos.
Inocência às vezes é traduzida como “estado da alma anterior ao pecado atual” (Dicionário Michaelis), mas, qual seria o pecado atual, ou o chamado pecado original? Segundo a Bíblia, o pecado original foi saborear o fruto da árvore do conhecimento. Mas este conhecimento foi simplesmente quando o homem construiu uma imagem de si mesmo: viu-se nu, e sentiu vergonha. Isto é, afastou-se do jardim de Deus e pensou, e julgou, e sentiu culpa, e medo.
Não quero iniciar aqui algum tipo de debate filosófico, ou, pelo amor de Deus, religioso! O que eu gostaria é que cada leitor do blog parasse, por uns minutos, de pensar, e sentisse... Sentisse as emoções que sentiu quando os fatos que contamos aqui ocorreram. E, sempre que isto acontecer, comentem.
Afinal, voltando ao Renato Russo: “já não me preocupo se eu não sei por quê, às vezes, o que eu vejo quase ninguém vê, e eu sei que você sabe, quase sem querer, que eu quero o mesmo que você”.

Um comentário:

  1. Recorrendo ao artista, não posso deixar de cantar ou melhor lembrar: "- o pensamento parece uma coisa louca mas como é que a gente voa quando começa a pensar" A saudade ainda mora no meu peito e eu, como você, não consigo parar de pensar. Penso, penso e penso. Meu coração ainda pulsa e enquanto ele pulsar continuarei a pensar ,sonhar e lembrar. Isto faz parte da nossa idendtidade.
    Seu texto é ótimo.
    Mika

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