sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CRÔNICAS GALINÁCEAS - NOTÍCIAS DE UM VELHO AMIGO (OU UM GALO A BEIRA DO MEU NINHO)

Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin
Músicas citadas - Erasmo e Roberto Carlos (o Rei)

“Tudo, tudo
se confunde em minha frente,
minha sombra me acompanha
e vê que eu estou morrendo lentamente...”

Roberto Carlos não anda passando bem. De um dia para noite o coitado arriou de vez.
Em principio achamos se tratar de uma simples virose, mas a coisa era bem mais séria que imaginávamos.
Pra vocês terem uma idéia foram-lhe receitadas, por um profissional, cinco injeções de antibiótico, uma ao dia. E intramuscular. Nunca imaginei aplicar injeção numa criaturinha dessas. Pior que de nada adiantou: cada uma que o aplicávamos o coitadinho entrava em nova convulsão.
O bichinho chegou a “falecer” pelo menos umas cinco vezes.
Em duas oportunidades, cavei uma pequena cova ao lado do galinheiro, mas, devido à demora do óbito, sempre voltei a fechá-lo.
Numa dessas convulsões, eu não estava em casa e ele só não foi enterrado vivo, pela Dorinha, porque eu havia tapado o buraca no dia anterior. Ficamos num abre e fecha buraco que tava dando o que falar. Tinha vez que achava estar o coitadinho de sacanagem com a gente.

“Querem acabar comigo
nem eu mesmo sei porque
enquanto eu tiver você aqui
ninguém poderá me destruir...”

Mas, voltando às injeções, comecei, após este fracassado tratamento, oferecer-lhe em jejum, ínfimas porções de geléia real. Pelas primeiras avaliações empíricas, diagnostiquei que estaria somente prolongando seu sofrimento: já não come, não bebe, não canta, não sobe para o poleiro e muito menos na galinzona. Já estou, há várias semanas, duas vezes ao dia, dando-lhe água e papinha de ração no bico. Geralmente faço a papinha usando todas as ervas de minha horta: hortelã, boldo, manjerona, capim cidreira, alfavaca e outros. Sabe de uma coisa: tem vez que chego a pensar se não seriam minhas poções mágicas que estariam matando o coitado. Ah!!! Ontem começamos com Ginko Biloba e, se não der resultado, apelaremos para acupuntura.

“Sei tudo que o amor
é capaz de me dar
eu sei já sofri
mas não deixo de amar
se chorei ou se sorri
o importante é que emoções eu vivi...”

Depois de assistir, dias atrás na televisão, uma reportagem sobre minhocas, não pensei duas vezes. Queira ele, ou não, pelo menos umas duas ou três, irei diariamente enfiar-lhe goela abaixo. É pura proteína, vitaminas e minerais.
Pelo menos, este triste episódio, está servindo para que possamos confirmar o quanto querido é Roberto Carlos. Vários vizinhos, num belo ato de solidariedade, nos procuram dizendo estarem sentindo muita falta de seu cantar. Principalmente de madrugada.

“Não preciso nem dizer
tudo isso que eu lhe digo
mas é muito bom saber
que eu tenho um grande amigo...”

Enfim, verdade seja dita: desde a morte de uma de suas primas carijós, ele vem andando meio cabisbaixo. Também, não podemos esquecer que o bichinho tem mais de onze anos. Coisa raríssima. Principalmente, para a espécie desses dóceis empenados.
Num ato de consolo, já nos preparando para o pior. Encomendamos outra placa para pendurar no galinheiro em substituição àquela que diz “Lar doce Lar”, com os dizeres:
“AQUI CANTOU ROBERTO CARLOS”

“Não adianta nem tentar
me esquecer
durante muito tempo em sua vida
eu vou viver.”

5 comentários:

  1. Sempre gostei muito desses pequenos “empenados”. Cheguei a ter quando criança, quase vinte deles em nosso pequeno terreiro. Realmente cantam uma enormidade e muitas vezes, no meio deles, sempre existe aquele mais assanhado e metido a seresteiro. Ou seja, canta a noite toda.
    E quando chega de viagem um parente ou alguma visita? Aí meu amigo, é somente prendendo o bichinho em algum caixote. Alem da panela, é o único recurso que temos para dar um pequeno alento aos nossos ouvidos.
    Nunca me esqueço de quando, uma de minhas tias, veio dormir aqui em casa. Coincidência ou não, para sua infelicidade, veio escolher justamente aquele quarto que ficava mais próximo ao galinheiro. Coitada! Ainda de madrugada sem mesmo ter o dia clareado, eis que levanta ela da cama descabelada, dizendo desesperada, e já com o travesseiro debaixo do braço, que era preferível dormir na rua que a sujeitar novamente encarar uma noite ao lado de nosso galinho Roberto Carlos.
    Na verdade nunca tirei a razão dela, pois verdade seja dita: O danadinho, de dez em dez minutos, numa disciplinada serie de quinze cacarejadas, passava a noite inteirinha cantando.

    ResponderExcluir
  2. Pura verdade! Tem uns galinhos desses que são mais inspirados e cantam quase que a noite toda. Ou você acostuma com esta rotina ou o negocio é tampar os ouvidos com algodão.
    Zeleno

    ResponderExcluir
  3. Ele já deu trabalho também para a Sarinha. Meu Deus! Era uma loucura! Quando íamos para São João, Sarinha já começava a perguntar:- "e o galinho? vai cantar à noite? Mãe, ele não me deixa dormir!..."
    Então, Serjão arrumava um caixote e o colocava para dormir debaixo dele na tentativa de abafar o som. Mas quem é rei sempre é rei e o canto de Roberto Carlos era ouvido da mesma forma. Sarah começava a reclamar e quanto mais Sarah reclamava, mais Roberto cantava.
    Este galinho não foi fácil! Era como se dissesse: este terreiro é meu; aqui mando eu e eu canto a hora que bem entendo.
    Mas eu gostava... Gostava muito de ouvi-lo. Eram os sons da casa dos meus pais e estar lá com eles era sempre muito bom.

    ResponderExcluir
  4. Realmente uma das características dos garnisés é cantar a noite toda. Se o seu visinho ou mesmo você não for muito bom de sono é melhor pensar duas vezes antes de adquirir um desses.
    No mais descanse em paz Roberto Carlos. Alem é claro, todos aqueles envolvidos. Rsrsrsrsr

    ResponderExcluir
  5. A infância foi uma fase muito bem vivida pelos meus filhos junto com suas penosas de estimação.
    Por sinal, nossa galinsinha adorava passear na garupa da bicicleta alem de ser personagem principal do circo (equilibrista). Junto com seu fiel companheiro Roberto Carlos ainda tinha que manter a forma para brincar de pique pega, ou melhor, pique corre.

    ResponderExcluir

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL