sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CRÔNICAS GALINÁCEAS - MEU AMIGO GAMBÁ

(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Numa das noites mais frias de 1988, ruídos estranhos, na área de serviço de minha casa, me fizeram levantar da cama assustado.
Todos dormiam, enquanto eu, pensando em mil possibilidades, muito a contragosto, levantei-me e, enrolado num cobertor, fui verificar.
Caminhei silenciosamente até a janela, para então começar abri-la lentamente.
Desconfiado e receoso, enquanto ficava a olhar entre as gretas, a expectativa aumentava mais e mais.
De repente... Qual a minha inesperada surpresa? Um gambá! Isto mesmo, um gambá!!!
De uma prateleira da área de serviço, ele ficava a me encarar enquanto, num troca- troca de olhares, nenhum de nós se mexia. O negócio era esperar, quem primeiro recuava.
Nesta altura do campeonato, Dorinha, não menos assustada, já estava em pé, atrás de mim e, com uma vassoura, pedia que eu fosse lá fora pegá-lo.
- É ruim! - disse eu - Este bicho está em extinção! Acredito ser até mesmo uma”gambôa” esperando filhotinho! O que devemos fazer de imediato é: fechar tudo, deixar o bicho quieto lá fora, enquanto pensamos em alguma coisa. Eu mesmo não acreditei nesta minha preocupação ecológica, mas o engraçado é que a Dorinha acreditou. Que bom!
E as pernas tremiam... De frio.
Surge outra personagem, Matheus, que, já acordado, torce:
- Vai pai!... Vai pai!... Agarra ele para ser meu bichinho de estimação!!!
Pedia insistentemente que eu pegasse o bicho pelo rabo e, carinhosamente, o trouxesse para dentro.
Mais uma: Paulinha, vendo a casa toda acesa, também levanta da cama assustada.
- Pai! Esse bicho pega? Passa por debaixo da porta? É parente do rato?
Haja paciência nestas horas, é o que costumam pedir dos pais, geralmente os psicólogos sem filhos.
Para variar, a única coisa que me restou naquele momento, foi acionar, mais uma vez, dona ANA, uma senhora muito esperta que fazia companhia todas as noites para minha mãe.
Era nossa guardiã e profunda conhecedora de causas peçonhentas.
De imediato, atendendo ao nosso SOS, foi logo chegando, dando vassourada para tudo que é lado.
Enquanto acertava tudo em sua frente, menos o coitado, ficávamos assistindo o show pela janela.
Olé!!! Olé! - gritávamos, vibrantes, toda vez que o bicho passava debaixo da perna dela.
Após um desses dribles, nosso intruso, subindo velozmente o galinheiro, passou pelo muro e, no escuro, simplesmente desapareceu.
No outro dia, bem cedinho, mobilizei toda a família e, em mutirão, começamos a fazer uma reforma completa no galinheiro.
Após comprarmos uma infinidade de pregos, telas e madeiras, começamos a trabalhar sem interrupção.
Nossa intenção era que tudo ficasse devidamente protegido, e assim, o gambazão não jantasse as galinhas e o garnisé do Matheus.
O negócio era fechar tudo. Qualquer buraco que tapávamos era motivo de comemoração.
Foram quase dois dias de intenso trabalho, e um final de semana dando martelada a torto e a direito.
Cadeados na portinha do galinheiro e várias armadilhas ao seu redor foram colocados pelas crianças.
Tudo era válido, parecia que estávamos esperando um ataque de elefantes (comentavam alguns vizinhos, admirados).
Já haviam se passados três dias e... o gambazão não mais aparecera.
Na noitinha em que eu estava dando os últimos retoques no galinheiro, mais uma vez, o inacreditável aconteceu.
Meio que sem querer, quando olhei bem em cima do poleiro, num caixotinho que ficava próximo ao telhado, lá estavam os três... Isto é... Os quatro: as galinhas, o garnisé e... o gambá. Dividiam pacificamente o aconchego de um lar, como verdadeiros irmãos.
Naquele momento, me senti com cara de tacho.
Um verdadeiro otário, principalmente quando a Paulinha virou-se para mim e disse:
- Pai!... O senhor, ao invés de proteger o galinheiro, prendeu o gambá lá dentro!!!
Eu, ainda com o martelo na mão, e não acreditando no que estava acontecendo, comecei mesmo foi a dar boas risadas.
Enfim...
O gambazão, tornou-se intimo de todos. Entrava e saía do galinheiro quando bem quisesse.
Tomou conta do pedaço, mas sempre vigiado pelo olhar desconfiado, do pobre garnisé.
Numa bela tarde, quando ninguém mais esperava, eis que, de repente, partiu telhado a fora, meu amigo gambazão, deixando saudades, para nunca mais voltar.
Lembrando-me de um velho ditado que meus pais diziam – “um gambá cheira o outro” – nunca deixei transparecer esta tristeza pela partida do colega, mesmo sabendo que esta amizade não poderia mesmo cheirar bem.
NA PRÓXIMA SEXTA: a crônica final, com muita ação, suspense e, principalmente, muita confusão. Pela primeira vez será mostrada a ambiguidade sexual entre os anatídeos aquáticos, ou seja, a bichice entre os patos. De Donald a Margarida vai mostrar a cruel realidade das patologias. Não percam!

4 comentários:

  1. Só mesmo tomando todas, igual ao Gambá, pra dormir ao lado deste garnisé cantador! Rsrs

    ResponderExcluir
  2. Fico só imaginando se Gambá pensasse:
    “É ruim comer um galo desses! To fora! Fui!”
    Zeleno

    ResponderExcluir
  3. Coitado do gambasão! Da pra entender perfeitamente o porquê dele ter deixado saudade pra nunca mais voltar.
    O negocio era ficar bem longe desse garnisé.

    ResponderExcluir
  4. Coisas do quintal do Serjão, quem poderá explicar? Eu não posso. Mas que as histórias são ótimas,ah isto, ninguém pode negar.
    E verdadeiras!
    Vou ao texto do Jorge e não tem jeito: diante desta do gambá eu não consigo parar de pensar.
    E penso: - o que será que se passava na cabeça daqueles quatro amigos? Como se deu a aproximação ou amizade? Muito estranho... muito estranho...
    Talvez a harmonia existente na família do Serjão e Dorinha tenha influenciado a união dos bichos e isto, apesar das tentativas de vassouradas da Ana. Acredito até que Ana fingia que queria acertá-lo e ele, bicho esperto... percebeu.
    Questão de sentimentos... Tá explicado?
    Beijões da Mika

    ResponderExcluir

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL