quarta-feira, 9 de setembro de 2009

PYTOMBA NA OREIA


ACHANDO BELCHIOR

Pytomba na Oreia é uma seção que pretendemos manter fixa aqui no blog com o objetivo de divulgar as impressões de uma determinada pessoa - um componente do Pytomba, ou um seguidor, ou um leitor do blog – a respeito de uma obra musical. O que se busca, mais que informações do artista ou da banda em foco, são as emoções suscitadas no ouvinte, é o reviver de uma época via impressões sonoras, verdadeiras notas de viagem que poderão ser partilhadas com uma geração que vivenciou aqueles momentos ou, por outro lado, com aqueles que sequer ouviram falar daquele LP. LP? Isto já dá tema para discussão!
Vou iniciar, falando sobre uma composição do Belchior, que reflete, de forma fascinante, o fenômeno que ocorre em nosso blog. A música é “Velha Roupa Colorida” e está no álbum “Apenas um rapaz latino-americano”.
Como muitos que viveram a juventude na década de 70, Belchior surgiu como uma novidade entre os compositores da época, e também com uma particularidade: não era tropicalista, nem regionalista, nem o famigerado artista “de protesto”. Apesar disto, trazia, em suas canções, as guitarras características do tropicalismo, convivendo harmonicamente com pífanos e flautas nordestinas, em mensagens relatando toda a angústia dos chamados “anos de chumbo”, como na música “A palo seco”:
“se você vier me perguntar por onde andei (muitas emissoras estão perguntando isto nestes dias!) / no tempo em que você sonhava / de olhos abertos lhe direi, / amigo eu me desesperava / sei que assim falando pensas / que esse desespero é moda em 73 / mas ando mesmo descontente / e desesperadamente eu canto em português...”.
Mas, e a relação entre a música “Velha roupa colorida” e o blog?
Desde “O princípio do início”, lá no comecinho do blog, quando falamos sobre uma noite dos anos 70, em São João Nepomuceno, muitos leitores se manifestaram, lembrando “como era bom aquele tempo” e sobre a saudade que sentiam. É como se, revivendo os momentos da adolescência, fosse possível – e é – se sentir estranhamente mais jovem.
Belchior canta: “você não sente nem vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança, em breve, vai acontecer. E o que há algum tempo era jovem, novo, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer”.
Assistimos, no Ocidente, uma apologia da “eterna juventude”, como se o grande objetivo das nossas vidas fosse apenas este: manter-se jovem a todo custo, seja através da cosmética, das plásticas, ou das pílulas. Enquanto, no Oriente, a novela mostra que o grande valor está na eterna sabedoria dos idosos. Mas, afinal, qual das duas atitudes é mais ridícula, vetustas senhoras posando de top model, ou políticos jovens pintando a barba de branco para parecer um autêntico brâmane?
Belchior, que é de 1946, confessa: “nunca mais eu convidei minha menina para correr no meu carro (loucura, chiclete e som)”, mas parece conhecer a geração pytombense, quando zomba de nós: “nunca mais você saiu a rua em grupo reunido, o dedo em V, cabelo ao vento, amor e flor, quero cartaz.”
A resposta ao dilema sobre ser eternamente jovem ou assumir a velhice, parece estar em... simplesmente viver a vida! Sabemos o que fizemos: fizemos coisas maravilhosamente loucas e lindas e um outro tanto de besteiras das quais nos lembramos igualmente. As consequências destas escolhas resumem o que somos hoje. Belchior diz: “no presente, a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não serve mais”, mas, com certeza, quem nos viu, alegres, em grupo, cantando, brincando, detonando bombas ou perseguindo discos voadores no campo de aviação, jamais se esqueceu daquelas caras, daqueles cabelos, e daquelas velhas roupas coloridas.

(Texto de Jorge Marin)

2 comentários:

  1. Jorge, a sua escolha para a inauguração deste tópico do blog foi oportuna e merecida. Realmente Belchior é, com certeza, um dos nossos grandes músicos, além de um grande poeta. Como você mesmo disse, ele consegue dosar maravilhosamente vários estilos numa só canção, sem confundir ou cançar a quem ouve. E as letras? Sem comentários! Pena que ele tem passado por problemas que ainda não sabemos direito do que se trata, mas certamente, dentre eles está um processo depressivo por ter sido esquecido pela mídia e pelo brasileiro, que se identifica mais com "garrafinhas", "Lacráias" e "popozões" do que qualquer outra coisa em que se torna necessário usar o cérebro! Parabéns pela escolha! Abraço.

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  2. Em tempo, para quem quizer obter este disco do Belchior, ou qualquer outro, "DIGRÁTIS" e se ainda não sabe como, é muito simples: Coloque na busca do Google: O nome do artista, mais o nome do disco, mais a palavra "blogspot".
    Assim o Google lhe mostrará sómente os blogs de download de músicas, valeu? Quando você não quizer um disco específicamente e sim uma coletânea, colocar na busca: o nome da banda ou cantor, mais "best hits collection blogspot", e pronto. Divirtam-se!..

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