sábado, 13 de junho de 2009
ÚLTIMO SHOW - QUANDO NEM SAL NO SOVACO SALVA!
A apresentação mais importante, desta nova fase, foi a que fizemos nos Trombeteiros em 1978. Foi o último show ao vivo do grupo, apresentando a nova formação, juntamente com canções e instrumentais de nossa própria autoria. Paulinho Manzo estreou nos efeitos especiais, Jorge na apresentação e textos e o Godelo na gravação que, na ocasião, foi uma sensação, por ter sido feita num gravador de rolo. Renatinho, além de responsável pelos efeitos especiais, ainda ficou atrás das cortinas soltando bolhas de sabão. Zé Neli mostrou sua classe na bateria e Bellini arrasou nos vocais.
Como sempre, alguns fatos marcantes e engraçados aconteceram nesta apresentação sendo que o principal foi termos, pela primeira vez numa ação inédita e ousada para a época, juntado toda aparelhagem da cidade, ligando tudo em série, o que nos deu uma incrível potência.
Também algumas brigas e desentendimentos marcaram o último ensaio fazendo com que quase tudo fosse por água abaixo, faltando apenas um dia. Neste ensaio, alguns componentes mais exaltados disseram que não iriam mais tocar. É o tipo de stress que imaginamos que aconteça com o Pink Floyd, por exemplo. Por que vocês acham que tem sempre um componente saindo do grupo? Já nos Rolling Stones não acontece, porque eles tocam tão chapados, que acham que estão tocando sozinhos.
No dia do show, o Serjão ficou tão ruim – nem sal no sovaco resolveu – que, alguns minutos antes de entrar no palco, já ia embora tranquilamente para casa. Felizmente, foi interceptado pela turma, em frente aos correios. Chegou escorado no clube e, na hora de subir ao palco, colocou o violão no ombro e, ainda escoltado com um componente de cada lado, ainda socou o instrumento numa pilastra. Tudo sob alegria e risos da platéia que já gritava havia horas, pelo começo do show. Este, por incrível que pareça, foi um sucesso. Seguem-se trechos das introduções (textos/poesias de Jorge Marin):
Ode à primavera: uma flor é sempre uma flor / e não existe nada mais bonito / mas um conceito é sempre rarefeito / se lhe faltam raízes / matam-se hoje mais árvores / do que soldados em ambas as grandes guerras / mas ninguém chora por elas / multiplicam-se as plantações de chaminés / em todas as cidades do mundo / colibris são colocados / em catálogos de animais em extinção / e as borboletas nada mais são / que personagens de alguma historinha infantil / aí eu tomo uma coca-cola / e vou assistir dineylândia na televisão / mas sei que / enquanto o progresso continuar / numas de anticoncepcional / ela não virá...
Flores Mortas (letra – Jorge Marin / música Renê Ladeira) : Deve existir algum lugar /
que tenha céu ou sol / deve existir algum planeta / bem melhor que o seu...
Às vezes penso / que essa gente não onde ir / ao alto eu ergo os olhos / na esperança de rever / e às vezes até choro / ao contar o tempo / nesta terra de Deus / e nossa também.
Ando por toda a parte / corro sem rumo / temendo a morte / vilas por onde passo / deixo a incerteza / e o medo no ar...
Assim eu me vou / contar histórias ao vento / dormir ao relento / e acordar / dormir ao relento / mas acordar.
Cópula: eu vim / de camisa verde / e lua branca / cheguei / e até o vento / tinha cor de lua / abri o bolso / tirei a chave / fechei o bolso / abri a porta / fechei os olhos / junto com a porta / e sentei na cama / com cara de tonto / não acendi a luz / nem apaguei a lua / não acendi o cigarro / nem tomei café / e fiquei ali / de mão no queixo / pensando / ou tentando imaginar / quantos estariam / neste instante / de mão no queixo / pensando / ou tentando imaginar / abri a janela / e tirei os óculos / para ver melhor / as luzes da cidade / fechei / não a janela / mas os olhos / lembrei do tempo / em que eu era poeta / e falava até em amor / chorei lágrima e meia: / três lágrimas cor-de-lua / em travesseiro de algodão / me encolhi sob o cobertor / e fiquei contando pastorinhas / pois já era tarde / e os carneirinhos haviam adormecido...
gen nini (letra – Jorge Marin / música - Renê Ladeira): vejam-se mais puros / belos lírios d’água / transem toms & jerrys / sinfonias tolas / vejam-se em espelhos / células cansadas / voem as paraíso / qual crianças belas
belas não tão sérias / prosas muito prosas / são ninos ou ninas / algo os cataloga / futuro-semente / rosa ou espinho / rindo rindo sempre / em lindas brincadeiras / miniuniversos / pedaços de vida...
O sheik Milk: vou chorando penas de ganso / e galgando a montanha de baunilha / o sol é um drops de hortelã maduro / mas as minhas pegadas / só irão se apagar na primavera
à minha frente ainda restam / alguns resquícios de café morno / o norte continua a bombordo /
mas o velho oeste é um travesseiro pleno
já fazem quatro luas / que meu camelo morreu / e oito que eu avistei / o último minarete / devorei todas as miragens / e minhas previsões estão no fim / mas eu preciso encontrar a flor de lótus
são onze horas / e um dinossauro está devorando seu hambúrguer / à sombra de um paliteiro / os ponteiros de meu relógio / tiveram um filho / que gosta muito de correr e brincar
e eu retiro / meu turbante vermelho / para cumprimentar pastora de olhos de topázio / o corpo dela parece uma coca-cola média / mas tem gosto de cor-de-rosa / aí eu paro para fazer a sesta...
Rosa de Jericó (letra – Jorge Marin / música - Renê Ladeira): hoje eu quero uma flor / com espinhos sem cor / pra falar a você da paz / e mostrar que eu sonhei demais
abra a sua mão / pegue uma flor sem cor / fira-se e com seu sangue / tinja a sua flor / abra sua cabeça / sinta o universo / saia de suas trevas / e leve a todos a luz
hoje eu quero uma flor / com espinhos sem cor / vem meu discípulo / preciso de você
eu quero ver / a ablução universal / com muita paz muita vida / e irmãs liberdade / e a razão / eu sei que sou / um sonhador a mais / dono de sonhos encantos / canções ilusões / e uma flor...
Passantes: olhem esses jovens velhos / sonhando nos bancos das praças / olhem esses demônios / tão angelicais / com suas barbas por fazer / vejam esses tontos / tateando seus cigarros / ouçam seus sorrisos nervosos / e compreendam seus conflitos
os jornais decretaram paz no vietnã / os beatles estão fumando charutos importados / e aqui na terra o futebol vai bem / mas não se fazem poetas como antigamente / pois já é permitido proibir / ou melhor dizendo é proibido permitir / que se fale em coisas grandes / e a poesia contemplativa / se reduz à sua primeira sílaba / pó / enquanto aos jovens mais novos / só lhes resta sentar junto aos altos muros / a ouvir os menestréis do harlem / pois é permitido não saber inglês.
Canto livre (criação coletiva - Grupo Pytomba): e a neve se foi / sol voltou / a colorir / cada flor / brisa veio trazendo / u’a canção / vou procurar amor / e depois chorar de manhã / se o dia está alto / eu me vou / a galopar pelos campos / brisa já vem trazendo / um urbano som / vou procurar a flor / e amanhecer em paz...
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E como não recordar desta super apresentação nos Trombeteiros em especial a performace do Beline? Sua vibração e entusiasmo era pura energia que sobre focos de luzes nos contagiava em cada canção.
ResponderExcluir(Fã clube da Bela)
Um grupo que surgiu do nada e do nada deapareceu. Só sei que esta rapaziada viveu intensamente cada momento.Fico feliz em saber que ainda continuam pessoas maravilhosas e de bem. Muito bacana o Blog e obrigada por continuarem nos divertir.Tive a honra de estar com voces em muitos lançes.
ResponderExcluirUMA GRANDE ADMIRADORA
Relendo os textos da ultima apresentação pude sentir a grande visão e a consciencia ecologica que o grupo já possuia a 30 anos atras. E eu estava lá!!!!!!! Parabens!!!!!
ResponderExcluirDorinha
Nesta apresentação nos Trombeteiros viajei de montão nas musicas instrumentais.Agente curtia pra caramba.E como não poderia deixar de ser a Bela era um show a parte.
ResponderExcluirParabens pra todos. Estarei atento a cada semana.
Sonia
Saudades de tudooooooo!!!Até desta arvore que aparece na foto........
ResponderExcluirFernando
Tambem curti muito as musicas instrumentais e um fato pitoresco não esqueci quando eram anunciadas:
ResponderExcluirInstrumental 01 de renesinho e serjão
Instrumental 02 de renesinho e serjão
instrumental 03 de renesinho e serjão
intrumental 04 de renesinho e serjão
Mas finalmente o instrumental 05 era de? serjão e renesinho!!! risos!!!!!!
Tempo bom que não volta mais,é assim que vejo hoje.Mas a lembrança boa fica é isso que importa.Pena que aquele sonho acabou e hoje vivemos cada um do seu jeito,mas tenho certeza que as histórias está sendo passada para as pessoas que dão risadas.Abraços Mary ex-magrela
ResponderExcluirNossa....imagino pela época o impacto de gravar um show ao vivo...
ResponderExcluirAdorei a comparação com o Pink Floyd e Rolling Stones..rsrsrsrs
Serjão, Serjão! Até bêbado fazia sucesso! rsrsrsr
Adoro este blog...muito bom!
e parabéns pelas músicas...queria ter a oportunidade de ouvi-las.
abraços
Engraçado!
ResponderExcluirComentaram sobre tudo,
menos sobre a qualidade das letras!
Parabéns Jorge!
Você é de fato um poeta!
Queríamos conhecer mais criações sua.
Porque não posta algumas pra gente?
Abraço