quarta-feira, 12 de setembro de 2018

PRÓXIMOS DISTANTES



Essa ilustração, em que vemos uma família reunida para visitar a vozinha, além de retratar fielmente uma realidade, nos leva a uma breve reflexão. Na simplicidade da imagem observa-se nitidamente que, se o aparelho celular chegou para aproximar aqueles que estão longe, em certas ocasiões veio também distanciar aqueles que estão próximos.

Não que eu tenha alguma coisa contra essa revolução tecnológica tão útil, mas é desagradável depararmos com um grande amigo que não vemos há anos, e sermos privados de um simples aceno. Possivelmente, um bate-papo com alguém que poderia até mesmo estar do outro lado do planeta nos colocaria também, naquele momento, a centenas de quilômetros um do outro. Trocando em miúdos, aqueles que se encontram próximos acabaram mesmo é ficando relegados a um segundo plano. Não tardará o dia em que teremos que fazer uma chamada para conversar com amigos que se encontram do outro lado da rua. 

Até em videogame, máquina fotográfica e outros babados mais, essa grande invenção foi transformada, e, se observarmos bem, é muito comum encontrarmos pessoas flutuando pela calçada, caminhando distraidamente de olhar grudado na telinha. Já vi gente caindo em buraco, trombando em poste, quase atropeladas ao atravessar uma rua e até mesmo entrando em um orelhão (alienação total!). É o físico desfilando pelas ruas, enquanto a consciência vai viajando pelo ar.

E as intimas conversas pessoais que nos são confidenciadas, ou melhor, nos são empurradas ouvidos adentro? Isso acontece a todo instante, seja em esquinas, praças, velórios, festas, restaurantes, banheiros etc.etc.etc. E tudo em alto e bom som!

Também desagradável é quando temos que interromper uma conversa com pessoas que estão a pouco mais de um metro de distância, para dar lugar àqueles que se encontram lá em Bagdá? E tudo sem que o dito intruso virtual venha, pelo menos, nos pedir licença. 

Geralmente, ficamos com cara de bundão, enquanto a esperar novamente nossa vez, vemos simplesmente ir embora um precioso momento escutando conversa dos outros, ou melhor, somente a réplica

E as famosas saidinhas para atender uma chamada? De que adianta afastar o corpo, se a intimidade é propagada em alto e bom som pelo ar?  

Certa vez, teve uma senhora que, após se posicionar repentinamente ao meu lado na calçada, perguntou-me se não havia me esquecido de desligar e tirar as bananas do forno. No impulso, ainda cheguei a responder: ─ Bananas? ─ Só aí que fui perceber que a conversa não tinha nada a ver comigo.

Surreal mesmo é quando passamos por um local, quase sempre com wifi, e nos deparamos com dezenas de pessoas sentadas lado a lado de cabeça baixa e de olho grudado na telinha. Muito comum ali ficarem por um bom tempo sem uma única palavra para com aqueles ao seu lado.

E assim, dez anos após ter escrito esta croniqueta, confesso ficar sempre admirado quando me deparo com reportagens na TV, artigos em jornais, revistas e afins, alertando sobre os excessos de alguns para com seus aparelhos, e dos muitos males ou mesmo DEPENDÊNCIA causados por eles. A cervical que o diga!

No mais, se o trem é bão mesmo, não custa nada lembrar que prudência e canja de galinha não irão fazer mal a ninguém.

Crônica: Serjão Missiaggia



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