sexta-feira, 28 de setembro de 2018

NINGUÉM NASCE MAMANDO



─ Ninguém nasce mamando.


A frase, dita numa reunião de pais, causa um certo desconforto entre mães que, geralmente, são maioria nesse tipo de encontro.

É que, ouvindo todo aquela discussão a respeito da OBRIGATORIEDADE de fazer os filhos felizes, acabei esquecendo um pouco a minha discrição e “chutei o balde”.

E por que é que ninguém nasce mamando? É porque a vida é NATURALMENTE doída. Viver dói. O nascimento é um momento de dor. Para a mãe e para o bebê.

Acostumamo-nos, talvez com os filmes da Disney, a achar que a natureza é maravilhosa. Que, se levarmos uma vida totalmente natural, seremos felizes com certeza.

Mas não é o que acontece. Este é um planeta com gravidade, ou seja, se você jogar uma pedra para cima ela cai de volta na sua cabeça. Além disso, temos um grande repertório de superfícies cortantes, quinas para bater com a canela, desníveis, animais peçonhentos, vírus e bactérias terríveis. Isso sem falar nos animais ferozes, nos da nossa espécie que são violentos e também dos terremotos, tsunamis, vulcões, furacões e salários de aposentados.

Logicamente não vamos entrar naquela onda de que "nascemos pra sofrer", porque isso é conversa de conformista e de histérico. Nascemos para viver. E viver plenamente. Só que a vida demanda uma certa quantidade de trabalho para ser vivida.

O que eu quero dizer é que, na inércia, é muito mais fácil sofrer do que ser feliz. Então, quando vejo esse tanto de gente querendo fazer o outro feliz, fico muito preocupado.

Primeiramente porque, diferente da dor, que pode ser causada de fora pra dentro, a felicidade não funciona dessa maneira. Você pode até fornecer alguns facilitadores, como drogas, sexo, conforto e outros, mas nada disso será capaz de CAUSAR felicidade. No máximo, um barato legal, que logo logo se dissipa.

Participantes barulhentos de um longa (ou nem tanto) fila cujo resultado final é INEVITAVELMENTE a morte, passamos muitas vezes nosso tempo de espera tentando provar para um público, real ou fictício, que somos muito, mas muito felizes mesmo. E bem-sucedidos, belos e fodões, quando, na realidade, somos, fora das redes sociais, medrosos, inseguros, mesquinhos e insatisfeitos.

A vida começa com um tapa na bunda. Mas só se a pessoa já não nasce chorando.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : disponível em https://newbornbaby.win/baby-crying/


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