sexta-feira, 21 de setembro de 2018

FILHOS DESAJUSTADOS



Tenho corrido de política como o diabo da cruz. Não que eu seja apolítico, ou daqueles que dizem “eu não vou votar em ninguém porque ninguém presta”. Quanto a isso me considero até otimista. Se é mesmo verdade que ninguém presta, esta é a hora de mudarmos totalmente a cara dos nossos representantes. E, se não mudarmos, então a responsabilidade será inteiramente nossa.

Mas a minha evitação da política tem sido quanto ao debate. Agora idoso, faltam-me estupidez e falta de educação que têm sido uma tônica nas discussões. Ainda assim, gosto de acompanhar as falas dos candidatos e até aceitado a oportunista amizade de alguns no meu Facebook, só pra ver o nível da campanha, mas confesso que me falta também a paciência para ler aqueles textões de promessas.

No entanto, a declaração de um candidato a vice-presidente, na última segunda-feira, me tirou um pouco do sério. Disse ele que as famílias POBRES “sem pai e avô, mas com mãe e avó” são “fábricas de desajustados” a fornecer mão de obra ao narcotráfico.

Ora, minha gente, como sou de família pobre, isso quer dizer que só não sou traficante por sorte: meu pai e meu avô morreram depois que eu já era adulto.

No entanto, tenho muitos parentes e amigos, igualmente pobres, que estão naquela situação de terem sido criados pelas suas mães e avós, seja porque os pais e avôs faleceram, seja porque se separaram de suas mulheres. Dessa turma, que eu saiba, nenhum está no narcotráfico.

Mas o que me indignou nessa fala é porque conheço essas mulheres que foram obrigadas a tomar para si a responsabilidade de criar seus filhos e netos sem seus companheiros, e sabem o que eu acho da maioria delas? Elas foram admiráveis!

Nós, homens, temos a mania de querer enquadrar tudo, explicar tudo, projetar um ideal e querer que os filhos sigam. As mulheres, ao contrário, têm essa capacidade extraordinária de saber exatamente o que é possível e o que não é. Até falam de feitos impossíveis umas com as outras, mas sempre fazem o que é possível. E olha que o fazem com extrema competência!

Dirão que há de se impor limites aos filhos. Essa é a chamada função paterna, e, neste ponto, eu concordo com aquele político: o pai é o responsável por educar, moldar, controlar e limitar. Porém, e isso é muito IMPORTANTE: não é necessariamente o pai-pessoa que tem que fazer isso, nem que seja um homem. A função paterna pode ser exercida por qualquer pessoa na qual o filho reconheça uma figura de autoridade.  

Então, minha gente, muita calma nessa hora. Da mesma forma que exijo respeito à minha mãe e às minhas avozinhas, vamos respeitar as genitoras. Até mesmo daquelas pessoas que acham um ato supremo de macheza desrespeitar a mãe dos outros.

Crônica: Jorge Marin

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