Escuta
só, gente!
Será que,
ao escrever aqui, alguém vai ler até o final e ouvir o que eu tenho pra dizer?
A coisa
funciona assim: imersos em nossos faces,
twitters, whatsapps e outras
mídias, adquirimos o hábito de apenas ler as manchetes. Isso nos leva a avaliar
uma notícia como “Chuva causa deslizamentos em São Paulo” e “Terremoto mata
10.000 pessoas no Dijbouti” com a mesma emoção.
Esse é um
hábito que, A PRINCÍPIO, não causa nenhum problema ou transtorno em nossas
vidas. Só que, com o passar do tempo, começamos a apresentar o mesmo torpor com
as pessoas que nos cercam. Então, se a filha chega da aula e diz que está com a
menstruação atrasada, o máximo que vai arrancar da mãe é um “Ah, tá!”.
Isso
acontece porque, como todas as mídias tentam (e conseguem) capturar a nossa
total atenção, vamos, aos poucos, desaprendendo a OUVIR. Ficamos tão
hipnotizados pelas nossas telinhas de led, que o mundo desmorona ao nosso
redor, e a nossa reação é mandar uma série de “kkkkkkk”s .
Mas, a
coisa não acaba por aí. O trágico mesmo é que, ALÉM DE NÃO ESCUTAR, nós
queremos SEMPRE comentar. Então, quando lemos uma notícia como aquela da morte
do neto do humorista, que morreu afogado numa praia do Rio de Janeiro, a nossa
reação NÃO é, como seria de se esperar, de dor pela perda de um moço cheio de
vida e planos. Ou de empatia com o sofrimento dos pais.
Nada
disso, os primeiros comentários (vocês podem conferir nos jornais) dizem
respeito a questões como “será que ele usava drogas?” ou “será que foi
suicídio?”. Alguns são tão cruéis que chegam a criticar o empenho da polícia em
descobrir o paradeiro do rapaz, dizendo que “queria ver se fosse o filho de um
pobre!”.
Mais uma
vez, esse comportamento macabro e egoísta se reflete em nossos relacionamentos
domésticos. Uma amiga chega em nossa casa e diz que está triste pela morte de
uma pessoa da família. Você, sem escutar o inteiro teor da queixa, logo COMENTA
em voz alta, sem tirar o olho da telinha: “pois eu acho que estou com
depressão!”. Se ela disser “estou tomando erva de são joão”, você,
automaticamente, “estou tomando dois prozacs”. Provavelmente, se ela disser que
acha que também está com depressão, você, ainda sem ouvir, vai dizer que está
com câncer.
E assim
vamos levando a vida, ouvindo o que nossos fornecedores (inclusive de más
notícias) querem que ouçamos, compartilhando com os familiares e amigos o que
eles NÃO querem ouvir. E curtindo a mediocridade.
Crônica:
Jorge Marin
Foto:
disponível em http://www.mundodastribos.com/vicio-em-internet-o-que-fazer.html
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