Tendo dedicado
as últimas postagens à alegria e à felicidade, dizendo como NÃO ser feliz em
2015, e também sobre a ética da alegria, é inevitável a pergunta que recebi via
e-mail anteontem: “então, COMO ser feliz?”.
Tenho
fixado o olhar sobre esse assunto porque parece que a questão, em nosso século,
tornou-se a coisa mais importante da vida. Se, antigamente, preocupávamos em
salvar a nossa alma, hoje parece que o lance é ser feliz, e não apenas ser
feliz agora, mas ser feliz o tempo todo ou, pelo menos, na maior parte do
tempo.
O problema
é que a noção de felicidade para uma pessoa que nasceu na década de 50 é bem
diferente da noção de felicidade para uma pessoa que nasceu no século XXI. No
nosso tempo de meninos, a felicidade era muito ligada à religião: segundo
Cristo, seriam felizes os humildes, os que choram, os mansos, os que têm fome e
sede de justiça, e outros tantos desafortunados.
Fazendo
um corte semelhante àquele do filme “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, vemos hoje
que a felicidade está muito ligada a alguns estágios que o filósofo dinamarquês
Kierkgaard descreveu no século XIX. Primeiramente, o estágio estético: é feliz
quem faz o que quiser, transa com quem quiser, compra tudo o que quiser, noção
muito bem capturada pelos profissionais de mídia modernos que resumem tudo isso
ao poder econômico e financeiro. O slogan para este estágio seria aquele do
filme “curtindo a vida adoidado”.
O segundo
estágio, chamado ético, é o sujeito bom, mas não naturalmente bom, e sim porque
uma pessoa conformada ao condicionamento social. Dessa forma, um exemplo de
pessoa eticamente feliz seria o ecologista politicamente correto. Ou seja,
pessoas que acreditam que, usando a razão, levam um tipo de vida corretíssimo, que
deve ser imitado por todos. É a felicidade encontrada nos livros de autoajuda.
O terceiro
estágio é o religioso. Este se expressa de dois modos: no primeiro deles, a
pessoa segue a religião de forma automática, conectada ao seu livro sagrado,
feliz porque, diz ela, só aquele caminho conduz a Deus, mais ou menos como
aprendemos sobre os fariseus antigamente, ou como procedem alguns crentes
fundamentalistas no mundo de hoje (que até matam em nome de Deus).
O outro modo
do estágio religioso é a desistência, ou o salto no escuro, como diz o
filósofo. É um momento em que, mais do que sacrificar tudo em nome de Deus
(como o fez Abraão), o homem reconhece-se dentro da angústia existencial: um
ser finito, perdido, que só faz o que é possível, e que jamais será absolutamente
feliz, nem obtendo todos os objetos do seu desejo e nem seguindo todas as dicas
do Facebook.
Termino
aqui e prometo não voltar tão cedo a esse tema da felicidade, pois, quanto mais
estudo a matéria, mais descubro maneiras diferentes de ser infeliz.
Crônica: Jorge Marin
Foto : frame do filme Batman, o Cavaleiro das Trevas
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