sábado, 24 de julho de 2010

PESQUISA: UM GAMBÁ CHEIRA O OUTRO?



Na semana passada, no post da Nely, o Serjão pediu que eu conduzisse uma reflexão sobre o motivo pelo qual um gambá cheira o outro. Pensei em partir de uma pesquisa zoológica, mas cheguei à conclusão que isto não se trata da vida dos bichos, já que os tais marsupiais de fragrância incomum NÃO ficam se cheirando. Na verdade, os gambás são animais solitários: é muito comum vê-los atropelados, devido à sua lerdeza longe das árvores. É verdade que eles se cheiram na época do acasalamento, mas este ocorre apenas umas três ou quatro vezes por ano. Portanto, é melhor analisar a frase original, comparando os humanos aos gambás, o que, temos que reconhecer, vai se mostrar muito humilhante... para os gambás.
Pra começo de conversa, gambá bebe, assim como a maioria de nós, humanos. Mas, enquanto o gambá cheira mal, os humanos cheiram bem. E como cheiram! Vai daí que, bebendo e cheirando, acabam por achar que a vida deles só tem sentido se alguém, um outro, reconhecer isso. Vejam que chegamos aqui à uma conclusão muito importante: enquanto o gambá é um indivíduo solitário, vivendo a vida dele, o ser humano é um sujeito e, como sujeito, dependente do que os outros pensam dele.
Há alguns anos, esta dependência era uma coisa que poderia ser classificada de normal: afinal, os filhos se esforçavam para que os pais os reconhecessem como bons, os maridos também se esforçavam para que as esposas os considerassem homens de bem, assim como elas próprias buscavam ser classificadas como virtuosas e boas mães. Mas, da mesma forma que os gambás na estrada, o tempo passa e, com a evolução (será?) dos costumes, já não há mais aquela necessidade de significação paterna, ou seja, não importa muito se, para meus pais, eu sou bom ou não. No entanto, o bicho homem continua dependente de reconhecimento: ele, agora, tem de ser reconhecido como um winner, um grande vencedor, mas também como ético, politicamente correto, magro, jovem e esperto.
Para receber todos estes elogios, o homem necessita estar rodeado de pessoas que façam aquele papel da mãezinha, dizendo que ele é gostosão, cute cute, coisa linda, fofolete e estas coisas de mãe. E, geralmente, arrumam uma mulher (que, por sua vez, também tem que ser vencedora, ética, correta, magra, jovem e esperta) para ficar, sempre que o bonitão quiser, recitando aquela ladainha que, vamos combinar, fora dos cueiros, é uma tremenda chateação.
Mas, também conforme os gambás, a coisa começa a não cheirar bem, no momento em que a pessoa descobre que este outro começa a dar sinais de cansaço, pois ficar enchendo ego é pior do que torcer pra seleção que tem técnico burro: é unir o inútil ao desagradável. Aí a coisa pega porque, antigamente, como diziam as nossas avós, este papel de “levantador” era uma função eminentemente feminina, e as mulheres se compraziam em encerar, com suor, o assoalho onde os maridos iriam passar. Mas hoje a coisa não é mais desse jeito e as mulheres começam a querer, vejam que petulância, a ser tratadas e significadas como fantásticas, absolutas, jolie (angelina) e, claro, magérrimas.
Gambá vai, gambá vem, e todo este ti-ti-ti desemboca num conflito de egos que pode parecer engraçado, quando colocamos desta forma, mas, na dura realidade do dia a dia, tem culminado com uma verdadeira caça às mulheres. É um desportista que mata a amante, é o advogado que mata a ex-namorada, além do adolescente que, rejeitado por uma ficante de dez dias, vai lá e dá um tiro na cara da garota.
Tudo isto é muito preocupante, porque parece que as relações estão sendo pontuadas, nos dias atuais, por uma necessidade cada vez maior, de reconhecimento, mas, ao mesmo tempo, por um antagonismo que beira a esquizofrenia: é muito comum estes perpetradores afirmarem a frase “se ela não ficar comigo, também não vai ficar com mais ninguém”.
Vamos nos tratar, gente! Porque, se nos escandalizamos com tudo isto, é bom saber que esta pessoa que está ao nosso lado não tem, absolutamente, a obrigação de nos esperar, de nos olhar, de nos desejar, ou de se deixar seduzir, ou servir de guia, ou nada. Porque esta pessoa que nos ouve, ou fala conosco, é somente uma pessoa: não uma escada, ou um altar, ou um pódio. No fundo, no fundo, sempre estivemos, e estaremos, sós. Assim como nosso querido amigo gambá, vivemos sós. É lógico que podemos nos reunir para interesses comuns, como acasalamento, por exemplo, que pode até ser uma excelente oportunidade para exercer a arte da convivência. E mesmo o estabelecimento das bases para um amor verdadeiro.
Enquanto isto não acontece, vamos ficar atentos. Não somos tudo isto que pensamos, mas também não somos pouca coisa. Além disso, dizem, há um Deus do nosso lado, mesmo para os que têm fé de menos, ou até para o gambá, que fede mais.

(Crônica – Jorge Marin)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL