Há
algumas semanas, o Serjão publicou aqui no BLOG uma crônica chamada AMAR que,
na época, eu chamei de hino tal a qualidade do texto e a carga emocional do
conteúdo. Trocando ideias com alguns leitores, classifiquei o trabalho de
altamente subversivo.
Explico:
nos dias atuais, vocês imaginam um jornal ou revista de grande circulação com
uma manchete do tipo “aproveite a vida e viva feliz”? Ou “amigos músicos se
encontram para tocar violão e cantar”? No entanto, “amigo é baleado por outro
na saída da balada” é manchete na certa! Aliás, esta foi uma manchete da semana
passada do jornal O Globo.
Então,
o que é isso que acontece com a gente que faz com que AMOR não seja matéria de
primeira página, e sim o ÓDIO? Para entender, tentem publicar, como nós
fazemos, algumas postagens no Facebook, com a foto de alguma paisagem ou alguma
cena romântica. O máximo que vão conseguir de comentários é um “legal”, ou
“kkkkk”, essas coisas. No entanto, se publicarem algo do tipo “sou a favor da
pena de morte no Brasil” ou “pela redução da idade penal”, qualquer uma das
duas postagens terá, no mínimo, uns cinquenta comentários, a maioria deles
irados. E mais: culpando alguém e dando lição de moral.
Isso
acontece porque é muito mais fácil unir as pessoas através do ódio do que do
amor. Jesus Cristo, quando foi submetido ao julgamento popular, foi, não apenas
preterido na escolha com Barrabás, como agraciado com gritos e mais gritos de
uma galera ensandecida dizendo: crucifica-o, crucifica-o!
No
entanto, se perguntarem a nós, sanjoanenses de primeira hora, se há muito ódio
na cidade, responderão: “imagina, somos um povo humilde, ordeiro, hospitaleiro
e manso”. Ou seja, o ódio está sempre nos outros, lá no Rio, ou no Afeganistão.
Talvez
essa dificuldade de aceitar o ódio, o nosso próprio ódio, aquele que irrompe
quando uma pessoa passa na nossa frente na fila, ou quando um maluco nos dá uma
fechada no trânsito, ou mesmo quando um motoqueiro detona o nosso espelho
retrovisor, aí nessa hora dizemos que, absolutamente, somos criaturas isentas
de ódio.
Mas,
por que adoramos sentar horas em frente à televisão para assistir UFC,
baixarias no BBB, ou grosserias nos programas de pegadinhas dito humorísticos?
Sobre as preferências políticas, então, não vou nem me manifestar pois, como
são 50 milhões de cada lado, vou passar num corredor polonês levando pancada
por todo lado.
Esta
crônica é apenas para nos lembrarmos disto: cada um de nós tem em si, além da
alardeada e incensada capacidade de amar, também: ódio, raiva, inveja, ciúme e
grosseria. Reconhecer isso não significa que se deva exercitar todas essas
emoções. Mas é um exercício de humildade, de atenção, de paciência e de
sabedoria.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Sigrun Hectorsdottir, disponível em
Muito boa e verdadeira sua crônica ODIAR. E.M.M. P.
ResponderExcluirMuito boa e verdadeira sua crônica : Odiar. Abraços! EMMP
ResponderExcluirExcelente! Temos mesmo muita dificuldade de aceitar em nós os sentimentos negativos que são tão humanos quanto o amor.
ResponderExcluirGrande abraço!
Sônia.
Tem muita gente que ama odiar (ou talvez odeiem amar)...
ResponderExcluirHá motivos para que a felicidade alheia incomode, quando não nos prejudica?
Obrigado, gente! Essa coisa de encarar o ódio como um sentimento FORA de nós é um obstáculo à nossa capacidade inevitável de mudar o mundo. Ou seja, estando aqui não tem jeito de não mudar o mundo; então, vamos nos conhecer melhor!
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