quarta-feira, 27 de julho de 2016

PAULINHO JÁ VAI ALI


Hoje, enquanto descia a Rua Duque de Caxias (no nosso tempo se falava rua da padaria do Debrando), fui surpreendido por alguém que, após estacionar uma bicicleta bem próxima de mim, deu-me uma rápida cutucada nas costas. Olhando pra trás um tanto assustado, qual teria sido minha agradável surpresa?

Simplesmente, havia acabado de encontrar com uma grande figura. Interessante ressaltar que, mesmo morando na mesma cidade, confesso não me lembrar de quando teríamos nos encontrado pela última vez. Assim, calorosamente, nos cumprimentamos e, após trocarmos breves palavras, continuamos nosso destino. Talvez pelo fato de, naquele momento, eu me encontrar acompanhado, e de ter sentido que, por parte dele, havia também certa pressa, tudo veio a acontecer de uma maneira muito superficial.

Fazíamos parte daquela turminha das boas conversas. Aquela mesma que, entre umas e outras coisas, saía do cinema e aproveitava pra terminar a noitinha batendo aquele papo gostoso na porta da sinuca do Cida ou no degrau do antigo prédio do Banco Nacional. Muitas vezes, sentados naquele banquinho de madeira dentro da referida sinuca, permanecíamos papeando, lendo jornal (geralmente notícias de esporte) ou simplesmente observando algum “cobra” jogar. Futebol, garotas ou mesmo uma fofoquinha básica quase sempre rolavam nos bastidores, enquanto, de “oreia” em pé ao som do velho rádio do saudoso Sr. Cida, ficávamos escutando a transmissão de algum jogo. Por sinal, o “home” era tricolor roxo.

Mas, voltando ao nosso amigo, o considero um expert, quando o assunto é bicicleta. Acho mesmo que tenha até aprendido primeiro a se equilibrar numa dessas do que propriamente andar. Por sinal, ainda hoje, com seus quase “entas” anos, continua sereno, tranquilo e dando suas voltinhas (se é que podemos falar que percorrer 70 km/dia é voltinha!). Segundo suas próprias palavras, tem como recorde 90 km. No mais, uma saúde invejável e vitalidade de adolescente.

Assim, quando o encontro pela rua, de bicicleta é claro (pouquíssimas vezes o vejo andando a pé), procuro, em tom de brincadeira, sempre perguntar:
- Tá indo ou vindo de onde, Paulinho? – o qual me responde rapidamente, esboçando sempre satisfação com minha pergunta:
- Dei uma chegadinha ali na cidade de Astolfo Dutra! Na volta, ainda passei pela serra de num sei onde, entrei na estrada assim assado, contornei o trevo do tal lugar, peguei uma estradinha da direita e “casquetei” pra ali afora. Estou acabando de chegar! - completa ele.

E, dessa forma, vai contando cada detalhe de suas aventuras, ou seja, tranquilo e nunca ofegante, parecendo estar sempre acabando de se levantar da cama. Acho fantástico, original e fora de qualquer padrão que regeria as normas vigentes, seu exótico estilo no pedalar. Alguém de vocês já viu um ser humano andar de bicicleta daquela forma?  Autenticidade pura!

Pra começo de conversa, a posição do selim fica quase a um palmo acima do guidão. O assento fica tão alto que, enquanto seu traseiro segue nos mostrando a direção do céu, suas pernas, esticadérrimas, vão à medida do possível tentando alcançar os pedais. Na verdade, pela inclinação de sua cabeça, principalmente em relação ao traseiro, temos a nítida sensação de que a bicicleta está sempre morro abaixo, mesmo que ainda numa reta. E, dessa forma, quilômetros vão, quilômetros vêm.

Como todos já deverão estar desconfiados, esse meu amigo não poderia ser outra pessoa que não fosse nosso conhecidíssimo Paulinho Javali. Por sinal, figura esta de uma simplicidade ímpar, excelente pessoa e muito divertida. Ouso até a dizer que o considero uma espécie em extinção, e que sua idade caminha diretamente proporcional aos quilômetros pedalados, ou seja, quanto mais “véi” mais longe ele vai.

Mas, foi em função de tudo isso que, carinhosamente, passei a tratá-lo de Paulinho Já Vai Ali, lá, acolá... Sei apenas que não para de ir. E cada vez mais longe!

Seus causos de viagens são muitos. Todos eles leves e engraçados, sendo que alguns já tive até oportunidade de escutar. Contarei noutra postagem.

Crônica e foto: Serjão Missiaggia

2 comentários:

  1. MAS QUE EMOCIONANTE HOMENAGEM! VOCÊ ACERTOU EM CHEIO E NÃO NOS SURPREENDE, POIS SUAS FLECHADAS SÃO SEMPRE CERTEIRAS AO CORAÇÃO. ASSIM SEMPRE ASSIM TUDO EM DECORRÊNCIA DE SEU AMOR POR NOSSA "SAM JAM"! SERJÃO VOCÊ UM DETALHE: PAULINHO NÃO PRECISAVA USAR A ESCADA QUE DAVA ACESSO DA QUADRA DO BOTAFOGO PARA A PISCINA, ELE SUBIA CORRENDO O PAREDÃO CORRENDO. REALMENTE ELE SEMPRE FOI ASSIM E MEU AMIGO PAULINHO "JÁ VAI ALI". ATÉ OUTRO DIA!! PARABÉNS!!!

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    1. José Carlos, o Javali é uma força da natureza: ciclismo, vôlei, parkour (antes deste ser inventado)... nada escapa a essa "figuraça", além de um coração que vai além das fronteiras por onde pedalada. Obrigado por comentar!

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