Seria uma baita injustiça de minha parte se, ao descer desta minha missão fotográfica no hospital e passar ao lado dessa incrível casa, não fizesse uma reverência e um breve comentário sobre ela.
Infinitas
histórias eu teria pra contar, sendo que outras tantas já foram aqui mesmo no Blog
narradas em postagem anterior (A Casa da Tia Irinéia).
Mas,
aproveitando a interessante coincidência de que estávamos nessa mesma época do
ano, ou seja, há 31 anos atrás (hoje estamos em plena Copa das Confederações)
vivendo, eufórica e intensamente, aquela inesquecível Copa de 1982 na Espanha, é
que irei focar meu comentário. E, pra
variar, não haveria melhor lugar para nos reunirmos e assistir aos jogos, que
não fosse o famoso terraço da Tia Irinéia.
De maneira
absolutamente apaixonante e até mesmo um tanto doentia (talvez em circunstância
daquele fantástico time de Zico e companhia), subíamos para o terraço, tomados
por uma forte emoção de patriotismo. Vivíamos numa época em que a situação
política do país era bastante análoga com a que estamos vendo hoje, sendo que, talvez,
em razão da COPA estar sendo disputada do outro lado do Atlântico, certa
alienação da juventude realmente existia. Ao contrário do que estamos vivendo
nos dias atuais, centenas de quilômetros ficavam a nos separar daquela COPA e a
desviar nossa atenção da realidade. (CORRUPÇÃO, GASTOS EXORBITANTES DO DINHEIRO
PUBLICO, ETC).
Mas,
voltando ao terraço da Tia Irinéia, parecia mesmo que estávamos indo para uma
verdadeira guerra, tal era o poderio de nossa pesada artilharia de fogos e
foguetes. Muitas bandeiras, instrumentos musicais, velas, filtro solar e muita
adrenalina faziam daquela laje uma verdadeira arquibancada, pra não dizer,
campo de batalha.
Sinceramente,
não saberia dizer o que mais VIBRAVA, principalmente na hora do gol. Confesso
ainda suspeitar se realmente seríamos nós ou a velha laje da Tia Irinéia. Mas... Que o lugar tremia pra caramba, não
tenho a menor dúvida.
Hoje, diante
de tamanha tecnologia a nos trazer imagens fantásticas recheadas de detalhes (já
cheguei a ver um pequeno inseto na bola), fico a recordar de nossa megatelevisão
de 14 polegadas em preto e branco, que permanecia em pleno sol, com uma imensa
bucha de palha de aço na antena no intuito de se tentar melhorar um pouco mais
a imagem. Isso para não dizer que era expressamente proibido passar próximo a
ela devido às famosas interferências.
Na
verdade, não estávamos nem aí pra essas dificuldades e tudo isso servia apenas para
apimentar ainda mais aqueles encontros e nossa contagiante alegria. Pulos em
cima, promessas em baixo.
E
assim, a cada jogo, embalados pelo compasso daquele timaço, fomos atropelando
cada adversário. Até que o fatídico dia chegaria e com ele aqueles três gols de
Paolo Rossi. Era o Brasil caindo em campo e nós rolando escada abaixo. E lá se
foi nosso belo carnaval dando lugar a um inesquecível silêncio sepulcral.
Lágrimas
nos olhos, bandeiras enroladas e sonhos interrompidos. Descemos o morro e, ao sentarmos
na praça do coronel pra que a ficha pudesse acabar de cair, ainda como se não
bastasse, encontraríamos com nosso saudoso amigo Dolfo. Vindo em nossa direção
com aquele “positivismo” tão peculiar dos Botafoguenses, dizia que a esperança
seria a última a morrer e que estaria indo pra casa esperar o resultado do
exame antidoping do adversário, pois somente assim se daria por vencido,
concluiu ele.
E com ele,
nossa ultima esperança também se foi!
Crônica
e foto: Serjão Missiaggia - junho 2013